Vereador "Dr. Ricardo", do PCdoB, adere ao governo César Souza Jr. E Agora?

Muitos ativistas foram surpreendidos com a notícia da adesão do Vereador Dr. Ricardo Camargo, único vereador eleito pelo PCdoB em Florianópolis, ao Governo Municipal de César Souza (PSD). A adesão se deu da forma mais pragmática possível. Ele recebeu o cargo de presidência da COMCAP (Companhia de Melhoramentos da Capital). Os maiores surpreendidos foram os militantes honestos do PCdoB, que se enfrentam com as política deste governo, e estão até agora atordoados com a ingrata novidade.

Isso não se deu num momento qualquer. Em apenas um ano de governo, César já se enfrentou com greves dos servidores municipais e dos trabalhadores da COMCAP. Aprovou um Plano Diretor a toque de caixa ignorando as reivindicações das comunidades. Pretende fazer a licitação do transporte para garantir o lucro dos atuais empresários e ameaça o emprego dos cobradores do sistema de transporte público. Ao mesmo tempo engana a população com a promessa de transporte mais barato e acessível com tal licitação. Agora quer impor o aumento do IPTU.

Motivos não faltam para se opor ou denunciar o governo municipal. Mas o Dr. Ricardo acredita que não, tanto que entrou no governo. Outra figura pública do PCdoB, Angela Albino, presidente estadual do partido e deputada estadual, foi à grande mídia declarar sua oposição a tal adesão do vereador. No entanto, devemos ir mais a fundo na análise para entender melhor a questão, porque as posturas que vem tomando dirigentes partido mostram que isso é parte de um rumo muito mais amplo.

Um Caminho Sem Volta

O PCdoB a frente do ministério dos esportes acumulou casos de corrupção que culminaram o afastamento de Orlando Silva, em 2011. Foi substituído por Aldo Rabelo, outro militante histórico deste partido. Aldo, antes já havia prestado valiosos serviços à bancada ultrarreacionária do agronegócio e do latifúndio no Congresso Nacional, aprovando o código florestal. Agora ajuda a dirigir, junto à FIFA e a várias multinacionais, a realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, motivo de tantos protestos nas ruas do Brasil em junho deste ano.

Lastimavelmente, o PCdoB também se destacou negativamente nos leilões do petróleo brasileiro. Primeiro com Haroldo Lima, como diretor geral da Agência Nacional de Petróleo, liderando os leilões no governo Lula. Recentemente, diante do leilão do campo de Libra (pré-sal), enquanto os movimentos sociais se manifestavam enfrentando até o exército para barrar o leilão, a direção do PCdoB estava reunida para finalizar uma nota de apoio à maior privatização da história do país.

Adentrando em nosso "quintal regional", a própria Angela Albino, que dá declarações públicas se opondo à decisão de Ricardo, está cada vez mais próxima do governo estadual de Raimundo Colombo, do PSD, o mesmo partido de César. Angela saudou a criação deste partido no estado, que então contava com os Bornhausens. Ela votou em Jair Ponticelli (PP) para a presidência da Assembleia Legislativa, referendo a atual múltipla aliança que dá sustentação ao governo estadual do PSD. Não por um acaso diz que, em relação à César, ela é apenas uma oposição “responsável”. Ou seja, traduzindo para o bom português, o que pretende Angêla, neste momento, é negociar a varejo com César, apoiando uma ou outra medida, tendo em vista possíveis disputas eleitorais em torno da Prefeitura da cidade no futuro.

Assistir a esta organização (que se coloca como o partido do socialismo e até mesmo reivindica a memória dos mortos da guerrilha do Araguaia) fazer o que faz, pode parecer um paradoxo num primeiro olhar. Mas o marxismo que o PCdoB distorceu e desfigurou é o que nos possibilita explicar o que está acontecendo. Tampouco é um caso isolado na esquerda, infelizmente.

Trata-se de um processo material de adaptação que arrastou a maioria da esquerda. Em outras palavras, é parte de um processo de subordinação do partido à estrutura do Estado burguês e à lógica eleitoral atual, que é viciada pelo poder econômico das grandes empresas. Não por coincidência, que entre os financiadores eleitorais do PCdoB, tanto pode-se encontrar uma das maiores construtoras que atuam na cidade, como a VVOA ou multinacionais como a Coca-Cola e o McDonald's. Assim, a estratégia de transformação social desse partido passou a ser cada vez mais a luta pela permanência no poder, fazendo os acordos mais espúrios.

A Luta pelo Socialismo é a que Permanece

Afinal, quais as coincidências entre a atual direção do PCdoB e os guerrilheiros do Araguaia, ou com a heroica luta travada nas décadas de 1930 e de 1940 contra o nazifascismo, em conjunto com outras organizações? Com certeza, esses dirigentes de hoje mais nada tem haver com os do passado.  

Os dirigentes do PCdoB se apressam ao procurar justificar essas alianças, tendo em vista a reeleição de Dilma em 2014. Por isso se aproximam do PT, de figuras como César, Colombo e Luís Henrique. Antes já se aliaram ao Sarney, Maluf e até mesmo ao Collor. E para quê todas essas políticas de “alianças amplas”? Para continuar a sustentar um governo que atende todas as reivindicações das grandes empresas, que continua a privatizar, que paga em dia a dívida aos banqueiros, que barra a reforma agrária, que continua a arrochar salários e nem no quesito corrupção deixa a desejar a tradicional direita?

A direção do PCdoB de hoje em dia se vale do capital moral de um passado que não existe mais para tentar justificar o injustificável. Muitos militantes honestos se aproximam desse partido por simpatizarem com a luta da classe trabalhadora pelo socialismo e o comunismo e veem nele uma referência.

Nós, do PSTU, não negamos o passado. Mas acreditamos que a luta pelo socialismo é acima de tudo uma luta do presente momento. Nosso partido continua firme nessa luta e estamos a abertos a dialogar com quem divide essas convicções conosco para um debate honesto e sem sectarismos. Precisamos ter a ousadia de romper com o velho para construir o novo.

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