Cai a máscara do golpe



A votação do impeachment no Senado deve marcar o fim de um longo jogo político em que houve de tudo. A origem do conflito é a disputa entre dois blocos de partidos burgueses: o do governo, encabeçado pelo PT e formado por PMDB, PP, PSD e outros, e o da oposição, formado por PSDB, DEM e PSB.

Como o PT tinha a presidência da República, procurava imprimir uma cara progressista ao bloco do governo*. Porém os dois blocos defendem, essencialmente, a mesma cartilha neoliberal. Ambos lutavam pelo controle do Estado para se beneficiarem com a pilhagem do dinheiro público.



O que aconteceu?

O que mudou este quadro, entre outros fatores, foi a crise econômica e os ataques do governo Dilma aos trabalhadores e aos setores populares. Isso provocou a ruptura da base social do PT com o governo e com o partido.

A classe operária, em sua grande maioria, passou a defender o “Fora Dilma”. O governo ficou sem lastro social. A classe trabalhadora está lutando. Se suas organizações, os movimentos sociais e toda a esquerda tivessem chamado uma greve geral para derrubar o governo e impor eleições gerais, impedindo que assumissem Temer, Cunha ou qualquer outro via impeachment, poderiam ter feito isso. Entretanto, preferiram se alinhar ao governo contra os trabalhadores e o povo.

Já o PMDB rompeu com o governo Dilma e passou a lutar junto com a oposição da velha direita para depor o governo petista. Isso ocorreu devido ao enfraquecimento de Dilma, à insatisfação com a divisão do espólio do Estado e à tentativa de se livrar da Operação Lava Jato.

O governo Dilma, por sua vez, atuou com toda a máquina do Executivo, tentando cooptar deputados e senadores com o loteamento de cargos e a distribuição de verbas. Ambos são métodos do sistema político burguês, amplamente conhecidos.

Esse enfrentamento entre dois blocos burgueses se resolveu (ou está se resolvendo) no âmbito do Congresso e do Judiciário, porque as direções majoritárias do movimento e praticamente toda a esquerda se aliaram a um dos blocos burgueses e deixaram os trabalhadores de fora.

Os parlamentares, de seu lado, puderam dar seguimento ao processo contra Dilma, porque o povo não quis sair às ruas para defender seu governo apesar dos insistentes apelos do PT, dos partidos e dos movimentos sociais. E a classe trabalhadora não se mobilizou por uma razão simples: estava cheia desse governo e queria que ele fosse embora.



Anatomia de uma farsa

Quando viu que não conseguiria mobilizar os trabalhadores e os setores populares para defender Dilma, o PT levantou a tese de que o governo estaria sofrendo um golpe.

Como, evidentemente, não há um golpe militar, porque este teria de vir acompanhado de medidas de exceção como censura à imprensa, fechamento de partidos e sindicatos, repressão, presos e mortos, inventaram a tese do golpe parlamentar.

Muitos movimentos sociais e quase todos os partidos de esquerda embarcaram na campanha contra o tal golpe. No entanto, os motivos para dos partidos de esquerda e dos setores populares são bem diferentes.

Ativistas e setores populares temem o fortalecimento da direita e as medidas reacionárias do governo Temer e têm a ilusão de que Dilma seria um mal menor. Já a motivação do PT, do PSOL e de demais organizações de esquerda é puramente eleitoral.

O problema é que as ações políticas do PT e de seus dirigentes desmentem, no dia a dia, o suposto golpe. Primeiro, em seu congresso, o PT abriu a possibilidade para seus candidatos fazerem coligações com partidos golpistas como o PMDB.

Depois, Dilma e Lula estudam oferecer aos senadores, para que não votem o impeachment, um compromisso de que a presidente convocará um plebiscito para que a população decida sobre a realização de eleições diretas para presidente. E dizem confiar na instituição do Senado. Mas, se houvesse mesmo um golpe parlamentar autoritário, como seria possível confiar no Senado que faz parte do parlamento?

Por último, na recente eleição do presidente da Câmara dos Deputados, Lula defendeu que o PT apoiasse o nome de Rodrigo Maia (DEM), que seria um dos supostos golpistas. Os deputados do PT acharam que isso prejudicaria demais a tese do golpe e preferiram apoiar, no primeiro turno, a candidatura de Marcelo Castro (PMDB), que havia votado contra o impeachment.

No segundo turno da votação, contudo, a máscara caiu: os deputados do PT e do PCdoB votaram, em maioria, no “golpista” Rodrigo Maia. O motivo é simples: longe de travar uma luta sem trégua contra os tais golpistas, o PT está tratando de encontrar a melhor forma de negociar, no parlamento, os temas de seu interesse.

A cada dia fica mais difícil sustentar a tese do golpe.

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* Para entender o caráter político do governo do PT, conhecido como FRENTE POPULAR, clique aqui.

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