Transporte Público: Quem quer o caos em Florianópolis?

A greve dos trabalhadores do transporte coletivo de Florianópolis terminou. Logo no dia seguinte a ponte engarrafou de novo, a tarifa do ônibus continuou muito cara, a espera longa e já habitual no ponto de ônibus voltou a acontecer e as filas na cidade não diminuíram. Mas a greve não tinha acabado? Sim, mas então por que o caos continua? Pelo jeito o caos no transporte público e na mobilidade urbana de Florianópolis não era um raro efeito de uma greve, mas a realidade diária da cidade. Este é um bom momento para refletirmos sobre isso. 

Em Florianópolis, os trabalhadores dependem do transporte público para trabalhar e os estudantes para estudar, é condição básica para a locomoção na cidade. Mas o atual sistema de mobilidade urbana não foi feito para servir a maioria da população, pois foi pensado para gerar altos lucros para a máfia que explora o transporte público e privilegiar a indústria automobilística com os milhares de automóveis nas ruas.

Uma das tarifas mais cara entre as capitais

Enquanto a passagem de ônibus subiu mais de 800% entre 1994 e 2012, a inflação foi de menos de 306%. Segundo a inflação a tarifa deveria ser hoje R$1,22. O salário de nenhum trabalhador aumentou 800% neste período. Quem se deu bem com esses aumentos concedidos pelas sucessivas prefeituras foram os donos das empresas de ônibus. Essas empresas sempre choram, dizem que operam no vermelho e mostram a planilha de custos. Mas nunca mostraram a planilha de lucro.

A população de Florianópolis paga 3 vezes o ônibus sem se dar conta. Pagamos a tarifa ao entrar, e pagamos mais duas vezes. Uma com a isenção de impostos dada para as empresas e outra com o gordo subsídio de mais de 8 milhões de reais anuais que a prefeitura dá para elas. Agora a Dilma quer dar mais de R$ 6 milhões de reais ao ano de subsídio a máfia do transporte com a desoneração do PIS/COFINS das empresas de ônibus. Não existe razão para o transporte público ser tão caro e ruim. Somente a ganância de quem lucra com isso pode explicar.

O transporte é público, mas o lucro é privado

Somos uma das cidades líderes no país em automóveis por habitantes. O resultado é um trânsito infernal. Os congestionamentos são constantes nas pontes, na Av. Beira Mar Norte, na SC-401, na Av. das Rendeiras, no Sul da ilha... Os engarrafamentos crescem a cada dia. 

O Transporte Público, que poderia ser uma alternativa, é na verdade parte do problema, pois está totalmente privatizado. Como toda empresa privada, o transporte coletivo visa o lucro e não o bem estar dos usuários. Quanto mais lotados os ônibus e mais explorados os cobradores e motoristas, maior o lucro. Os interesses privados dos patrões do ônibus também impediu que se construíssem sistemas alternativos de transporte.

A prefeitura e a máfia dos transportes

O novo prefeito, Cesar Souza Jr. (PSD), tem cara nova, mas representa as velhas oligarquias que sempre governaram Santa Catarina e a nossa cidade. Na coligação de César estavam os Bornhausen, os Amins (donos da Transol) e todos aqueles que são os responsáveis pela implantação do atual sistema que se deu sob fortes protestos contrários da população. Agora fazem novas promessas. Querem reestruturar o sistema com a nova licitação e querem ganhar a opinião pública para seu projeto. Mas isso não será uma tarefa fácil para eles. Os usuários do transporte tem tradição de mobilização contra os aumentos de tarifa chegando a influenciar com seu exemplo as mobilizações atuais nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. Os trabalhadores do transporte também tem tradição de mobilização contra as péssimas condições de trabalho. Não nos enganemos.
Esse novo projeto de transporte coletivo de César e dos empresários mantém o modelo onde uma família trabalhadora gasta grande parte de seu orçamento com um transporte de péssima qualidade, ainda que agora eles não aumentem a tarifa imediatamente. Vai trazer novos aumentos. Vai precarizar mais ainda as condições de trabalho dos trabalhadores do setor. Não podemos dar qualquer apoio ou voto de confiança à prefeitura de César e das velhas elites. Nosso apoio é para a luta de usuários e trabalhadores do transporte. Nossa é defesa é de outro projeto de transporte.

O direito ao transporte é possível

É um direito como saúde e educação e não pode ficar nas mãos de uns poucos empresários. Ele tem que ser público de fato, acessível para todos e com qualidade. Declaramos aqui nosso total apoio à luta dos trabalhadores do transporte de Florianópolis pela redução da jornada de trabalho e contra o arrocho salarial. Sem trabalhadores do transporte valorizados e com boas condições de trabalho é impossível ter um transporte que atenda nossas demandas. Nesse sentido exigimos a retirada imediata da multa contra o SINTRATURB (sindicato dos trabalhadores do transporte) pelos dois dias de greve e o fim de qualquer punição e perseguição ao movimento grevista dos trabalhadores. 

Nos somamos ao ato que está sendo convocado para o próximo dia 20 de junho às 18h no TICEN por um transporte público de qualidade, por passe-livre para todos e em apoio às manifestações da tarifa em outras cidades. Exigimos também o fim da repressão às manifestações da tarifa em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e demais cidades do país. Lutar é um direito, não é crime!

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Veja também a proposta que o PSTU de Florianópolis apresentou para o transporte público nas últimas eleições municipais:

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