Zé Maria envia carta a Dilma
Assunto: Presidente nacional do PSTU envia carta aberta à Dilma
Dilma, impeça o massacre contra os Guarani-Kaiowás
Presidenta Dilma,
O
Brasil acompanha chocado o drama dos indígenas Guarani -Kaiowás no Mato
Grosso do Sul. A carta divulgada por uma comunidade formada por 173
indígenas acampados hoje à beira do rio Hovy causou
comoção em todo o país e até fora dele. E não é por menos. Ela expressa
a situação de desespero e angústia de uma comunidade que se vê obrigada
a enfrentar os pistoleiros contratados pelos latifundiários, uma
situação de extrema miséria e o mais completo abandono. E agora, ainda
se depara com uma ordem de despejo da Justiça Federal de Naviraí!
Em
determinado momento, a carta chega a pedir para que se decrete “a nossa
dizimação e extinção total” e para “enviar tratores para cavar um
grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos”. Não, presidente
Dilma, os indígenas encurralados entre as balas dos jagunços e a ordem
de despejo, não desistiram de brigar por sua terra. Pelo contrário,
demonstram a
mesma disposição de luta histórica que garantiu sua própria
sobrevivência após cinco séculos de escravidão, rapina e genocídio. As
palavras fortes da carta, porém, mostram a que ponto chegamos.
Os
Guarani-Kaiowá , segundo maior grupo indígena no país com quase 50 mil
pessoas, constituem um dos exemplos mais dramáticos da situação de
barbárie social a que estão submetidos os povos originários. Segundo a
Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), 555 indígenas desse grupo
se suicidaram entre 2000 e 2011 pelo abandono, falta de perspectivas e o
confinamento cada vez maior devido ao avanço do agronegócio. A maioria,
jovens. Só este ano já ocorreram 30 suicídios.
Sabemos,
presidente Dilma, que essa situação não é de hoje, mas o resultado de
séculos de opressão. O seu governo, porém, como o do ex-presidente Lula,
tem a sua parcela de responsabilidade. A política de privilegiar o
grande agronegócio exportador e os latifundiários, os ‘heróis’ de Lula,
legitima o confinamento dos indígenas em espaços cada vez mais
reduzidos. A precarização de órgãos como o Incra e a Funai, por sua vez,
contribui para que grande parte das comunidades indígenas se vejam
privada dos serviços públicos mais básicos e, por sua vez, de condições
de vida minimamente decentes. O seu governo, presidente, publicou a
Portaria 303/2012 que, como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI)
denuncia, representa um
verdadeiro retrocesso no processo de reconhecimento, demarcação e
titulação das terras indígenas.
O
mundo vê agora, presidente Dilma, o real resultado dessa política
econômica que produz grandes lucros para alguns poucos e a mais completa
penúria para outros tantos. Mesmo que esses outros tantos sejam, por
direito, os verdadeiros donos dessas terras. É esse um “Brasil de
todos”? De que adianta sermos a sexta economia do mundo se as nossas
terras se transformam num imenso cemitério dos nossos povos originários?
Estamos assistindo a vitória da exploração, da violenta colonização, do
genocídio indígena. A vitória da barbárie.
A
indignação que vemos agora, presidente, é parecida com a indignação que
tomou conta do país no brutal despejo do Pinheirinho, em São José dos
Campos (SP). Na ocasião, a violenta ação policial foi provocada pelo
governo Alckmin do PSDB. Denunciamos, na ocasião, a omissão do Governo
Federal, que poderia ter evitado aquele despejo caso realmente quisesse.
Mas agora, presidente, a questão indígena tem a ver diretamente com o
seu governo. A ordem de despejo vem da Justiça Federal. É a presidência
que cuida das homologações de terras, há tanto paralisadas.
Por
isso
que me dirijo à senhora, presidente, para fazer uma exigência: Evite
mais uma tragédia social! Intervenha na ameaça de despejo contra a
comunidade dos Guarani-Kaiowás! Mude sua política de privilégios ao
agronegócio e atenda as reivindicações históricas das comunidades
indígenas! Avance no processo de demarcação e homologação das terras! E
perceba, presidente Dilma, que os verdadeiros heróis desse país são o
povo indígena e quilombola, que insistem em resistir a séculos de
massacres.
Zé Maria, Presidente nacional do PSTU e ex-candidato a Presidência da República
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