CARTA DO PSTU DE FLORIANÓPOLIS: POR QUE NÃO FOI POSSÍVEL UMA FRENTE DE ESQUERDA CLASSISTA E SOCIALISTA NA CIDADE?
Desde fevereiro deste ano, nós, do PSTU, estivemos em
conversação com o PSOl e o PCB com o objetivo de construir uma Frente de
Esquerda Classista e Socialista para a cidade de Florianópolis. Os desafios
para a esquerda classista e socialista são enormes na cidade. E só um programa
que questione os governos, suas políticas e o capitalismo pode ser de fato uma
alternativa para a juventude e classe trabalhadora.
O Cenário Eleitoral de
Florianópolis e os Desafios Colocados
As eleições municipais já polarizam a cidade e é parte da
realidade de todos os trabalhadores, ocupando grande espaço nos bate-papos, TVs
e jornais. Dário Berguer (PMDB), atual prefeito, faz campanha para aquele que
pretende ser seu sucessor, Gean Loureiro (PMDB). César Souza Jr. (PSD), do
mesmo partido do Governador Colombo, se alia com os Amins (PP) e o PSDB de João
Batista para disputar a prefeitura. Outras candidaturas que representam os
ricos e poderosos da cidade correm por fora, como a de Doreni Caramori (DEM). Deles
nada podemos esperar, a não ser mais ataques à classe trabalhadora e à
juventude!
Ângela
Albino do PC do B, que lidera as primeiras pesquisas eleitorais, se apresenta
como alternativa aos candidatos das “elites tradicionais” da cidade, como uma
“novidade”. O importante apoio popular conquistado inicialmente por Ângela
representa uma vontade de mudança dos trabalhadores e da juventude da cidade
cansados das velhas políticas e dos velhos políticos. No entanto, alertamos que
pelos compromissos assumidos com os ricos e poderosos da cidade em nome da
construção de uma campanha eleitoral milionária, a candidatura de Albino não
poderá mudar de fato a realidade da cidade. Não se constrói o novo preso ao
velho.
Lembramos que tanto o PMDB de Loureiro, o PSD de Souza Jr.,
o PP dos Amins ou PCdoB de Angela, que tem o apoio do PT de Dilma, são base do
governo federal. Assim, os trabalhadores e a juventude já podem avaliar a
partir de uma experiência concreta o que significaria uma prefeitura com um
deles eleito.
Dilma vem cortando verbas da saúde e da educação. Desse
jeito, como esses candidatos de fato vão investir mais no social como vão
prometer nas campanhas eleitorais? Dilma vem privatizando aeroportos e até
mesmo os Correios e Hospitais Universitários entraram na lista. Desse jeito,
como vão resolver o caos da mobilidade urbana na cidade, por exemplo, onde o
transporte coletivo obedece aos interesses privados dos empresários do setor?
Dilma se rendeu ao agronegócio, madeireiros e especuladores da terra ao não
vetar o código florestal que eliminou importantes regras de preservação do meio
ambiente. Desse jeito, como vão de fato ter uma política para preservar as
belezas naturais da ilha? Dilma, com as obras da Copa do Mundo, vem promovendo
uma verdadeira contrarreforma urbana com a expulsão de famílias pobres para a
realização destas obras. Desse jeito, como vão de fato combater a especulação
imobiliária da cidade que encarece aluguéis, terrenos e imóveis, expulsando
famílias pobres das áreas centrais ou paraísos naturais de Florianópolis?
Nesse sentido, acreditamos que a Frente de Esquerda deveria
se pautar, em primeiro lugar, na independência de classe, negando qualquer
aliança com partidos da base do governo federal e da oposição de direita a ele,
como também negar qualquer financiamento das empresas e empresários. A Frente
deveria apresentar total apoio às lutas dos trabalhadores e da juventude em
curso e ser oposição de esquerda aos governos federal, estadual e municipal e
suas políticas. Além disso, a Frente, para ser uma clara contraposição às
outras candidaturas, deveria ter um programa oposto ao delas.
