Polícia usa bala de borracha e bomba para impedir feridos de serem socorridos
Polícia usa bala de borracha e bomba para impedir feridos de serem socorridos
Por: Diogo Leal
Moradores
do Morro do Mocotó passaram por momentos de terror no dia 12 de
setembro de 2019 durante uma ação policial. Após tiros no meio da
tarde perto de uma escola, a PM usou balas de borracha e bombas de
efeito moral para impedir moradores e parentes de prestar socorro a
dois homens baleados na ação policial. A PM deixou no mínimo 5
feridos. Entre os feridos estão uma mulher grávida de 4 meses e uma
criança.1
As câmeras corporais usadas pelos policiais estavam desligadas,
estranhamente.
Uma moradora do Morro do Mocotó
relata que foi buscar filha na casa da prima e que quando estava
voltando para sua casa “veio dois (PMs) pelo beco e quando eu
estava na frente da escolinha subindo com minha filha, eles miraram,
deram pra cima e não queriam saber se tinha criança ou não. O tiro
passou de raspão na perna da minha filha. No que eu puxo ela, atinge
a minha perna. Se eu não tiro ela, ia pegar bem na perninha dela”.2
Essa foi mais uma ação
violenta, desumana e preconceituosa (por considerar todo negro e
morador de favela como um bandido) que aumentou muito neste ano
segundo moradores das comunidades de Florianópolis. João *3,
morador do Morro da Caixa, diz que “aumentou as ações da polícia
que já chega dando tiro na comunidade sem pensa. No começo do ano,
a PM chego meio-dia dando tiro lá de cima pra baixo. Tinha crianças
voltando da escola com mães e avós”.4
João também falou que vê ligação entre o aumento da violência
policial com as declarações do presidente Bolsonaro que já disse
querer dar carta branca para PM matar em serviço.
Neste ano também aconteceu o
assassinato de um jovem negro de 19 anos pela PM no bairro dos
Ingleses. Ele brincava com uma arminha de pressão no quintal de casa
quando passou uma viatura da polícia disparando contra ele. O Jovem
foi alvejado por quatro 4 tiros. O inquérito da PM concluiu que o
policial que assassinou Vitor Rodrigues Xavier da Silva agiu em
legítima defesa. Um exemplo da impunidade que ronda violência
policial no país.5
Violência policial aumentou
Essa violência policial contra
trabalhadores pobres e negros, especialmente moradores das favelas, é
uma realidade nacional e que vem aumentando a cada ano em nosso país.
Somente no Rio de Janeiro a polícia matou 46% mais pessoas que no
ano passado.6
Já no país todo a polícia matou 18% mais pessoas em 2018 do que em
2017.7
Para os governantes e as forças policiais todo negro e morador de
comunidades é um bandido em potencial.
Muitos casos revoltantes acontecendo em todo o país nesse
ano. Em abril o exército fuzilou um carro de família matando o
músico Evaldo Rosa e o catador de lixo Luciano Macedo.8
A primeira resposta do Exército foi a mentira de que os militares
estavam reagindo a um ataque de bandidos. Em agosto foi manchete
nacional que 5 jovens negros haviam sido mortos pela polícia em
apenas 80 horas.9
Nenhum deles tinha ligação com o crime. O governo do Estado do RJ,
de forma cínica, chamou isso de “efeito colateral” da guerra às
drogas. 22 de setembro, Ágatha Vitória Sales Félix, negra, de
apenas 8 anos, foi assassinada pela PM com um tiro nas costas dentro
de uma kombi. “Foi a filha de um trabalhador ,tá? (…) Agora vem
um policial aí e atira em qualquer um que está na rua. Acertou
minha neta. Perdi minha neta. Não era para perder ela, nem ninguém”,
disse indignado o avô de Agatha.10
Também teve muitos casos
emblemáticos nos últimos anos. Em 2013, o ajudante de pedreiro
Amarildo Souza foi torturado e assassinado por PMs da UPP (Unidade de
Polícia Pacificadora).11
Em 2014, a auxiliar de serviços gerais Claudia Silva Ferreira foi
baleada pela polícia quando ia comprar pão para família. A imagem
revoltante de Claudia sendo arrastada como lixo pela viatura da PM
correu o mundo.12
Por isso uma das medidas que o
PSTU defende para acabar com a violência que assola as favelas e,
principalmente, tantos negros no Brasil é a desmilitarização da PM
(transformar em polícia civil) porque parte dessa violência da PM
está ligada a sua origem na Ditadura Militar.
Legalização
em vez de guerra
A
guerra às drogas é uma política de controle social da população
negra e pobre que aumenta a repressão das periferias das grandes
cidades. A classe trabalhadora é o alvo mais atingido por esta
guerra porque fica refém da luta entre as facções do tráfico,
milícias e polícia. Morrem mais pessoas vítimas dessa guerra do
que do consumo de drogas. Os EUA só conseguiram acabar com o tráfico
de bebidas alcoólicas e com seus traficantes quando legalizou o
consumo e venda de álcool. Um dos principais meios de acabar com essa
violência racista estatal e com o tráfico de drogas é legalizando
as drogas com o controle do próprio Estado.
Opinião sobre caso do Mocotó
Segundo a polícia, os dois
baleados no Morro do Mocotó tinham envolvimento com o tráfico.
Porém, isso não explica usar de violência para impedir que
moradores e parentes os socorressem. O tratamento dado a criminosos
“importantes” como políticos e grandes empresários é diferente
do dado aos trabalhadores pobres e negros. O ex-coronel e empresário
amigo de Temer, João Batista Filho, passou mal no ato de prisão e
foi prontamente levado para um hospital, por exemplo.
3 Nome
fictício para garantir segurança e anonimato ao entrevistado.
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