NOTA DO PSTU FLORIANÓPOLIS: POR QUE NÃO PARTICIPAMOS DO ATO DE SEXTA (06/09) NA ESQUINA DEMOCRÁTICA SOBRE A SÍRIA
Fora
Bashar Al Assad! Não à intervenção imperialista!
Pela Vitória da Revolução Síria!
Na sexta-feira (06/09) realizou-se uma manifestação
na esquina democrática, no Centro de Florianópolis, palco de várias
manifestações contra os desmandos de governos, patrões, do imperialismo e,
inclusive, de várias ditaduras pelo mundo.
Lamentavelmente, o ato que se organizou, conforme a
convocatória que foi feita e assinada por várias organizações, não é apenas um
ato contra uma intervenção militar feita pelos EUA na Síria, mas também
claramente a favor da ditadura da família Assad na Síria e contra o processo de
mobilização popular vivido naquele país que tomou proporções armadas.
Essa é um desserviço a educação classista e
socialista dos trabalhadores e, inclusive, um desserviço à luta contra o próprio
imperialismo. Não é apoiando ditaduras burguesas sangrentas e
contrarrevolucionárias que vamos nos opor ao imperialismo. Chamamos ao conjunto
dos companheiros a que reflitam sobre o que se defende para a Síria e que
marchemos juntos ao lado do povo sírio, contra o imperialismo e a ditadura.
Nós do PSTU sempre estivemos e continuaremos na
linha de frente das lutas antiimperialista, a exemplo da luta contra a ALCA,
contra as dívidas externa e interna e contra todas as invasões e guerras
imperialistas.
É preciso
lutar contra a agressão imperialista à Síria!
Os governos das principias potências imperialistas,
além da Turquia, estão preparando um ataque militar à Síria. Mesmo depois da
derrota no Parlamento britânico, que votou contra a participação inglesa no
conflito, o governo de Obama declarou que está preparado para atuar de forma
isolada, ou, na melhor das hipóteses, com o apoio direto de um ou outro governo.
O imperialismo, cinicamente, afirma que esta
intervenção armada teria objetivos “humanitários” e seria para “proteger civis”
sírios, usando como pretexto o brutal e repudiável ataque com armas químicas
nos subúrbios de Damasco feito pelo regime dos Assad, no qual morreram pelo
menos 1.400 pessoas. Isso é mais uma grande mentira imperialista!
Nós do PSTU estamos contrários a qualquer
intervenção dos EUA ou por qualquer outra via do imperialismo na Síria. Isso
não vai diminuir o sofrimento do povo sírio. Só vai aumentar! A exemplo do que
ocorreu nas invasões imperialistas do Afeganistão, do Iraque e do Haiti, onde
este último contou com a liderança das tropas brasileiras a mando
lamentavelmente dos governos de Lula e Dilma. Chamamos ao conjunto dos
movimentos sociais ligados a classe trabalhadora a repudiarem qualquer agressão
imperialista na Síria!
O
imperialismo sempre intervém com seus próprios objetivos, que invariavelmente
passam por suas pretensões de dominar diretamente a economia e a política do
país que ataca. Essa também é a razão pela qual apoia Israel na usurpação dos
territórios e na limpeza étnica contra o povo palestino e pela qual apoia a
monarquia ultrarreacionária da Arábia Saudita, a qual usou para reprimir a
justa luta do povo do Bahrein contra seu governo, outra monarquia fantoche do
imperialismo. E esse também é o mesmo objetivo de rapina na Síria.
Mas é
preciso lutar também contra o regime da Família Assad!
Já virou um ditado
popular a frase de Sun Tzu de que "quem não sabe contra quem luta não pode
vencer a guerra". Devemos saber quem é a família Assad. Ao longo de quase
meio século de tirania a família Assad foi centralizando poder, riqueza e
comando, através de laços familiares e de interesses de classe que foram se
formando e se consolidando. O irmão de Bashar, que se chama Maher Al-Assad,
dirige a repressão de estado junto de um núcleo muito restrito. O primo de
Bashar, chamado Rami Makhlouf, é o mais rico empresário da Síria beneficiado
pelas privatizações que acabou abocanhando em nome do clã Assad. Inclusive,
Rami é um emprestador para o Estado Sírio lucrando muito com isso. O
"laico" regime de Bashar Al-Assad fez de sua família e do seu regime
um pilar fundamental da garantia dos interesses da burguesia do país, fazendo
transmissões de poder de pai para filho.
O regime também possui
fortes ligações econômicas e políticas com outros países, a se destacar Irã,
Rússia, Cuba, o Hezbolah no Líbano e a Venezuela, que dão total apoio ao
genocídio realizado pela família Assad que já provocou a morte de mais de 120
mil pessoas (na maioria civis).