As propostas do PSTU de
programa e para encabeçar a Frente de esquerda
Como proposta programática à Frente de Esquerda, apontamos
consignas mínimas que procuram atender aos problemas mais sentidos pela nossa
classe, de um ponto de vista classista e socialista, para serem desenvolvidos,
debatidos e acrescentados com o debate amplo com os partidos e movimentos
sociais ligados à classe trabalhadora dentro da Frente. O programa apresentado
à Frente tinha como linhas gerais as seguintes linhas programáticas:
- Oposição de esquerda às políticas dos governos municipal,
estadual e federal de ataque aos direitos da classe trabalhadora e da
juventude;
- Uma prefeitura a serviço dos trabalhadores que rompesse
com o pagamento das dívidas e a Lei de Responsabilidade Fiscal e que se
apoiasse em Conselhos Populares deliberativos sem a participação da burguesia
para decidir 100% do orçamento municipal;
- Por uma política de responsabilidade social com
investimentos maciços em saúde, educação, moradia e saneamento básico;
- Por uma política de segurança pública que dissesse não a
criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e se pautasse em
investimentos maciços nas áreas sociais e em melhores condições de vida para a
população de conjunto;
- A estatização dos transportes sob controle dos
trabalhadores com redução do preço da tarifa e garantia imediata de passe-livre
aos estudantes e desempregados;
- O combate à especulação imobiliária e ao turismo de
negócios e dos grandes empreendimentos para se preservar as riquezas naturais e
culturais da cidade, avançar para a expropriação dos grandes capitalistas do
setor, incentivar ocupações urbanas e taxar progressivamente as grandes
empresas;
- Apoio às todas as lutas e demandas da classe trabalhadora
e da juventude e inclusive do movimento negro, de mulheres, LGBT, popular e
ambientalista por entedermos como parte da luta da classe trabalhadora;
- O combate à corrupção com o fim dos privilégios dos
políticos e a expropriação e prisão dos bens dos corruptos e corruptores;
Entendemos também que possuir uma cabeça de chapa forte é
fundamental para a frente de esquerda, tanto para fortalecer o debate, quanto
para fortalecer o conjunto da Frente de Esquerda, destacando uma companheira ou
um companheiro com reconhecida trajetória na luta de classes. Nesse sentido
propomos o nome da companheira Joaninha de Oliveira para a cabeça de chapa.
É de uma alternativa
classista e socialista que nossa classe precisa
Não recebemos do PSOL um posicionamento com seriedade sobre
nossas propostas programáticas e de princípios da Frente de Esquerda, como os
critérios de financiamento de campanha, o não cumprimento a Lei de
Responsabilidade Fiscal e a defesa da estatização dos transportes, ou sobre a
nossa indicação do nome da companheira Joaninha de Oliveira para ser candidata
à prefeita na Frente de Esquerda, sendo este um nome coerente para expressar
nossa classe e o programa da Frente, conforme inclusive se aponta do ponto de
vista da viabilidade eleitoral com as primeiras pesquisas eleitorais na cidade.
Também não recebemos dos companheiros do PCB nas conversações da Frente de
Esquerda uma reposta a respeito das polêmicas colocadas, se abstendo na maioria
das propostas. Acreditamos que a construção de uma Frente de Esquerda deve-se
dar com clareza nas propostas e posições para se construir os acordos possíveis
e necessários tendo em vista as demandas mais imediatas históricas de nossa
classe.
Nessa carta lamentamos também a postura da direção do PSOL
de romper a Frente de Esquerda em Joinville depois de frutíferos debates entre
os partidos, a exemplo do que foi a decisão do PSOL em Florianópolis em 2008
que rompeu nas vésperas de inscrever as candidaturas, deixando nosso partido em
delicada situação para viabilizar sua participação nas eleições. As respostas
dadas até agora não nos dão segurança de uma real Frente de Esquerda com
respeito a todos os partidos e nem nos contemplam no entendimento do ponto de
vista do programa e da proposta que o PSOl propõe para a cabeça de chapa da
Frente de Esquerda.
Acreditamos que é necessário a construção da unidade na
esquerda, mas isso exige coerência, paciência e responsabilidade, o que se
expressa acima de tudo nos acordos programáticos que se tem ou não. No nosso
entendimento, o central nessas eleições, é se construir uma alternativa real as
candidaturas tradicionais e que vão ter orçamentos multimilionários para gerar
muitas ilusões nos trabalhadores. Acreditamos que o que não pode faltar nesse
enfrentamento é um programa classista e socialista como alternativa para o
debate aos trabalhadores, conforme esboçado por nós nesse documento. Principalmente
em tempos de crise global do capitalismo e de tão duros ataques a nossa classe,
inclusive no Brasil, o programa das reformas pontuais não é suficiente para
levar adiante a consciência política da nossa classe – o objetivo primeiro e
último de se participar numa eleição.
PSTU FLORIANÓPOLIS – 27/06/2012
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