Eleições Municipais de Florianópolis: Qual a Mudança?
As eleições em
Florianópolis (SC) chegaram ao seu fim resultando na eleição de César Souza
Júnior (PSD). Lamentamos profundamente a vitória do candidato que representa
uma vitória importante das velhas oligarquias em nosso estado, como os
Bornhausens e os Amins, e o Governo Raimundo Colombo (PSD). Essa vitória, a
vitória do PSD em Chapecó, em São José e em outras cidades e a vitória de Luís
Henrique (PMDB) em Joinville, principal aliado de Colombo, coloca mais força
para o projeto político da reeleição de Colombo (PSD), que hoje criminaliza
duramente os trabalhadores da saúde em greve e não negocia. Assim como faz com
outras categorias.
A vitória de
César se deu em meio a um segundo turno onde havia um oponente claramente de
direita, Gean Loureiro (PMDB), que representava a continuidade de Dário Berger,
da Moeda Verde, da compra de votos na Câmara de Vereadores, da repressão às
greves de trabalhadores e das lutas estudantis pela redução da tarifa e um
imenso etc. Gean também representava o PMDB do vice-governador Pinho Moreira.
Nenhum dos dois que passaram o segundo turno representavam uma opção real. A
opção era o voto nulo!
Porém, ao mesmo
tempo, é importante dizer, que essa vitória política das elites tradicionais se
dá em meio a grande frieza e ceticismo diante da democracia dos ricos. Foi a
força do poder econômico que deu base a essa vitória e não os comícios
populares com as demonstrações espontâneas de apoio popular e empolgação.
Os quase 100 mil eleitores da capital que neste segundo turno se abstiveram,
votaram em banco ou votaram nulo, demonstram isso. Um fenômeno que se repetiu
em outras cidades do estado e do país.
Outro fenômeno
paradoxal dessas eleições foi ver políticos da direita tendo que se apresentar
como o novo para poder ganhar votos da população mais pobre, de setores jovens
e dos setores médios. Sobraram os discursos demagógicos de valorização do
serviço público, de colocar freios à predatória especulação imobiliária, de
defesa do passe-livre, da participação popular e etc. A direita teve que
esconder grande parte de seu programa privatista e de criminalização da pobreza
e dos movimentos sociais para ter viabilidade eleitoral nessas eleições em
Florianópolis.
Isso nos leva a
uma primeira conclusão: a vitória eleitoral conquistada tem limites. Não é hora
para abaixar a cabeça, devemos desde já arregaçar as mangas e preparar a
resistência. Vamos fazer dos 4 anos de mandato de César um verdadeiro inferno
com a luta e a resistência dos trabalhadores e da juventude. Ele não terá um
minuto de sossego para planejar seus ataques contra as condições de vida dos
trabalhadores.
O PT e o PCdoB
Nessas Eleições
Essa eleição
municipal também teve outro marco importante. A dura derrota eleitoral na
cidade de Ângela Albino (PCdoB), que tinha como vice Nildão do PT. Não adiantou
colocar no programa eleitoral Lula, Dilma e seus ministros. Não adiantou os
milhões coletados com construtoras, empreiteiras e todo tipo de grandes
empresários. O discurso bem à direita não cativou e ficaram de fora do segundo
turno.
É bem verdade que
o PT, e seu aliado mais fiel, o PCdoB, se fortaleceram eleitoralmente no país
ganhando mais prefeituras neste ano, se analisarmos o conjunto dos resultados
eleitorais. Um caso emblemático disso é a vitória sobre o PSDB em São Paulo com
o PT de Haddad e o PCdoB como seu vice. Mas nem tudo são flores. Houve derrotas
importantes também para além de Florianópolis, como Recife, Belo Horizonte e
Fortaleza para o PT e em Porto Alegre e Manaus para o PCdoB.
Uma segunda e
importante conclusão é que, em dez anos ocupando o governo federal, o PT e o
PCdoB optaram por trilhar um caminho que os levaram para muito longe das
reivindicações históricas dos trabalhadores. Com sonhos não se brincam e o PT e
o PCdoB vem brincando, desconsiderando a confiança depositada neles pelos
milhares de homens e mulheres e o seu desejo de mudança. A guinada em alta
velocidade desses partidos à direita foi também um dos fatores responsáveis
pela vitória eleitoral de Colombo nessas eleições. Lembremos que o PT e o PCdoB
deram apoio ao nascimento do PSD para trazê-lo para a base do governo. A
própria Ângela Albino foi uma das primeiras em nosso estado a saudá-lo quando
houve sua criação. E em meio à euforia pós-eleições, políticos antes
adversários, hoje já falam de uma ampla aliança para 2014 para reeleger Dilma e
Colombo. Caso isso não se concretize, só a possibilidade de acontecer já
demonstra o que é hoje o PT e o PCdoB.
