Racismo no concurso da prefeitura de Florianópolis



No dia 5 de agosto de 2019 a prefeitura de Florianópolis (PMF) lançou um edital1 de concurso público que abrange várias áreas de trabalho. Os negros e indígenas foram intencionalmente esquecidos no conteúdo histórico do concurso. Não há nenhuma menção aos negros e indígenas, apenas aos imigrantes e povoadores que, na historiografia oficial, costumam ser considerados somente os europeus.

Os concursos públicos cobram uma série de conteúdos nas suas provas e, normalmente, há os conteúdos de “conhecimentos gerais”. Este concurso também cobra em conhecimentos gerais “aspectos históricos, geográficos, econômicos e culturais” e neste conteúdo simplesmente esconderam a presença de indígenas e negros na história, cultura e economia da cidade de Florianópolis. Falam apenas de povoadores e imigrantes que, na historiografia oficial, são sempre brancos europeus. 
 
Uma das muitas formas de racismo no Brasil é o culto aos colonizadores e imigrantes europeus. Isso é muito forte no sul do país onde a imigração italiana e alemã é intencionalmente supervalorizada pelas elites e governos locais enquanto os negros e os indígenas são jogados para de baixo do tapete junto com a lembrança da escravidão e do genocídio dos povos indígenas. No caso de Florianópolis, supervalorizam os açorianos (portugueses da ilha dos Açores).

O racismo no edital do concurso não é um caso isolado porque no próprio site oficial da PMF2 os negros também foram intencionalmente esquecidos enquanto as origens europeias são lembradas e valorizadas. A mesma situação racista foi encontrada também no site Wikipedia na seção História de Florianópolis.3

Em que pese as iniciativas da prefeitura de Gean Loureiro de fazer os murais em homenagem a líder negra Antonieta de Barros e ao poeta negro Cruz e Souza, ainda é pouco e não apaga o racismo da própria prefeitura que nem ao menos reconheceu ainda a data de 20 de novembro como o feriado do Dia da Consciência Negra. Além disso, não é o primeiro caso de “racismo institucional” na prefeitura de Florianópolis. Foi denunciado em 2016 que na matrícula das creches públicas não havia nenhuma opção de religião de origem africana.4


Os negros em Florianópolis

A presença de negros na história de Florianópolis vem de séculos atrás ligada ao sequestro na África para serem escravizados nas colônias europeias. Um censo oficial realizado em 1796 mostra que os negros escravizados eram aproximadamente 22% da população da cidade e os negros libertos eram 1,8%.5 Ou seja, 23,8%. A pesca de baleia, fábricas de farinha e engenhos de açúcar eram algumas das muitas atividades econômicas que faziam uso da escravidão, por exemplo. 
 
Já nos dias de hoje, 14,68% da população de Florianópolis é autodeclarada negra (maior do que nos EUA onde os negros são 13,8%6) mas são 40% das pessoas que vivem em favelas, morros e assentamentos irregulares.7 Isso é o mesmo que dizer que 1 a cada 6 pessoas de Florianópolis é autodeclarada negra, e que 1 a cada 3 moradores de favelas, morros e assentamentos irregulares são negros. Esses dados são de 2012.

Para saber mais sobre os negros em Florianópolis e região clique no link e leia nossos estudos: http://pstuflorianopolis.blogspot.com/2014/11/a-populacao-negra-na-regiao.html
 

O exemplo de combate ao racismo
 
Zumbi, líder mais conhecido do Quilombo dos Palmares, deixou muitas lições. A mais importante é que aluta contra o racismo e a opressão deve ser uma luta contra todo o sistema. No quilombo não se encontravam apenas o povo negro organizado para resistir contra a opressão e a exploração, mas também artistas, indígenas, brancos pobres, perseguidos políticos pelo Estado, etc. Um lugar de resistência de todo o povo explorado e oprimido. 
 
O prefeito Gean Loureiro deveria instituir o dia 20 de novembro como feriado do Dia da Consciência Negra em Florianópolis porque dessa maneira marcaria o início de uma reparação com os negros na história da cidade. E também seria uma forma de reconhecer a resistência do povo negro na época da escravidão e a luta do povo negro contra o racismo nos dias atuais.

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7Estudo dos Indicadores Socioecônomicos da População Negra da Grande Florianópolis. http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/09_04_2012_17.15.23.8da1b09262509a280c6a6c8d0d680f03.pdf

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