Reitoria Roselane na UFSC: um balanço necessário

Roselane Neckel  apoiando a campanha de Dilma
A gestão de reitoria de Roselane Neckel e Lúcia Helena Pacheco iniciou-se em 2012 e desde o início colocou-se totalmente alinhada ao governo de Dilma e do PT, inclusive fazendo campanha direta pela reeleição de Dilma no ano passado. É impossível não comparar as experiências de Dilma à frente do governo federal e de Roselane à frente da reitoria. A origem política de  Dilma e Roselane não está ligada a setores tradicionais de poder, por isso, em determinados momentos, chegam a traçar algum tipo de identificação com as lutas e demandas sociais, incorporando em suas gestões lideranças ligadas a movimentos e a intelectualidade de esquerda.  Com o mesmo discurso, o de que era necessário combater a direita e seus projetos de governo e universidade, se elegeram como alternativa de esquerda, ou pelo menos como a alternativa “menos pior”. No entanto, seus mandatos geraram frustração das expectativas, pois depois de se elegerem continuaram aplicando a mesmo política  de seus oponentes. A “pátria educadora” é hoje somente um slogan de muito mau gosto, quase uma provocação para os que estudam, trabalham e dependem dos serviços da universidade. 

Da mesma forma que fez o PSDB, o governo do PT, seja com Lula ou Dilma, avançou na precarização e privatização das universidades públicas brasileiras. Assim como Álvaro Prata, o antigo reitor, Roselane aplicou fielmente o receituário do governo federal na UFSC, avançando também na precarização e privatização. Mesmo com o aprofundar da crise do projeto que defendem e com o questionamento de setores de direita às suas gestões, a resposta que vem por parte do governo federal e da reitoria é a mesma: o aprofundamento das políticas neoliberais na universidade. 

Por trás dessas políticas educacionais sempre estiveram os interesses do imperialismo através do Banco Mundial que preconiza que as instituições públicas não devem depender de recurso público e precisam recolher recursos no mercado; que o estado deve incentivar com subsídios o setor privado e que as instituições de ensino superior devem ser separadas entre centros de ensino (meros escolões de terceiro grau) e centros de excelência (alguns poucos cursos voltados à parceria com empresas privadas, principalmente multinacionais, e que pesquisam segundo os interesses dessas empresas). 

Por isso hoje, temos políticas educacionais que são verdadeiros presentes aos empresários da educação, como o PROUNI e o FIES. Enquanto a universidade pública tem suas condições de existência e produção do saber deterioradas, as faculdades particulares nunca lucraram tanto na história do país. Ao mesmo tempo o REUNI, aprovado no fim de 2007 e implantando em 2008 na UFSC, nem de perto representou uma expansão com qualidade do ensino superior ou sua democratização. Junto do REUNI, vem sendo implantado uma série de outras medidas de contra-reforma universitária, como a Lei de Inovação Tecnológica, o Novo Enem e o Programa de Ensino à Distância chamado Universidade Aberta do Brasil. Todas essas e outras políticas educacionais foram reunidas agora num grande projeto global para a educação brasileira através do Plano Nacional de Educação.

A aplicação dessas políticas na universidade vem resultando num processo de expansão precarizada, de subfinanciamento, de avanço da privatização, de falta de democracia interna, de perda da autonomia, de piora das condições de trabalho e de carências sérias para que a universidade possa tocar suas atividades cotidianas em torno do tripé universitário e da garantia de politicas efetivas de permanência estudantil.

O recente avanço da crise econômica no país piorou as coisas. Dilma não vacilou e já escolheu suas prioridades. Chamou Joaquim Levy, um ex-funcionário do FMI e ex-executivo do Bradesco, para ser seu Ministro da Fazenda, implantando todas as políticas de ajuste fiscal ao gosto dos banqueiros e grandes empresários, resultando em ataques a direitos históricos dos trabalhadores e ao serviço público. Nesse contexto, houve o absurdo corte de R$ 9,4 bilhões de reais na educação pública. Todo o dinheiro do corte dos ministérios da educação e saúde foram transferidos aos bancos e aos empresários do setor privado. 

A reitoria de Roselane, não satisfeita em aplicar todas as políticas do governo sem contestar e de defendê-lo, conseguiu criar dentro da UFSC um ambiente péssimo para os seus trabalhadores. A gestão irá terminar conhecida pela sua falta de democracia, diálogos falsos, assédio moral generalizado, perseguições políticas, remoções forçadas e um longo etc. Para uma gestão que se dizia de esquerda e tinha como símbolo uma flor, nada mais bizarro que ir tão a fundo, como outras gestões de direita não conseguiram ir, no sucateamento das relações de trabalho dentro da universidade. Hoje, os técnicos administrativos e os professores estão em greve na universidade e a reitoria, ao invés de reconhecê-los e apoiá-los, faz o possível para impedir que os trabalhadores organizem a luta pelos seus direitos. 

Os estudantes também sentiram na pele a aplicação dos planos do governo e da reitoria. Não à toa, tivemos lutas muito importantes de resistência e por direitos durante o último período. No primeiro semestre desse ano, os cursos de pedagogia e serviço social, assim como o colégio de aplicação, fizeram greves de estudantes por mais infraestrutura e políticas de permanência estudantil. Os estudantes também foram vanguarda na luta contra a privatização do hospital universitário e o plebiscito realizado com a comunidade universitária resultou em um categórico NÃO. Há poucos dias, a reitoria foi ocupada pelos estudantes negros, bolsistas e pelo movimento estudantil, ganhando apoio e simpatia entre trabalhadores e estudantes pela justeza de sua pauta. A reitoria teve que recuar e negociar com o movimento, atendendo parcialmente as reivindicações centrais, resultando em vitória para a luta estudantil. Tudo isso fomentou um clima na universidade de desgaste e ruptura com as expectativas depositadas no governo de Dilma e do PT e na reitoria de Roselane e de receptividade às lutas num setor amplo de estudantes e trabalhadores da universidade. 
Qual a saída? O que defende o PSTU?

