A privatização da natureza e a destruição do mundo – sobre Bento Rodrigues, Mariana – MG.


A sobrevivência da espécie humana sempre esteve interligada ao ambiente que ocupou e ocupa ao longo da história. As relações de produção vigentes na sociedade são determinantes para definir a interação entre o homem e a natureza. Cada vez mais assistimos a catástrofes ambientais, que são exemplos da crise ambiental causada pelo modo de produção capitalista que ameaça todos os sistemas vivos encontrados na biosfera. 

No Brasil, tivemos um dos maiores desastres de rejeitos da indústria da mineração que agora completa um ano. Bento Rodrigues, distrito de Mariana, foi destruído, varrido por uma massa de lama com 60 milhões de m³, que levou vidas e um rastro de morte e impactos por 600 km. Esse desastre foi considerado o pior da história segundo um estudo¹ realizado que analisou 129 acidentes com barragens dos 269 conhecidos. Foram analisadas três medidas de magnitude para avaliar os impactos dos acidentes com barragens de dejetos de atividade mineradora. O volume de dejetos, a quilometragem que eles percorreram e o custo com o acidente. Através desses parâmetros foi obtido o resultado de que a catástrofe da barragem de fundão, em Mariana, MG, foi o pior acidente que já aconteceu. 


A busca por lucro atrelada à redução de custos, como gastos com a segurança, significa um ataque direto, massivo e devastador para o meio ambiente e a espécie humana. A Samarco cortou verbas para a segurança das barragens, aumentou seu lucro e, como consequência, a quantidade de dejeto subiu e o sistema de armazenagem dos subprodutos da extração de ferro não aguentou a pressão. É importante compreender a complexidade das atividades de empresas que exploram os recursos naturais, mas fica cada vez mais fácil entender a lógica da produção capitalista que explora não só o trabalhador de diversas maneiras, mas empurra o planeta para uma crise ambiental global. Enquanto os recursos naturais forem propriedade privada, as reais e profundas causas da crise ambiental não terão sido encaradas de forma crítica, pois ela é um reflexo das contradições de classes inerentes ao sistema capitalista.

A barragem de fundão era a menor, esse acidente pode acontecer novamente e as proporções de destruição podem ser muito mais profundas. A Vale é umas das maiores exportadoras do Brasil, e a maior produtora de minério de ferro do mundo². Os trabalhadores e a população devem confiar apenas em suas forças, no sentido de dar uma resposta pela raiz aos desastres causados pela gestão capitalista dos negócios, que destruiu o Rio Doce, destruiu distritos inteiros e que jogou na foz do rio uma quantidade enorme de dejetos minerais que estão acabando com toda a vida das regiões por onde passa a lama contaminada e que mantém populações na extrema precarização. 


A expropriação sem indenização aos antigos donos e a reestatização de mineradoras como a Vale sob controle dos trabalhadores, é uma saída que mostra cada vez mais sua atualidade. Isso por que apenas um planejamento racional a serviço dos interesses da população é que pode acabar com tanto desmando a serviço do lucro. Os capitalistas e seus representantes nos governos devem sair para que a vida das pessoas, as condições de trabalho, a riqueza natural e o meio ambiente sejam fonte de riquezas que garantam boa qualidade de vida e não meros detalhes na gestão de um dos principais ramos da economia do país.






¹Bowker, L. N., Chambers, D. M. “The risk, public liability & economics of tailings storage facility failures”. Disponível em: http://goo.gl/KdPY8w
² http://www.infomoney.com.br/mercados/noticia/3789391/exportacao-minerio-ferro-brasil-bate-recorde-dezembro

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