Mesmo que de
forma distorcida pelas eleições burguesas, o resultado dessa insatisfação se
expressou de maneira silenciosa nas urnas diante da manutenção da corrupção dos
mensalões e dos cachoeiras, dos baixos salários, da volta da ameaça do
desemprego com a desaceleração econômica e com a manutenção e o aprofundamento
das privatizações no país, fazendo com que as campanhas eleitorais do PT e do
PCdoB percam cada vez mais os contornos de mobilização popular e fiquem cada
vez mais iguais as outras da direita tradicional cheias de financiamento de
grandes empresários, militância paga e muitas promessas eleitoreiras.
O Fenômeno Élson
do PSOL
Está fora de
questão que hoje existe no país um marco geral de estabilidade burguesa que
explica em grande parte as vitórias eleitorais do governismo (seja federal,
estadual ou municipal). Ou ainda, que a amplíssima maioria dos candidatos
vitoriosos esteja no marco dos dois blocos burgueses hoje hegemônicos (PT e
partidos da base governista de um lado, PSDB e DEM de outro).
Mas como viemos debatendo, é preciso reconhecer que em Florianópolis e em diversos outros locais do país, ficou expresso nas eleições o que já vínhamos percebendo nas lutas dos trabalhadores e da juventude: um setor que votava no PT e no PCdoB, cansados da reprodução das práticas da velha direita, começou a procurar alternativas.
Uma parte desse
setor foi para a direita que se vestiu de um discurso demagógico de mudança,
como César Souza Júnior que teve que maquiar a maior parte de seu programa de
privilegiamento ao grande capital. Também houve uma ruptura no plano municipal
do bloco de partidos do Governo Federal que procurou capitalizar isso pra si,
principalmente com o PSB, roubando a vitória do PT em Recife, Fortaleza e Belo
Horizonte.
Mas isso também
abriu possibilidades de se aumentar a influência política dos partidos da
oposição de esquerda ao Governo Federal. Vimos aqui a expressiva votação do
professor Élson (PSOL) como grande prova de um espaço inédito para a oposição
de esquerda. O PSOL também elegeu dois prefeitos no país, sendo um deles numa
capital (Macapá – AP), e aumentou consideravelmente sua bancada de vereadores
pelo país. Esse novo momento também tornou possível a votação histórica da
professora Amanda Gurgel para Vereadora em Natal (RN) como a mais bem votada do
país e a eleição do operário da construção civil Cléber Rabelo para Vereador em
Belém (PA), ambos do PSTU, assim como outros êxitos eleitorais de nosso partido
no país.
Uma terceira
conclusão dessas eleições é que as lutas dos trabalhadores e da juventude, que
não foram poucas desde o ano passado, somado ao resultado das urnas, dão sinais
de que um novo momento político do país pode estar se desenvolvendo em meio a
um cenário de crise econômica internacional e de desaceleração da economia
brasileira. No meio disso tudo ainda temos a forte repercussão do julgamento do
mensalão e importantes lutas, como a recente greve de 4 meses dos servidores
públicos federais e estudantes. Mais setores da sociedade prestam atenção em
partidos e candidatos associados com o projeto do socialismo. Essa é a mudança
que mais importa!
A
Responsabilidade da Esquerda Socialista Nesse Cenário
É grande a responsabilidade da esquerda
socialista dentro desse contexto e que abarca não só a esquerda que se organiza
em partidos políticos. Nós, do PSTU, fizemos muitas reuniões para tentar fechar
uma frente de esquerda com o PSOL e o PCB nestas eleições em Florianópolis. No
entanto, diferenças sobre o financiamento de campanha, onde o PSOL propunha não
negar recursos de grandes empresas; sobre o programa a ser defendido, como a
defesa do PSOL da manutenção de empresas privadas lucrando nos ônibus municipais,
ao passo que defendíamos a municipalização de todo o sistema de transportes; e
divergências sobre qual o perfil da candidatura majoritária a ser apresentada
pela Frente, onde ao contrário do PSOL, propúnhamos alguém com trajetória
reconhecida na luta dos trabalhadores, como a professora Joaninha de Oliveira,
para ser a candidata da frente, ou Afranio Boppré, simbolizando uma proposta de
governo para os trabalhadores e não para “todos” (incluindo grandes grupos
econômicos da cidade), todas essas diferenças, acabou impedindo a frente de se
concretizar, com a imposição pelo PSOL de uma candidatura à Prefeitura que
tinha como eixo o planejamento sem um claro conteúdo de classe. No segundo
turno vimos a mesma hesitação do PSOL se negando a chamar o voto nulo.
