O PT de Santa Catarina com chapa própria: farsa ou tragédia?
-->
Por Tarcísio Eberhardt,
do PSTU
O diretório estadual
do PT-SC divulgou um manifesto onde proclama que o partido no estado
lançará chapa própria e que, inclusive, o PSD de Colombo não
estará no seu arco prioritário de alianças. Em Joinville, há
alguns meses a corrente denominada “Esquerda Marxista” ganhou a
convenção municipal do PT, tornando-se maioria no diretório
municipal. Em Floripa, depois das mais variadas e desastrosas
alianças, nas ultimas eleições o PT elegeu apenas um vereador,
mesmo assim de uma ala mais à esquerda, que tem feito um mandato
próximo das lutas e movimentos sociais.
Estaria o PT, em Santa
Catarina, entrando em uma trajetória rumo a posições mais à
esquerda, como afirmam alguns eternos militantes petistas? Estes
estariam finalmente sendo recompensados pela sua abnegada permanência
no partido que governa o pais por mais de 11 anos e que tem sido o
grande gerente do imperialismo e do capitalismo em nosso país?
Afinal, o que se passa com o PT aqui no estado?
A verdade está bem
longe disso. Se por um lado é verdade, como afirma o manifesto da
direção estadual do PT, de que o partido nunca chegou a governar
diretamente o estado, isso não significa que ele já não esteja
politicamente na direção do atual governo. Colombo hoje é aliado
de Dilma e da cúpula nacional do PT. Tanto que Dilma e o PT nacional
estavam dispostos a exigir que o partido, no estado, o apoiasse para
sua reeleição.
Ironicamente, foi o
próprio Colombo quem se encarregou de deixar bem claro para Dilma em
sua última visita ao estado que isso era desnecessário. A sua atual
aliança já tem muitos problemas para se manter até mesmo entre o
PSD e PMDB, mais difícil ainda seria ter que dividir ainda mais as
candidaturas com o PT para a próxima eleição. Por outro lado,
Colombo sabe muito bem que o PT local não é páreo para ele nas
eleições. O que interessa a ele é continuar sua aliança com o
governo federal, que lhe rendeu mais de R$ 9 bilhões para suas
obras, com as quais ele conta para sua reeleição, não só pelo
apelo eleitoral que elas representam, mas, principalmente, por
distribuir dinheiro aos rodos para os seus políticos amigos e
empresários de todo estado.
Portanto, nem Colombo
e mesmo o PT nacional estão muito se importando com oque PT regional
vai fazer nas próximas eleições. Colombo porque não precisa dele
para se reeleger, preferindo para isso coligar com PMDB e PP. A
cúpula do PT nacional, incluindo Ideli, porque não está preocupada
se a atual direção estadual elegerá ou não pouca gente. O que
importa é garantir uma boa votação no estado para Dilma. Outra
coisa bem diferente é se Ideli quisesse voltar a ser candidata ao
senado. Aí sim, “jogaria duro” para conseguir a coligação com
PSD e PMDB para viabilizar sua eleição. Porém, com a atual chapa
majoritária daqui sendo formada por adversários internos, ela não
está nada interessada com o desempenho eleitoral do PT regional.
Mesmo porque dificilmente terá um bom desempenho nas eleições para
governo do estado.
Na prática, será uma
chapa auxiliar para Colombo, que o ajudará a se reeleger, talvez até
mesmo no primeiro turno. Não lhe oferece perigo, pois só fara uma
oposição de “mentirinha”. A verdade é que o PT, em Santa
Catarina, entrou em decadência antes mesmo de vir a governar o
estado. Sim, o PT de SC apodrece antes mesmo de amadurecer. Não é
nenhum movimento progressivo ele lançar essa chapa própria para
fazer um segundo palanque no estado para Dilma. Sim, segundo, pois o
principal para a eleição presidencial é declaradamente o palanque
de Colombo. Ainda mais nos termos que a direção estadual do PT
procura viabilizar sua candidatura própria: coligando-se com o PP,
da família Amin.
Quando dizemos que o
PT no estado já esta em decadência, não queremos dizer decadência
ideológica e política, pois isso já vem de muito tempo e é um
processo nacional. Aqui nos referimos à decadência no sentido
eleitoral, do número de parlamentares e prefeitos eleitos no estado,
inclusive no que concerne às votações das eleições
presidenciais.
Bem verdade, nunca
chegou a ter bases sociais sólidas por aqui. As grandes e honrosas
exceções foram as regiões Oeste e Sul do estado. No Oeste tinha
forte presença em um dos mais impressionantes movimentos sociais que
esse país já conheceu, que foi o MST. Eram uma potência entre os
“Sem Terras” e os pequenos camponeses. Mas com a politica de
apoio total da direção desse movimento ao Governo Lula, e agora à
Dilma, eles perdem importância dia-a-dia. Afinal, estamos falando de
governos que foram campeões na questão da reforma agraria, mas
campeões de não há fazerem. O que não podia ser diferente, pois
esses governos elegeram declaradamente os latifundiários e
banqueiros como seus heróis e governam para eles.