Mas as relações
internacionais do regime de Assad não se restringem a esses países. Os Assad
sempre estreitaram relações com os EUA e o Estado de Israel. As colinas de Golã
tomadas da Síria há aproximadamente quarenta anos são conhecidas como a mais
tranquila fronteira do Estado de Israel devido a passividade do regime diante
dos sionistas. Em 1976 a família Assad ocupou o Líbano para derrotar o
movimento nacional palestino a pedido dos EUA e de Israel. Em 1992 deslocou
milhares de soldados para invadir o Iraque na coalizão do Bush pai. Documentos
revelados pelo Wikileaks comprovam que os Assad, assim como Kadaffi, na Líbia,
praticaram tortura e prisões terceirizadas para a CIA e mantinham relações
estreitas com essa agência norte-americana. Inclusive, quando um setor dos
palestinos passou para a oposição ao regime ele começou a bombardear sistematicamente
campos de refugiados, como é o caso de Yarmuk, em Damasco, hoje sob um cerco
que os impede de receber alimentos e medicamentos, repetindo os mesmos métodos
dos sionistas.
Vale acrescentar. Por que
em quase 50 anos de poder da família Assad o país viveu tantos retrocessos
econômicos e políticos se este governo seria progressista? Por que a ditadura proíbe
qualquer direito de greve ou manifestação e inexiste qualquer organização dos
trabalhadores, do povo pobre e da juventude no país e a pouca que existe é
perseguida duramente pela ditadura? Por que a ditadura dos Assad sempre
governou por meio de lei marcial se representa os justos interesses da
população? Por que quem lota os auditórios dos poucos pronunciamentos de Bashar
sobre a situação do país é a camada rica do país e não a pobre? Tudo isso
demonstra o caráter de classe burguês e pró-imperialista irrefutável da família
Assad. Ser contra o imperialismo implica ser contra a ditadura dos Assad.
A oposição síria
Hoje a família Assad se
utiliza dos piores métodos, só comparáveis ao fascismo de Hitler ou do Estado
de Israel, para se manter no poder. São bombardeios aéreos, atiradores de
elite, tortura, estupros, prisões, corte de itens essenciais como a água, armas
de destruição em massa e etc. contra populações civis e opositores que não
possuem as mesmas armas sofisticadas. Mesmo assim a revolução não desiste. Ser
revolucionário na Síria, pelas condições impostas pelo regime, é uma
necessidade para se manter vivo. Em mais de 2 anos de guerra civil já
tivemos dezenas de milhares de mortos, mais de 4 milhões de desalojados que
vagam pelo país devido a dureza dos ataques do regime, e quase 2 milhões de
refugiados que procuram desesperadamente fugir para países como o Iraque,
Jordânia, Turquia ou Líbano e não encontram amparo diante da fome, da
repressão, das doenças, da falta das condições mais básicas de higiene e
moradia e das adversidades climáticas.
E quem são as vítimas da
sanha assassina do regime? São camponeses pobres, sem terra, trabalhadores
pobres, desempregados, crianças, jovens, idosos. É o povo pobre morrendo das
piores e mais horrendas formas possíveis! Enquanto isso a imensa maioria dos
bem vestidos, dos ricos e da elite lota os locais que Bashar utiliza para
proferir seus discursos.
Tudo bem diferente do
quadro pintado pela maioria da esquerda que diz se tratar de um confronto, onde
de um lado temos o regime defendendo a soberania nacional, e do outro lado,
temos um exército mercenário financiado por grandes potências querendo usurpar
o poder.
Um "detalhe"
importante: enquanto o regime tem tanques de guerra, aviões de caças,
armas químicas, misseis teleguiados e defesa antiaérea, os tais
"mercenários" que são "financiados" pelas grandes potências
econômicas e militares do globo, tem que se virar com um arsenal rudimentar, de
armas leves e pouco treinamento e inteligência militar. Se realmente fosse
uma luta de libertação nacional o regime não bombardearia as principais cidades
do país e a população civil e sim a armaria para enfrentar o inimigo externo.
Não podemos nos enganar
de onde está a revolução e onde está a contrarrevolução. A contrarrevolução
está sim no campo do imperialismo, mas também com o regime. É verdade que hoje
no campo da revolução síria atuam setores pró-imperialista e defensores do
sectarismo religioso que jogam contra uma maior unidade das massas sírias. Mas
isso não nos desobriga de apoiar ativamente a revolução procurando dar um rumo
consequente para ela. Da mesma forma que não nos desobriga de fazer toda a unidade
na ação possível com o Hamas na Faixa de Gaza que defende um estado teocrático
ou com as milícias que combatem os EUA no Iraque e no Afeganistão que também
possuem um caráter teocrático e todas elas conseguem financiamento de forma no
mínimo obscura. Na verdade, toda essa realidade só aumenta nosso dever diante
da revolução. A crise de direção revolucionária revela todo seu papel
determinante nessas horas, como já havia preconizado Trotsky na primeira metade
do século XX.
