O GOLPE DO GOLPE


por Cassandra

Berram petistas e intelectuais contra um golpe em marcha no Congresso Nacional. Asseguram que o impeachment da Presidenta Dilma abre caminho para que forças políticas conservadoras, de maneira autoritária, ataquem a democracia e os direitos conquistados pelos trabalhadores, pela juventude e pelas camadas sociais menos favorecidas.


Seria de se esperar que se Dilma conseguir impedir o impeachment no Senado, imediatamente puniria da forma severa os golpistas foras da lei. Mas deixemos que a própria Presidente nos diga como trataria os golpistas. Dilma, quando ainda não tinha sido afastada da Presidência, perguntada sobre o assunto, disse que, na hipótese de o impeachment ser reprovado, proporia um acordo para os golpistas e até os convidaria para um governo de unidade nacional. Numa entrevista, concedida a jornalistas no Palácio do Planalto em 13 de abril de 2016, a Presidente disse: “Agora, te digo qual é o meu primeiro ato pós-votação na Câmara. A proposta de um pacto, de uma nova repactuação entre todas as forças políticas, sem vencidos e vencedores. Seja na Câmara, seja pós-Câmara, mas também pós-Senado sobretudo. No pós-Senado é que isso será mais efetivo.”1 Os jornalistas insistiram e perguntaram: “Repactuação de todas as forças?” A afastou qualquer dúvida: “Eu acho que de todas as forças, não acho que pode ter vencidos nem vencedores. Você não faz pacto fazendo isso. Não faz pacto com ódio. Não faz pacto com retaliação. Não faz.”2

Mas talvez alguém possa esperar postura mais dura e consequente contra os golpistas, vinda da boca de Lula. O ex-Presidente, em pronunciamento de 15 abril de 2016, confirmou a política da sua pupila: “Derrotado o impeachment, já na segunda-feira, independentemente de cargos, estarei empenhado, junto com a presidenta Dilma para que o Brasil tenha um novo modo de governar. Nessa próxima etapa, vou usar minha experiência de ex-Presidente para ajudar na reconstrução do diálogo e unir este país.”3
 

Então, Lula e Dilma, que juram que existe um golpe contra eles, propõem um pacto de governabilidade para os golpistas... Difícil entender essa política... Mas, a essa altura, é fácil concluir que não há nenhum golpe!

Se o PT e os seus aliados puderem, derrotarão o impeachment, voltarão para o Palácio do Planalto e proporão um acordo com os partidos que lhe fizeram oposição (PMDB, PSDB, DEM e outros), acordo que poderia mesmo chegar um governo comum, que chamam de governo de unidade nacional. Aliás, esse também é o sonho do Presidente interino, Temer, que, evitando a discussão sobre o golpe, em 8 de julho de 2016, na Câmara dos Deputados, declarou para O Globo: “Não devemos discutir esse tema, devemos pensar no Brasil. A oposição existe também para ajudar a governar, mesmo quando critica. Temos que fazer uma grande unidade nacional, mais do que nunca é necessário o pensamento conjugado dos vários setores da nacionalidade, portanto dos vários partidos políticos, para que caminhemos juntos em benefício do Brasil.”4 Na verdade, tanto Dilma como Temer desejam mesmo é a hegemonia (a maioria) num futuro governo comum ou em que situação e oposição pactuem as principais medidas a serem tomadas pelo governo.

Atualmente os maiores partidos do país, desde o PT até o DEM, passando pelo PMDB e PSDB, já defendem mais ou menos as mesmas propostas: ajuste fiscal, que reduza os gastos públicos com saúde, educação e para usar os recursos poupados para pagar a dívida pública e engordar o lucro dos bancos; reforma da Previdência Social, com o aumento da idade mínima para a concessão de aposentadoria, supressão da redução de idade para a concessão de aposentadoria para as mulheres (5 anos); desvinculação do valor mínimo e dos reajustes dos benefícios ao salário mínimo etc. Não é à-toa que Temer era o Vice da Presidente Dilma e o PMDB compunha a base de apoio do governo dela.

Mas se o PT e companhia sofrerem o impeachment de Dilma, o que é mais provável, o discurso do golpe serve a outro objetivo do PT. Dilma, o PT e o PMDB mostraram um país estável e confiante na campanha eleitoral presidencial de 2014. Porém, logo após a posse do segundo mandato, a Presidenta se desmentiu e, num verdadeiro estelionato eleitoral, reconheceu que o país atravessa uma grave crise econômica e financeira e anunciou o ajuste fiscal, com todas as suas medidas impopulares. O governo Dilma apresentou e começou a aplicar o ajuste fiscal. Os trabalhadores (principalmente os operários), a juventude e as camadas sociais menos favorecidas repudiaram os ataques de Dilma às beneficiárias de pensão por morte, que deixaram de gozar do benefício ou viram seu valor reduzido; aos milhões de brasileiros que deixaram de ter direito de receber o seguro-desemprego e/ou conheceram a redução do abono salarial; aos milhões de jovens que tiveram impedido ou dificultado o acesso às universidades, em virtude dos cortes no FIES. Ao mesmo tempo os grandes industriais continuaram ganhando muito dinheiro com as isenções fiscais (desonerações) e os bancos lucraram como nunca, devido ao aumento das taxas de juros. Não esqueçamos: foi a própria Dilma que começou a desenhar o perverso ajuste fiscal, tocado a toque de caixa pelos seus Ministros Joaquim Levy, Alexandre Tombini e Nelson Barbosa. O ajuste é aplicado atualmente pelo Ministro da Fazenda de Temer, Henrique Meirelles, que, não por acaso, foi Presidente do Banco Central de 2003 a 2011, sob os dois governos Lula.

Por isso o PT perdeu grande parte do apoio e simpatia que angariou nos últimos 15 ou 20 anos. O discurso do golpe serve para atrair de volta esses milhões de brasileiros que repudiam o PT. O golpe marcaria uma espécie de ruptura com um imaginário período de governos progressistas, encabeçados por Lula e Dilma, comprometidos com as camadas populares do nosso povo, e o começo de outro tempo, dominado pelo atual governo Temer, mostrado como golpista, conservador e dedicado a atacar as conquistas da época anterior. Assim o PT tenta esconder que ele próprio começou a adotar as medidas antipopulares do ajuste fiscal, levou Temer para o Palácio do Planalto, e que deu causa ao impeachment, quando perdeu o apoio popular de que gozava, tornando-se, exatamente por isso, imprestável no governo federal para os grandes empresários e banqueiros, pois já não era mais capaz de aplicar o ajuste fiscal.

Não há o golpe! O que há é o golpe do golpe! Fora Temer! Fora todos eles! Eleições gerais sem os corruptos já!

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1 Palavras de Dilma, colhidas do blog de Fernando Rodrigues.
2 Extraído da mesma fonte.
3 Vídeo produzido pelo Instituto Lula, dirigido aos deputados.

4 Fonte: http://oglobo.globo.com/brasil/em-aceno-para-oposicao-temer-prega-unidade-nacional-16700525#ixzz4CpxZMFXU.

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