No sul do estado esse
processo vem de antes. A forte base que o PT tinha em Criciúma e
região estava ligada ao impressionante movimento sindical ali
existente na década de 80 do século passado. Mais essa base foi
estruturalmente desarticulada com a destruição física da categoria
mais importante, a dos mineiros do carvão. Ainda que essa base tenha
continuado durante algum tempo ligada ao PT (fruto do trabalho
anterior e dos demais sindicatos ligados ao partido da região), não
mais voltou a ser a mesma potencia que fora antes.
No resto do estado, o
PT nunca chegou a ter uma base forte nas lutas sociais, o que não
quer dizer que tenha deixado de ter, no passado, uma forte presença
eleitoral em quase todas as grandes cidades. Não quer dizer que não
elegera prefeitos na maioria delas. No entanto, hoje não governa
nenhum dos principais centros de Santa Catarina. Mais do que isso,
depois de governar cidades como Blumenau, Chapecó, Criciúma,
Joinville e mesmo Florianópolis com Grando / Afrânio, não só
perdeu todas essas prefeituras como entrou em forte crise e
decadência.
Não foi por acaso que
o PT não conseguiu se manter nessas cidades: esses governos foram
governos extremamente parecidos com todas as administrações
burguesas. Na maioria dos casos foram ainda mais duros na
implementação de austeridades, ou seja, nos cortes dos serviços
públicos e no ataque ao funcionalismo. O fato de esses governos não
terem uma base social organizada que os pressionassem,
possibilitou-os maior liberdade para atacar os trabalhadores do
município; e assim o fizeram.
Seus governos, via de
regra, pegaram as prefeituras em crise, causada pelas corruptas
administrações burguesas anteriores e fizeram todo o “trabalho
sujo” para saneá-las da forma neoliberal clássica, o que provocou
forte desgaste de seus governos, possibilitando assim que a burguesia
os retomasse uma a uma, sem maiores dificuldades. Interessante
lembrar que em Criciúma, que o PT conseguiu sua reeleição, a
burguesia simplesmente recorreu ao judiciário, que derrubou o
prefeito eleito sem que isso causasse a menor comoção na cidade.¹
O que ocorreu em nosso
estado foi que o PT aqui cumpriu o papel clássico que a burguesia
reserva para os partidos reformistas. A burguesia só os deixa entrar
no governo quando há muita crise em suas administrações, ou em
seus próprios partidos, e depois retoma o aparelho de estado, limpo
e saneado pelos reformistas, que já fizeram o papel mais sujo, e
agora a burguesia pode de novo usar e abusar das “tetas” das
prefeituras.
O fato de o PT perder
esses aparatos eleitorais tem, como não poderia deixar de ser,
gerado grandes crises no seu interior. Essas crises de modo geral não
são mais explosivas porque o aparato do governo federal é grande o
suficiente para absorver seus quadros que sobram aqui quando perdem
prefeituras. Mesmo assim, são inevitáveis as crises, já que, por
se tratar de um partido com estratégia eleitoreira, ao perder
seguidamente eleições em um importante município, perdem também
influência mais direta sobre suas bases sociais. Principalmente na
corrente majoritária do partido, que é a responsável pela
manutenção desses governos. Por isso, alguém que mantém o mínimo
de organização enquanto corrente nessas cidades, pode,
conjunturalmente, até se tornar maioria, com ocorre agora em
Joinville. Mas isso é algo totalmente temporário, sem nenhuma
perspectiva de continuidade. Pelo contrario, as lições desses
processos que as correntes majoritárias do PT tiram é que devem ir
ainda mais à direita, serem mais submissas às burguesias locais,
buscando mais e mais alianças com empresários e latifundiários.
Também é importante
frisar que, eventualmente, quando eventualmente de alguma corrente da
chamada esquerda petista se torne maioria, isso sequer traz alguma
consequência prática. Em Joinville, por exemplo, nenhuma mudança
se nota no PT pelo fato de esse ser agora dirigido pela “Esquerda
Marxista”, que hoje parece ter como sua preocupação central
defender Zé Dirceu e os outros mensaleiros do PT.
Nesse quadro, sem que
Ideli se lance candidata ao senado (nesse caso as coisas mudariam,
pois com sua candidatura as chances para uma que surgissem uma
coligação entre PT e PSD seriam grandes) e com Colombo comprado a
preço de ouro para apoiar a candidatura de Dilma, a direção
nacional do PT pouco se importa com a “chapa própria estadual” e
quer mais é ver as atuais correntes que controlam o PT no estado se
afundando em crise e derrotas eleitorais, enquanto Ideli, Décio Lima
e outros estão muito bem abrigados, em Brasília.
_____________________________
¹
Em 2001 o PT elegeu Décio Góes em Criciúma. Em 2004 ele concorre
vitoriosamente à reeleição, no entanto, é caçado pelo judiciário
pela utilização da máquina publica em sua campanha.
Comentários
Postar um comentário
Gostou dessa matéria? Deixe seu comentario.