Existe uma saída diante do caos imposto pela precarização e privatização da universidade pública brasileira. Essa saída é o fortalecimento e ampliação das lutas da juventude e dos trabalhadores independente de reitoria, governo e fundações. Nesse sentido nosso partido se insere nas mobilizações hoje em curso na UFSC. 

Como Marx e Engels já pautaram quando lançaram as bases do pensamento socialista moderno: “a emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores”. Isto é, a luta pela independência política e organizativa dos trabalhadores e de outros segmentos que podem cumprir papéis progressistas na sociedade, como a juventude, tem esta independência como condição fundamental e primeira. 

Entendemos a luta pela independência política e organizativa dos trabalhadores e da juventude como o combate intransigente a qualquer tipo de conciliação com interesses de governos, reitorias, empresas ou fundações e das direções que pregam a conciliação de classes dentro do movimento de massas. Defendemos uma luta sem tréguas contra os interesses dos grandes capitalistas, políticos e de seus administradores para construirmos a sociedade socialista. 

Essa luta pela independência política é mais importante diante de um governo liderado pelo PT ou por uma reitoria liderada por Roselane, pois são o que chamamos de frente popular. Ao contrário da direita tradicional, incorporaram em suas gestões setores que tem uma trajetória nos movimentos sociais ou na intelectualidade de esquerda e chegam a contar com grandes expectativas de mudanças por parte de trabalhadores e da juventude, inclusive de sua vanguarda lutadora. O que ajuda mais a confundir as coisas é que setores da direita tradicional fazem críticas a esses governos e reitorias procurando ganhar as próximas eleições novamente. Não que a direita tenha qualquer problema com a política implementada, o que ocorre é que não querem ficar por mais tempo longe das benesses do poder. 

Nesse sentido todas as organizações e movimentos ficam pressionadas a encarar tal governo ou reitoria como o “mal menor” ou lhes prestar diretamente apoio, abdicando da independência política e organizativa dos movimentos e organizações da juventude, enquanto o governo e a reitoria de frente popular se utilizam de seu prestígio para ir mais a fundo nas políticas de ataque à universidade pública e ao próprio movimento. Não podemos cair na chantagem de que se criticamos esses governos/reitorias estamos ajudando a direita. Quem fortalece dia a dia a volta da direita são suas próprias gestões, que ao frustrarem as aspirações dos que os elegeram, joga desmoralização e desmobilização entre nossas fileiras, fortalecendo a direita tradicional.

Queremos apresentar uma alternativa real ligada às necessidades do conjunto da classe trabalhadora e da juventude para a universidade. Nosso programa procura representar, em primeiro lugar, os setores mais explorados e oprimidos da classe trabalhadora e da juventude. Isso significa reivindicar as políticas de permanência; ampliação das cotas e das verbas; mais segurança sem militarização e sem polícia no campus; criação da guarda universitária com controle democrático; combater o racismo, o machismo e a LGBTfobia; lutar para garantir contratações e condições dignas de trabalho; expansão de vagas com qualidade rumo ao fim do vestibular; garantia de ensino presencial com pesquisa e extensão; fim das terceirizações e das fundações, assim como as demais pautas de luta do movimento estudantil e dos trabalhadores da universidade. 

Defendemos a unificação das mobilizações de estudantes e trabalhadores dentro da UFSC e fora dela também. É preciso impedir os cortes de verbas e derrotar a contrarreforma universitária e o Plano Nacional da Educação, que estão a serviço da mercantilização da educação. Nesse sentido construímos a ANEL (Assembleia Nacional dos Estudantes Livre) e a CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular) como alternativas ao governismo de entidades como UNE, CUT e CTB.

Exigimos que as direções do DCE e do SINTUFSC rompam com o governo, fundações e reitoria e impulsionem as lutas na universidade, construindo ativamente hoje as greves em curso. Denunciamos o papel nefasto da direção da APUFSC que abertamente vem trabalhando para impedir a greve dos professores e tentando até criminalizá-la. Também dialogamos nesse período de forma respeitosa e firme com os companheiros e companheiras que estão nas lutas mas que sustentam alguma falsa expectativa na reitoria de Roselane ou no Governo Federal. Defendemos o ANDES-SN frente aos ataques contra sua liberdade e autonomia sindical, ataque este patrocinado pelo governo federal, poder judiciário e setores reacionários da universidade.

Para avançar no enfrentamento às políticas de Roselane precisamos não só unificar as lutas, mas pautar também a construção da greve geral universitária. Para barrar a atual política econômica de Dilma, do PT e do Congresso Nacional, precisamos também avançar na unificação das lutas e na construção da greve geral no país.

Queremos construir uma sociedade sem exploração e sem a opressão. Acreditamos que essa sociedade é a sociedade socialista. Ela só será possível e plena caso criemos condições para um verdadeiro governo dos trabalhadores, tanto no país como na universidade, que não tem nada haver com o atual governo de Dilma e do PT e com a reitoria Roselane. 

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