Aprofundando o debate sobre a
estratégia do imperialismo para a Síria
A política de Obama, mesmo depois do início do
levantamento popular contra a ditadura síria, que iniciou de maneira pacífica, foi
a de apoiar Al Assad, já que este lhe prestou valiosos serviços em relação à
segurança de Israel e à estabilização da região. A hipocrisia do imperialismo
não tem limites. Enquanto Al Assad era capaz de lhes garantir estabilidade,
Obama e as principais potências europeias sempre fecharam os olhos ante toda a
repressão e os crimes de sua ditadura sanguinária.
O imperialismo retirou o seu apoio ao ditador - e
não ao regime em si - somente quando percebeu que mantê-lo, diante da luta
armada do povo sírio, tinha se tornado insustentável do ponto de vista do
principal interesse dos EUA neste momento: estabilizar o país e derrotar a
revolução chamada de "Primavera Árabe" em toda a região.
No entanto, a posição do imperialismo a favor da
saída de Bashar Al Assad não significa que tenha abandonado a política de
negociar uma saída, até onde seja possível, entre o regime e os setores
pró-imperialistas da oposição, como o Conselho Nacional Sírio (CNS). Dentro da
gama de possibilidades militares, o imperialismo está considerando aquelas
opções com o menor custo político, em um país e uma região abalada por um
poderoso processo de revoluções populares.
Neste contexto, essa alternativa seria a menos
arriscada para o imperialismo, que não tem condições políticas - em meio a uma
grave crise econômica mundial e a oposição da população de seus próprios países
a intervenções militares - para invadir militarmente a Síria mediante um ataque
terrestre. Mesmo uma zona de exclusão
aérea está sendo pensada com o maior cuidado, pois as defesas antiaéreas do
regime Assad não são desprezíveis.
O imperialismo não só não tem qualquer pretensão
humanitária na sua invasão a Síria, mas sim quer impedir qualquer vitória sobre
o regime diretamente pelas mãos da oposição síria. Enfim, não tem qualquer
interesse na vitória da revolução. Se os EUA quisessem realmente ajudar os
rebeldes sírios a derrubar Assad, há muito tempo e antes da perda de tantas
vidas já lhes teria fornecido, incondicionalmente, as armas pesadas que tanto
necessitam, como aviões, tanques e mísseis antiaéreos.
Caso caia do poder a família Assad, os EUA exigirão
o desarmamento de todos os revolucionários para que sejam eles - ou seus
fantoches, que não faltam nem faltarão - os que detenham o monopólio militar e,
assim, "estabilizar" o país em prol de seus interesses. Mas nada
indica que cumprir esses planos será uma tarefa fácil para o imperialismo, como
não está sendo, por exemplo, na Líbia, posto que uma grandiosa revolução está
em curso na Síria e em toda a região.
Silenciar ou apoiar o regime da família Assad serve
acima de tudo para esconder dos trabalhadores do mundo todo os reais objetivos
da intervenção imperialista naquele país!
Uma Política Revolucionária para
a Síria
Estamos totalmente contra a intervenção
imperialista, mas isso não pode nos levar a apoiar a ditadura sanguinária de Al
Assad, que massacra o seu povo sem nenhuma consideração, um povo que luta
bravamente para acabar com seu regime. Isso é o que o castro-chavismo faz e por
isso tornou-se cúmplice dos crimes horrendos desses ditadores.
A classe trabalhadora e os povos do mundo devem
estar, mais do que nunca, ao lado da revolução síria contra a ditadura de Al
Assad e, ao mesmo tempo, repudiar a possível intervenção do imperialismo nesse
país.
É necessário desmontar a campanha que está sendo
feita nos países imperialistas para justificar a intervenção militar, mobilizando-nos
contra os governos que preparam os planos de intervenção armada. Devemos
denunciar que a possível intervenção, ainda que se tente encobri-la com um
manto "humanitário" a partir dos horríveis massacres de Al Assad, tem
como real objetivo impor novos senhores ao povo sírio.
A saída é outra: o total apoio aos rebeldes. Isso
significa o envio incondicional e imediato de armas pesadas e de todo tipo de
suprimentos, como remédios e equipamentos, para a resistência síria, assim como
a abertura das fronteiras dos países para a passagem desta ajuda e dos
lutadores que estão dispostos a combater contra Assad.
Ao mesmo tempo, exigimos, em todos os países, a
ruptura imediata das relações diplomáticas e comerciais com a ditadura síria.
Fora Al Assad! Não à intervenção imperialista!
Por mobilizações de apoio em todos os países à
revolução síria e contra os planos de invasão imperialista!
Pela ruptura das relações diplomáticas e comerciais
com a ditadura síria!
Que os governos do mundo enviem armas e
medicamentos para os rebeldes sírios!
Pelo triunfo da revolução síria!
PSTU
Florianópolis - 06/09/2013
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