Quais os Rumos para a UFSC? Uma Proposta de Luta e Socialista!

Quais os Rumos para a UFSC? Uma Proposta de Luta e Socialista!

Por: PSTU-Florianópolis



Desde que veio à tona a Operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal, a UFSC passa por um processo de forte crise política, que tem como origem escândalos de corrupção envolvendo a gestão das verbas do Programa Universidade Aberta do Brasil de Ensino à Distância (UAB-EAD). O reitor da universidade, Luiz Carlos Cancellier, cinco professores e um funcionário celetista da Fundação de Amparo chegaram a ser presos, e soltos no dia seguinte.

Após a morte de Luís Carlos Cancellier foi formada, na prática, uma frente única entre setores de sindicatos de trabalhadores, como as direções do SINTUFSC e da APUFSC, partidos com influência na classe trabalhadora, como o PT, o PCdoB e até o PSOL, setores da grande imprensa, vide os posicionamentos enfáticos do jornalista da NSC TV (antiga RBS), Moacir Pereira, políticos, como o governador Raimundo Colombo, e figuras da cúpula do judiciário catarinense. Grosso modo, essa “frente única” saiu em defesa de Cancellier e de sua gestão, tentando tornar idênticas a defesa da UFSC e de sua autonomia com a defesa de uma gestão notoriamente privatista e corrupta.


Um Balanço da Gestão Cancellier-Alacoque

Numa conjuntura nacional marcada por uma forte crise econômica e grandes ataques aos trabalhadores, a maior parte das organizações de esquerda renuncia a qualquer referencial básico de classe para tomar suas posições políticas. Assim, saíram em defesa do governo Dilma (PT) e, agora, sequer lutam de forma consequente para derrubar Temer (PMDB).

Em Florianópolis, não tem sido diferente. Para defender um retorno da “normalidade” na UFSC, essa frente única estabelecida sem princípios vem apresentando a gestão Cancellier como uma gestão democrática e defensora da universidade pública.

Porém, nada mais falso. Durante sua gestão foi dado continuidade aos projetos de parceria público-privada, de privatização e de manutenção dos interesses das fundações privadas na UFSC, inclusive iniciando tratativas para selar acordos com o Cônsul Geral do Estado genocida de Israel. Acordos estes que visam colocar a estrutura da universidade para apoiar empresas privadas e criava relações entre a universidade e um Estado nazifascista que vem promovendo um extermínio físico de palestinos e os expulsando de suas terras.

Cancellier, antes de ser reitor, atuou ativamente dentro do conselho universitário para que a universidade não emitisse qualquer parecer favorável aos processados do levante do bosque. A gestão de Cancellier recentemente retirou 22% das vagas destinadas aos cotistas negros e indígenas, mostrando que é inimigo das negras, negros e indígenas da UFSC e que, na prática, tem um projeto de mais embranquecimento da universidade ao também negar recursos para a permanência. Além de se serem instaladas comissões de verificação étnico-raciais que constrangem e humilham os estudantes.

O atual escândalo de corrupção, que mesmo com uma investigação inicial descobriu desvios significativos de verbas na universidade, está diretamente ligado à indignação dos trabalhadores e estudantes da UFSC que convivem cotidianamente com falta de recursos de todo tipo: falta de salas, de concursos, de equipamentos, de bolsas-permanências e um longo etc. Se por um lado faltam verbas para as necessidades básicas do funcionamento da universidade, por outro lado, sobra para a corrupção. Isso é inadmissível.

O reitor Cancellier, a vice Alacoque e o atual reitor pro tempore Ubaldo são ligados a um mesmo grupo político que nunca deixou de estar na direção da universidade. Eles são um dos responsáveis diretos pelos planos de precarização e privatização da UFSC que vêm sendo aplicados ao longo do tempo pelos seguidos governos federais. A reitoria de Cancellier, Alacoque e Ubaldo representam interesses opostos e inconciliáveis aos da juventude e dos trabalhadores da UFSC.


Diante da crise de uma gestão burguesa: propor uma saída de luta e socialista

Esta gestão de reitoria chamamos de burguesa, porque sempre se colocou como aliada dos planos da burguesia e do imperialismo para a universidade brasileira e como inimiga dos trabalhadores e estudantes da UFSC. Agora essa gestão está em crise. E o estopim desta crise política foi a operação deflagrada pela Polícia Federal. Mas não se pode abstrair a crise econômica na qual o país e a UFSC atravessam, como um pano de fundo desta crise política na gestão da universidade. A própria eleição de Cancellier em 2015, tinha como objetivo, por um lado, aplicar os planos de austeridade na UFSC e, por outro, enfrentar o ascenso de lutas dos trabalhadores e estudantes na Universidade.