Acreditamos que esses debates
estratégicos não são secundários, ao contrário da tradição pragmática e
empirista da esquerda brasileira. O crescimento eleitoral, ou somente a
possibilidade dele, sempre cria grandes tentações para amenizar os discursos,
não denunciar os ricos e poderosos, de ampliar o leque de alianças e de
flexibilizar os critérios de financiamento de campanha que acabam rompendo as
barreiras de classe. Nesse sentido, não podemos silenciar sobre as alianças que
o PSOL fez em Belém com Lula e Dilma e em Macapá com o DEM, o PTB e o PSDB. Não
se trata de um debate regional, mas sim de um debate divisor de águas para a
esquerda em nosso país diante de qual a alternativa política e programática que
vamos construir em oposição aos governos que aí estão. Mais do que nunca está
atual o debate mais clássico da esquerda: reforma ou revolução?
Uma Campanha
Eleitoral Classista e Socialista à serviço das Lutas!
Em nome de toda a militância do PSTU de Florianópolis
gostaríamos aqui de agradecer aos trabalhadores e trabalhadoras
florianopolitanos pelos 1.547 votos que tanto orgulha a candidatura de Gilmar
Salgado à Prefeitura da cidade e de Diogo Leal para a Vice-Prefeitura nestas
eleições. Obtivemos também 1.751 votos para vereador ao apresentar a candidatura
da Professora Joaninha de Oliveira e de João Sol, técnico-administrativo da
UFSC.
Enfrentamos nestas eleições 3 candidaturas cheias de
promessas eleitoreiras (Gean do PMDB, César do PSD e, infelizmente, também
Ângela do PCdoB) com orçamentos que ultrapassaram R$ 18 milhões de reais
somente para as candidaturas majoritárias e que gastaram mais de R$ 100 milhões
para suas chapas de vereadores. Todo esse dinheiro saiu dos cofres das grandes
empresas da cidade que depois vão cobrar muito caro em favores e corrupção,
seja quem ganhe, por isso, passa eleição e vem eleição e a vida não muda de
verdade.
Nós, do PSTU, fizemos uma campanha limpa, baseada
unicamente na militância, no trabalho voluntário e na capacidade de arrecadação
financeira dos próprios trabalhadores. Em um programa de TV de 1 minuto e 40
segundos e boicotados por todas as redes de TV que não nos chamaram para os
debates, entre outras formas de boicote descarados, fomos capazes de apresentar
propostas coerentes com as bandeiras do socialismo, ao mesmo tempo em que fomos
a candidatura que não hesitou em apoiar todas as lutas em curso e de
responsabilizar os atuais e passados governantes pela difícil situação em que
se encontram os trabalhadores de Florianópolis em termos de saúde, moradia, transporte,
educação, violência e tantos outros temas sensíveis
Nossa campanha mostrou que ninguém está condenado a
escolher entre o ruim ou o pior e uma parcela da população prestou atenção em
nosso chamado. A maioria, por uma série de motivos, acabou votando em outros
candidatos, mas nos recebia sempre com enorme simpatia em todos os lugares que
caminhamos. Essa realidade era apenas a comprovação daquilo que as pesquisas já
apontavam: fomos, durante todo o processo eleitoral, a candidatura com os menores
índices de rejeição. Ou seja, cumprimos o objetivo central de uma candidatura
classista e socialista: disputamos o voto conversando e politizando os
trabalhadores e boa parte deles nos entenderam e nos apoiaram, ainda que tenham
feito outra opção de voto. Frente a tudo isso, consideramos nossa campanha um
exemplo de que é possível fazer uma política diferente dos políticos
tradicionais, longe das promessas eleitoreiras, pautando-se na dura vida dos
trabalhadores, negando o financiamento dos empresários e fortalecendo as lutas.
Vamos alertar os trabalhadores e o povo pobre e preparar as
lutas contra os grandes ataques que estão por vir, como a reforma trabalhista
do governo Dilma (Acordo Coletivo Especial), a tentativa de aumento da idade de
aposentadoria, a contrarreforma urbana expressa pelas grandes obras e a
criminalização das ocupações urbanas e as medidas privatizantes contra a saúde
e a educação.
Até logo... e nos vemos nas lutas! Podem contar com nosso
partido sempre ao lado dos trabalhadores e da juventude!
PSTU-Florianópolis
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