A Recolonização do Brasil
Por: Wagner Damasceno - Secretaria Nacional de Negros do PSTU
Jair
Bolsonaro (PSL) celebrou um acordo comercial firmado nessa
sexta-feira (28/06) entre Brasil, Mercosul e União Europeia. Um
acordo que é mais um passo no processo de recolonização do Brasil.
A
bem da verdade, Bolsonaro dá prosseguimento a um processo iniciado
por FHC (PSDB), Lula e Dilma (PT): de subordinação do país como
uma colônia no capitalismo mundial, produzindo e exportando
matérias-primas para os países imperialistas, aumentando a
exploração e a opressão da classe trabalhadora e, de quebra,
destruindo as nossas riquezas naturais.
O
acordo celebrado por Bolsonaro anuncia que o Brasil e a América do
Sul exportarão para a Europa soja, carne, laranja, etanol e
minérios. E, "em troca", comprarão os produtos europeus
industrializados: medicamentos, carros, celulares e outros
eletrônicos.
Nenhum
setor da burguesia brasileira protestou contra isso. Mostrando - mais
uma vez - que a burguesia brasileira é completamente servil e
resignada ao papel de sócia minoritária do imperialismo
estadunidense e europeu.
Da
indústria de volta para o latifúndio
Falamos
em "recolonização" do Brasil porque há um processo de
desindustrialização do país e de cristalização de uma economia
nacional baseada na produção e extração de matérias primas para
vender pro exterior e que, assim como no período colonial, compra os
produtos manufaturados das "metrópoles".
A
participação do país na indústria de transformação mundial vem
caindo a cada ano. Em 2000, essa participação representava 2,89% e,
em 2016, representou 1,84%. Enquanto isso, o governo estimula e
governa para o agronegócio e para os bancos.
Essa
opção também agrava um problema que aflige os trabalhadores
brasileiros: o desemprego. Afinal, via de regra, fábricas e
indústrias são capazes de absorver um número muito maior de
trabalhadores do que agronegócios para a plantação de soja, cana
de açúcar, laranja etc. Quando o agronegócio incorpora muita mão
de obra, em geral, é em condição análoga à escravidão.
Como
se isso tudo não bastasse, a previsão é que esse "grande"
acordo firmado por Bolsonaro vai gerar a minguada cifra de R$ 125
bilhões em 15 anos. Ou seja, esse acordo renderá apenas R$ 8,3
bilhões por ano. À guisa de comparação, só a Petrobras teve um
lucro líquido de R$ 25,8 bilhões, no ano passado.
Por
fim, para aqueles que, apesar disso, retrucam dizendo que é um
exagero dizermos que há uma recolonização do Brasil em curso –
já que a participação de empresas do país em acordos
internacionais por si só seria positiva – reproduzimos as
conclusões do economista Artur Monte Cardoso, em
seu
estudo
sobre a atividade de alguns dos principais grupos
econômicos brasileiros:
O
senhor de engenho brasileiro do século XVI ou XVII participava de
uma das cadeias produtivas mais dinâmicas, vendia para os mais
importantes mercados consumidores, era financiado pelas maiores casas
financeiras e comerciais europeias, operava uma das tecnologias mais
modernas de sua época e estava no centro das rotas comerciais mais
promissoras. Mesmo assim, sua margem de manobra e sua participação
no excedente econômico eram mínimas e tudo o que controlava estava
da porteira para dentro: suas terras, que soube utilizar até a
exaustão,e seus escravos, que soube explorar até a morte. Não
seria um retrato de nossa moderna burguesia dos negócios?1
A
covardia da burguesia brasileira não é uma característica inata.
Ela é herança do medo que os senhores de terra tinham dos negros
escravizados e que se transformou, posteriormente, num pavor da
classe trabalhadora e do povo pobre. Por isso, a burguesia é capaz
de entregar a faixa presidencial a um miliciano populista e de
extrema-direita como Bolsonaro e é incapaz de romper com o
imperialismo ou cumprir qualquer papel progressivo no país.
Exatamente
por isso, é completamente equivocado renunciar à independência
política da classe trabalhadora em nome de uma unidade com a
burguesia. Esse é o balanço que nós trotskistas recolhemos das
traições do stalinismo e, mais recentemente, das traições do PT e
do PCdoB.
E
neste ponto não cabe nenhum rodeio: o único meio de evitar o curso
de recolonização do país e promover uma verdadeira independência
é através de uma revolução socialista, realizada pela classe
operária e pelo povo pobre, em aliança com os trabalhadores do
campo. Uma revolução que significará um golpe de morte na
dominação imperialista na América Latina e será um chamado para a
construção de uma Federação das Repúblicas Socialistas
Latino-Americanas.
1Burguesia
brasileira nos anos 2000 – um estudo de grupos industriais
brasileiros selecionados.
Dissertação de Mestrado. Campinas: UNICAMP, 2014, p. 19.
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