No entanto, diante destes fatos, a maior parte das organizações de esquerda presentes na UFSC, bem como as direções das principais entidades sindicais, tentam fazer um “grande pacto de salvação da UFSC” poupando a Reitoria de enfrentamentos e fazendo sucessivos apelos vazios e abstratos pela unidade da UFSC. Assim como canonizaram um reitor que liderou uma gestão privatista, antidemocrática e corrupta, agora tentam restabelecer uma situação de normalidade que vai resultar num aumento de ataques dos “de cima” contra os “de baixo”, como se o antagonismo entre as classes sociais e seus diferentes interesses não se manifestassem na UFSC.

Na esteira disso, existe a tentativa de construção de uma narrativa de que o “estado democrático de direito” foi atingido e que até “práticas fascistas” foram utilizadas com a prisão do reitor e demais envolvidos no escândalo de corrupção que veio à tona. Porém, mais uma vez a realidade demonstra o contrário. A partir do momento que o escândalo veio à tona a preocupação da reitoria foi de minimizar o caso dizendo na maior cara de pau que eram “só” R$ 500 mil o valor do desvio e nenhuma medida efetiva de investigação real e punição de envolvidos foi tomada. Essa é a gestão inocente?

Isto sim ofende qualquer liberdade democrática e enfraquece a luta por um projeto de Universidade Pública, gratuita e de qualidade. É curioso notar que esta indignação demostrada com a prisão do reitor não existe quando os presos são jovens negros dos morros e periferias brasileiras, como Rafael Braga, preso político há mais de cinco anos. Para isso não existe essa campanha. Para nós, do PSTU, a solidariedade sempre tem classe e raça.

Alguns companheiros e companheiras preocupados com o aumento da criminalização dos movimentos sociais que vem acompanhando o aumento das lutas, tem a legítima preocupação se a prisão do reitor não fortaleceria a polícia federal para criminalizar lutadores e lutadoras em processos como o levante do bosque. No entanto, o maior desserviço que podemos fazer para a luta contra a criminalização de lutadores é associar esta pauta legítima ou a da defesa da autonomia universitária com qualquer tipo de defesa de corruptos. O que sim devemos fazer é não abrir mão de denunciar todos os escândalos de corrupção, de defender todos os lutadores injustamente criminalizados e de denunciar os objetivos limitados da ação da polícia federal que nunca punirá exemplarmente todos os corruptos e nem vai atacar as reais causas da corrupção atual na UFSC (seu processo de privatização).

A saída hoje para a crise da universidade passa pela independência diante da reitoria, das fundações privadas e do governo federal e também pela independência diante da Polícia Federal e de outros órgãos como a Corregedoria Geral da UFSC. Não é momento das entidades, movimentos e organizações representativas de estudantes e trabalhadores na UFSC baixarem suas bandeiras de luta e pouparem a reitoria que sempre atacou o caráter público e democrático da universidade e não vai deixar de aplicar todas as políticas hoje impostas ao conjunto do Serviço Público de ajuste fiscal e de retirada de direitos.

Uma saída positiva diante dessa crise que vive a universidade só vai ser possível com a mobilização dos estudantes e trabalhadores da UFSC em unidade com o conjunto da classe trabalhadora. Abaixo colocamos nossas propostas:


  • Eleições para a Reitoria com regras realmente democráticas: voto universal e elegibilidade de qualquer membro da comunidade universitária! Nem Alacoque, nem Ubaldo, nem o CUn nos representam!
  • Por uma investigação sob controle da comunidade universitária. Que uma comissão paritária eleita em Assembleia Geral Universitária coordene a investigação sobre os escândalos de corrupção na UFSC. Precisamos exigir a prisão e o confisco dos bens de todos os corruptos e corruptores! Nenhuma confiança na Polícia Federal ou na Corregedoria Geral da UFSC!
  • Fim de todas as legislações antidemocráticas, a exemplo das listas tríplices. Todos os cargos de gestão da universidade devem ter eleições com voto universal! Os órgãos colegiados devem ter representação paritária! Mandatos revogáveis para todos os representantes colegiados e gestores da UFSC!
  • Fim do processo de privatização da UFSC e fim das fundações privadas! Reestatização do Hospital Universitário, já! Defesa da universidade pública, gratuita, democrática e de qualidade e da plena autonomia universitária!
  • Contra o projeto de lei autointitulado “contra o abuso de autoridade” ou “lei Cancellier”, apoiada por corruptos ou reacionários notórios, como Aécio Neves, Renan Calheiros, Paulo Bauer, Fernando Collor, que tem o objetivo de blindar ainda mais os ricos e poderosos.


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