Afinal, existe crise em Santa Catarina?

Crise? Que crise?! Esse era o mote de uma ufanista campanha na TV promovida pela Assembleia Legislativa Catarinense (dinheiro nosso), alardeando que não havia crise em nosso estado. Esse também, até recentemente, era o discurso do governador Colombo.

Bruscamente esse discurso mudou; agora falam todo tempo em crise para justificar ataques e mais ataques aos trabalhadores, em especial aos servidores públicos. E entre esses, em especial, os da educação e da saúde.

Esse discurso agora passou a ser usado também pelo prefeito de Florianópolis, Cesar Souza Jr. O que é um absurdo total, pois aqui a arrecadação do município continua a crescer embalada por uma grande temporada de turismo ocorrida nesse verão. O prefeito, com a cara de pau que lhe é característica, chegou a afirmar que ele, ao tentar impor reajuste zero ao funcionalismo, estava fazendo o mesmo que ocorre com todos os trabalhadores. Assim tenta enganar a população confundindo reajuste, que é apenas a reposição do que a inflação já roubou, com aumento salarial.

Sabemos que a burguesia, amparada pelos grandes meios de comunicação e protegida pelos governos, usa e abusa dos fatos para justificar seus interesses. Não tem nenhum compromisso com a verdade a não ser com aquela que lhe interessa. Mas o que realmente acorre?


Há ou não crise em Florianópolis e em Santa Catarina?
É verdade que em SC a crise demorou mais a chegar, como mostram os indicadores econômicos. Isso se deve há algumas particularidades de nosso estado. Entre essas a fundamental é a de que aqui há uma excelente mão de obra fabril, altamente qualificada e com salários baixíssimos. São os mais baixos entre todos os estados industrializados do país. Isso proporciona uma margem de lucro enorme para as empresas.

Esses enormes lucros advindos dessa exploração dos operários e operárias é que permitiu que aqui  se mantivesse  por mais tempo uma forte e diversificada indústria local, espalhada por quase todo o estado. São vários polos industriais de diferentes tipos de produção (metal mecânico; têxtil; agroindústria; cerâmico; confecções, plásticos etc.). Mas nos últimos anos nem isso têm sido suficiente para fazer com que essas indústrias suportem os astronômicos juros e a concorrência com os produtos vindos da China.

Outro agravante é a política dos governos federal e estadual que têm sido a de ajudar somente a algumas poucas grandes empresas, especialmente as multinacionais, como a automobilística (BMW, GM), e da chamada linha branca (Embraco, Consul, Bastemp – todas do grupo americano Whirlpool). Das empresas brasileiras, as que receberam bilhões de ajuda do governo se concentram no setor da agroindústria (Friboi, BRF) e no de exportação de matérias primas (Vale do Rio Doce, agronegócio).
  
Assim, a indústria local propriamente esta desaparecendo.  Parte está sendo vendida para multinacionais (Consul, Embraco, Brastemp, etc.), ou para grupos nacionais maiores (Artex, Tupy, Friboi, etc.), mas na maioria dos casos esta mesmo falindo (Busscar, Metalúrgica Duque, Wetzel, Renaux, Sul Fabril).
As poucas indústrias catarinenses que sobraram estão na verdade se transformando em verdadeiras maquiladoras, isso é, ao invés de produzirem aqui, importam da China grande parte de sua produção e aqui apenas empacotam esses produtos e distribuem para o mercado nacional. Isso vai desde as camisetas da Hering, passando por pisos da Porto Belo, até torneiras da Docol.

Assim, com esse nível de fragilidade e de subordinação de nossa economia para com a economia imperialista, seria totalmente impensável que a crise não viesse com tudo também para cá. Os indicadores econômicos do estado são categóricos: no ano passado houve um recuo de 4,1% na economia do estado; na indústria de transformação o recuo foi de ainda maior, 8% . No comércio estadual as vendas despencaram em 10%, queda que superou a média do país. E o pior, o desemprego também começou a aumentar. Nesse ano as previsões apontam para a continuidade desse quadro de recessão o que agravará ainda mais a situação.


Mas então se existe crise e queda na arrecadação os governos têm razão em cortarem custos?


Não, em primeiro lugar é preciso que se diga que a queda da arrecadação é muito desigual de um lugar para outro, sendo que em alguns municípios como o caso já citado de Florianópolis sequer houve queda. O mesmo se repete em Chapecó e outros municípios do Oeste, refletindo a situação particular da agroindústria. Assim, em Florianópolis a política do prefeito de se aproveitar da crise para atacar os trabalhadores fica gritantemente evidenciada pela própria realidade dos dados econômicos.

Mas mesmo a nível estadual a queda da arrecadação é muito pequena em relação aos cortes que o governo promove. O Funcionalismo, só com a inflação, já perdeu muito mais que isso. Então porque arrocham tanto na crise? Para ter mais dinheiro para dar subsídios e todo tipo de vantagem fiscal para esses grandes grupos econômicos, em especial às multinacionais, e para pagar juros aos bancos. Nos últimos anos o estado de Santa Catarina deixou de arrecadar bilhões em “renúncia” fiscal. Isto é, mais dinheiro no bolso dos grandes empresários e menos para saúde, segurança, educação etc. Isso sem falar que indústrias multinacionais, como a BMW, têm todo tipo de regalias e doações para se instalarem, enquanto a reforma agrária e a agricultura familiar, que são as que mais geram empregos, nada recebem.

Então, se há mais crise a grande burguesia quer mais dinheiro do estado, e esse, como é totalmente ligado a eles, tira dos trabalhadores e do serviço público para servi-los.  É por isso que vemos constantemente os grandes meios de comunicação atacar o serviço público, exigindo privatizações, corte de gastos etc.

O que o estado repassa (na pratica é uma doação) aos bancos é tanto que até os governadores hoje reclamam junto ao governo federal algumas facilidades para conseguirem continuar pagando esse roubo. É necessário esclarecer que os pagamentos feitos pelo estado ao governo federal são, na verdade, pagamento para os banqueiros. O governo federal é só o garantidor destes empréstimos e os repassa integralmente para os banqueiros e agiotas.

Dinheiro tem, a questão é para onde e pra quem ele é dirigido.
Por isso: Não ao calote nos servidores e na população;
Dívida que não deve ser paga é a com os banqueiros e agiotas, que já lucraram muito às custa de nossa miséria;
Fim da lei de responsabilidades fiscal; pela responsabilidade social.

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