TODO O APOIO à greve dos funcionários da COMCAP

Os trabalhadores da COMCAP (Companhia de Melhoramentos da Capital) anunciaram greve por tempo indeterminado nesta terça-feira, dia 30 de setembro de 2014. Segundo os trabalhadores, os principais pontos da pauta de reivindicações encaminhados pela categoria não foram atendidos, como a suspensão imediata da mudança arbitrária do local de trabalho (Limpú-Estreito) para o Cetes, no Itacorubi, sem que antes haja uma discussão a fundo entre trabalhadores e empresa, o cancelamento imediato da mudança do horário noturno das 20h para as 22h, considerado bastante insalubre pelo conjunto dos trabalhadores e a suspensão das punições aos motoristas, como vem ocorrendo, se o excesso de velocidade não for comprovado pelo tacógrafo, são alguns deles. Afirmamos que somos solidários à luta da categoria, completamente legítima, e expressamos nosso total e integral apoio à greve, nos colocando à disposição da categoria para ajudar no que for preciso!

A COMCAP é uma empresa mista, e apesar de a prefeitura de Florianópolis ser a maior acionista, o investimento feito a conta-gotas é insuficiente, seguindo a mesma lógica dos demais serviços públicos, como educação, saúde e segurança. Isso, obviamente, acarreta em vários problemas não somente para a empresa, mas principalmente para seus trabalhadores, que sofrem diariamente com o descaso e a precarização da condições de trabalho1.

A respeito destas e de outras coisas, conversamos com um(a) trabalhador(a) da COMCAP, que nos expôs seu ponto-de-vista. Acompanhem na íntegra esta conversa:


Oi. Tudo bem, companheiro Jorge2?
Bom dia, companheiro.

Como está a COMCAP hoje, do ponto de vista de um trabalhador?
A COMCAP é dividida em dois setores. Um é a coleta de lixo, convencional e seletiva. O outro setor é o operacional com limpeza viária, varreção, capina, roçagem, conservação de praças, parques públicos, praias e rodovias. E a empresa possui bases nos quatro cantos da ilha e bases no continente também.

A COMCAP, como qualquer outra empresa, também possui SEUS PROBLEMAS. Tem dias que faltam uniformes e/ou peças no almoxarifado, tem dias em que os chuveiros nos vestiários estão queimados ou simplesmente não sai água por problemas de encanamento.

Já a frota de ônibus para o nosso transporte está sucateada. Até pouco tempo tinha ônibus da década de 70 rodando pelos bairros da cidade. Hoje estão lá na policia ambiental apodrecendo a céu aberto.

Com a frota de veículos sucateada, muitas vezes a oficina não consegue dar conta do serviço. Faltam peças e algumas têm que ser importadas, pois já não se fabricam mais em nosso país.

Em 2011, o sindicato e a categoria conquistaram banheiros nos ônibus, mas com a atual situação da empresa o banheiro estraga e não se faz nada. Às vezes o ônibus fede à urina por causa disso.

E como ficam os direitos dos trabalhadores?
Outro fator importante da empresa é a questão da insalubridade; para a Coleta é obrigatório o pagamento de 40% do valor do salário base do empregado em insalubridade. Alguns setores operacionais, como no caso das margaridas, elas também ganham os 40% de insalubridade, remoção de entulhos e a rapaziada que limpa as vias com o espetinho também ganha 40% de insalubridade.

Mas as equipes de capina e roçagem também mexem com lixo. Somos obrigados a varrer e tirar latas, vidros, bichos mortos, sujeira de animais, entre outros fatores que podem colocar nossa saúde em risco. Por que então a caçamba da remoção ganha 40% de insalubridade para retirar o monte de entulho que nós da equipe de capina fazemos, e nós só recebemos 20% de insalubridade?

A empresa apenas diz que não pode pagar 40% para todos por razões financeiras. "Isso faria com que a empresa aumentasse seus gastos", nos dizem. Engraçado é você ouvir isso e saber que cada chefe, cada gerente que temos além de ganharem seus altos salários, recebem os 40% e mais a gratificação (valor que ultrapassa o salário bruto de um trabalhador operacional).

Como é a relação da empresa com os funcionários?
Tem perseguições, favorecimentos de funcionários (fulano pode, fulano não pode, equipe pode pagar dia, equipe não pode etc ...). Já teve época em que a gerência não aceitava atestado de presença (levar filho menor de idade ao médico ou esposa/marido). O funcionário ou funcionária tinha que pagar o dia ou seria descontado no contra-cheque e mesmo sendo uma empresa pública, ainda sim existe colega prejudicando colega para fazer nome frente a chefia (conseguir cargo de confiança).

A empresa gosta tanto de seus funcionários que não quer aposentar os que já estão com tempo de contribuição e idade avançada. São cerca de 137 homens e mulheres que não podem desfrutar o resto de suas vidas com suas famílias porque simplesmente a empresa diz não ter o dinheiro de suas indenizações em caixa. A categoria, por votação, aceitou o plano oferecido pela empresa: 5 SALÁRIOS BRUTOS DO FUNCIONÁRIO mais O FGTS. Mas quem levantou a mão hoje se arrependeu, pois para sair tem que pedir as contas, e quem perde com isso? O trabalhador aposentado, é claro.

Olha, não estou desejando o pior para a empresa na qual presto meu serviço há 6 anos. Eu desejo sim, a cada dia, uma empresa melhor, mais justa, com todos e para todos funcionários. Assim, a empresa ganha, quem trabalha nela ganha, a cidade ganha e o povo de Florianópolis ganha.

Agradeço a todos do PSTU por darem essa força à COMCAP. Espero que o povo saiba reconhecer o valor político que este partido (considerado fraco) tem a oferecer não só em nosso estado, mas em todo o Brasil. Chega de ver meu país “andando pra trás”, ficando à sombra das potências que só querem sugar os patrimônios públicos e as riquezas de países como o nosso!

Nós também agradecemos a sua colaboração e disposição para nos conceder esta entrevista, bem como reforçamos aqui nosso apoio incondicional à luta dos funcionários da COMCAP pela manutenção de seus direitos, pela conquista de novos e por melhores condições de trabalho. Muito obrigado, Jorge, e bom dia para você.
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1 Inúmeros são os problemas dos trabalhadores, vamos citar três: 
1) A jornada oficial de trabalho no Brasil é de 44 horas semanais. A jornada dos trabalhadores da COMCAP é de 40 horas semanais e de 30 horas semanais. Para calcular o valor da hora normal a empresa divide o salário de um trabalhador de 40 horas semanais por 220 e de um trabalhador de 30 horas semanais por 180, ou seja, está utilizando os divisores das jornadas de 44 horas e 36 horas, pagando, portanto, a hora extra com valores inferiores;
2) Quando um trabalhador amplia a jornada de 6 horas para 8 horas a empresa aplica o percentual de 22,22%, quando deveria utilizar 33,33%. Ou seja, mais uma vez o trabalhador sai perdendo;
3) Outro grande problema vivido pelos trabalhadores da COMCAP está relacionado à aposentadoria. Na iniciativa privada os trabalhadores não recebem salário integral e dependem de fundo privado para complementar seu salário ao se aposentarem.

2 Jorge é um nome fictício para proteger o(a) camarada na empresa em que trabalha.

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