Exoneração e prisão para o professor abusador! Toda solidariedade às vítimas do machismo e do racismo na UDESC!
Marco Santiago/Notícias do Dia |
NEGROS
Negros que escravizam
E vendem negros na África
Não são meus irmãos
Negros senhores na América
A serviço do capital
Não são meus irmãos
Negros opressores
Em qualquer parte do mundo
Não são meus irmãos
Só
os negros oprimidos
Escravizados
Em luta por liberdade
São meus irmãos
Para
estes tenho um poema
Grande como o Nilo
(Solano
Trindade)
Por: Secretaria de
Negras, Negros e Indígenas do PSTU da Grande Florianópolis
No
início deste ano, dez estudantes da Universidade do Estado de Santa
Catarina (UDESC) registraram boletim de ocorrência contra o
professor Paulino de Jesus Francisco Cardoso, do Departamento de
História da universidade. De acordo com as denúncias, o professor assediava as estudantes, em
sua maioria negras, utilizando de seu posto público e sua posição
no Núcleo de Estudos Afro-brasileiros (NEAB) dessa universidade. Há,
ainda, outra denúncia contra o professor por estupro.
O inquérito
concluído pela Polícia Civil do estado tipificou o crime de Paulino
como "molestar ou perturbar a tranquilidade", revoltando
as estudantes que exigem que
o Ministério Público de Santa Catarina corrija isso, porque assédio
e estupro não são perturbações!
Os
relatos das vítimas mostram a natureza perversa dessa violência
praticada contra jovens que são, em sua maioria, negras: "As
orientações eram com as portas fechadas, a porta era sinalizada que
estava em orientação para não haver interrupções, não podia
entrar. Comigo aconteceu de ele abraçar e botar a mão por dentro da
blusa. Tem outras meninas que aconteceram outras coisas"1,
contou uma das jovens vítimas do abuso moral e sexual.
Nas
palavras da advogada que acompanha o caso, “ele colocava... ele
facilitaria o mestrado ou doutorado, se elas permitissem mais, se
elas se submetessem. Inclusive é uma frase que ele usava, está no
relato de uma das meninas ‘submetam-se’"2.
Ou seja, o professor utilizaria do seu cargo público e de sua
influência acadêmica como armas para assediar moralmente e
sexualmente as jovens estudantes.
O
professor agiria dessa maneira se apoiando na estrutura racista e
completamente antidemocrática das Universidades brasileiras, onde os
processos de seleção de bolsas de iniciação científica e dos
Programas de Pós-Graduação são completamente anti-democráticos e
com pouquíssima transparência.
Negros
que oprimem negras não são nossos irmãos
Paulino
Cardoso é um renomado
pesquisador acadêmico e chegou a ser presidente
da Associação Brasileira
de Pesquisadores(as) Negros(as) (ABPN),
a principal entidade de pesquisadores negros do país. Isso
explica o silêncio corporativo
no meio acadêmico e
explica, também, o silêncio e receio que
ecoam em parte do movimento
negro de Santa Catarina.
Assim
como a UFSC e a totalidade das Universidades públicas brasileiras, a
UDESC é uma universidade com professores majoritariamente brancos e
marcada por um racismo
institucional. No entanto, a
verdade é que Paulino
Cardoso representa os interesses da burocracia universitária contra
os interesses dos estudantes e trabalhadores da UDESC. Por
isso a
grande demora na sindicância
interna da universidade e a ausência de um firme pronunciamento da
Reitoria de Marcus Tomasi sobre o caso.
Apesar
disso, algumas pessoas têm
dúvidas se seria correto denunciar e exigir punição para um
professor negro, considerando o racismo brasileiro e o escasso número
de professores negros nas Universidades brasileiras.
Queremos
dialogar aqui com
esses companheiros, resgatando parte da experiência de luta de
nossos antepassados.
Em
primeiro lugar é importante lembrar que a maior parte das estudantes
que denunciaram os abusos são
negras. E isso, por
si só, já deveria nos colocar em solidariedade a essas jovens,
afinal,
recai sobre as mulheres negras uma dupla opressão, de raça e de
gênero, que as coloca em situação mais vulnerável a todo tipo de
violência.
Em
segundo lugar, as denúncias indicam que Paulino utilizava de seu cargo e do interesse das
estudantes sobre o conhecimento científico em torno das questões
étnico-raciais para assediá-las, chantageá-las e abusá-las.
Traindo,
portanto, toda a tradição de solidariedade e respeito do movimento
negro às mulheres negras.
Finalmente,
é importante
lembrar que sempre existiram
negros traidores que renunciavam a luta coletiva por liberdade, para
buscar um lugar à mesa na casa
grande
na esperança de
desfrutar
um pouco dos privilégios dos senhores, ainda que às custas do
sangue e suor do seu
próprio povo. E como a
história também mostrou fartamente nas revoltas e quilombagens, os
negros rebelados sempre trataram de acertar as contas com esses
negros traidores!
Por
isso, nós do PSTU estamos ao lado das jovens estudantes e nos incorporamos
aos atos de denúncia organizados
pelo movimento estudantil da UDESC exigindo a imediata exoneração e
prisão de Paulino Cardoso!
Os
negros assumiram
a vanguarda nessa
luta e todos os estudantes e
trabalhadores devem
se incorporar na luta contra
esse e todos os abusadores na UDESC!
Por
um programa socialista para as Universidades brasileiras
A
UDESC é o exemplo da Universidade no capitalismo: é
antidemocrática, machista,
racista e lgbtfóbica. E isso
só pode ser alterado através da luta organizada dos estudantes em
conjunto com a classe trabalhadora. Por
isso, nós do PSTU apresentamos um conjunto de reivindicações para
a UDESC e para as
Universidades brasileiras:
–
Exoneração e prisão para o professor abusador! Assédio e
estupro são crimes!
–
Nenhuma confiança na Reitoria e em sua sindicância interna!
–
Voto universal, já! Por uma gestão tripartite entre estudantes,
trabalhadores e professores da UDESC! Os
órgãos colegiados devem ter representação paritária! Mandatos
revogáveis para todos os representantes colegiados e gestores da
UDESC!
–
Cotas Raciais em todos os
Programas de Pós-Graduação da UDESC, já! Transparência
nos processos seletivos da UDESC!
–
Contra a PEC do Fim do
Mundo que congela as verbas da Educação
e Saúde!
Por 10% do PIB para
a
educação pública! Pela Educação
pública, gratuita, de qualidade e laica! Não ao
projeto Escola sem
partido!
–
Queremos entrar, permanecer e enegrecer as universidades! Por uma
política de permanência estudantil nas escolas e universidades com
bolsas, restaurantes, moradias, materiais didáticos!
–
Por uma universidade a serviço da revolução socialista dos
trabalhadores!
2Ver:
idem.
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