Florianópolis na pandemia: o fracasso da quarentena inteligente




Por: PSTU Grande Florianópolis

 Florianópolis nos últimos tempos vinha se destacando, não só no estado de Santa Catarina, como também nacionalmente, por ter diminuído a velocidade da transmissão do Coronavírus e por ter inclusive ficado quase um mês sem registrar nenhuma morte pela COVID-19. 
 
  Graças à quarentena, Florianópolis havia deixado de ser a cidade catarinense com mais casos, ficando agora atrás de cidades com população bem menor, como Chapecó, Itajaí e mesmo Concórdia. O prefeito Gean Loureiro (DEM), impulsionado por esses dados, tenta se mostrar como o condutor de uma política “inteligente”, e mesmo dura, de medidas de isolamento social. Mas esse castelo de cartas começou a desmoronar com o inevitável aumento de casos causado pelo total afrouxamento da quarentena, decretado primeiramente pelo governador Carlos Moisés (PSL) e seguido – embora a um passo atrás – por Gean. O grande aumento no fator de contaminação de Florianópolis, que passou de 0,80 para 1,30, demonstra inequivocamente o quanto era mentirosa a propaganda de uma “quarentena inteligente”.
 
  Em todo o estado de Santa Catarina, a situação atinge agora contornos mais dramáticos, com os novos casos superando a marca de mil contaminados por dia. Os números de mortos e de ocupação de leitos hospitalares também deram um salto. A taxa de transmissão passou a ser uma das mais altas do país, além de outros dados extremamente preocupantes, como o do crescimento de 267% no número de casos entre crianças (e ainda há genocidas que querem o retorno às aulas!). 
 
  Diante dessa disparada do contágio, o governador Moisés não mexeu uma palha. Sua preocupação atual, além de tentar se safar do envolvimento direto no escândalo dos respiradores, é elogiar Bolsonaro e tentar demonstrar que nunca esteve brigado com ele. 
 
   Isso resulta do fato de Bolsonaro, acuado pelas crises em seu governo, ter endurecido a briga com os governadores, botando a Polícia Federal pra apurar escândalos (e foram muitos) nas compras de equipamentos nos estados para o combate a pandemia. Isso foi o suficiente para que vários governadores baixassem a bola. O caso mais grotesco foi do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que estava numa disputa frontal com Bolsonaro, e que depois da investida da PF sobre as suas roubalheiras, botou o rabinho no meio das pernas e calou o bico sobre Bolsonaro.     

 Moisés é da mesma laia que Witzel. Essa total omissão do governo Moisés sobre esse quadro gravíssimo da pandemia joga para os prefeitos toda a responsabilidade de decidir sobre as medidas de isolamento social. E dessa forma aumenta ainda mais a bagunça que virou essa quarentena. Cada prefeito toma as medidas que quer, algumas absolutamente demagógicas e sem eficiência alguma. 

  Assim, Florianópolis aplica um conjunto de medidas diferente das da Palhoça, que por sua vez são diferentes das de São José e Biguaçu. Tudo muito confuso e, portanto, com baixíssima eficácia, pois o que importa mesmo, que é manter as pessoas em casa, fica cada vez mais difícil. 
   
  A única coisa em que todos eles concordam é em colocar a culpa na população, por não fazer a quarentena ou observar as regras de higiene. É muita cara de pau! Afrouxam a quarentena até o limite, obrigando as pessoas a terem que trabalhar e pegar o transporte público, abrem o comércio, e depois tentam jogar a culpa toda nas pessoas que “não querem ficar em casa”...
  
  Mas duas questões precisam ser explicadas: por que a quarentena em Florianópolis foi mais eficiente do que no resto do estado e por que Gean foi mais “duro” do que os outros prefeitos na decretação de medidas de isolamento social? 

   A primeira coisa a ser notada é que a quarentena decretada por Carlos Moisés - mesmo em sua primeira fase, isto é, a mais efetiva - não paralisava o setor-chave da economia e também de propagação do vírus: as indústrias. Milhares de pessoas trabalhando muito próximas umas das outras, em ambientes fechados e na maioria das vezes sem nenhuma ventilação, e sem qualquer equipamento de proteção, ficam, como é óbvio, extremamente vulneráveis à contaminação. 
 
  Para piorar, muitas vezes esses operários e operárias ainda são transportados em ônibus e vans para muitas cidades, fazendo longos percursos até chegarem às suas residências. Para estes, a paralisação do transporte público pouco ou nada afetou, pois a maioria das grandes empresas possui frotas de ônibus contratados, ou os trabalhadores se deslocam até estas por outros meios de transporte (bicicletas, motos ou carros com carona compartilhada).
 
  Nas cidades industriais do estado, a quarentena foi desde o início uma farsa. Mas mesmo entre as cidades industriais houve realidades bem distintas nas primeiras semanas da quarentena. Pois se a quarentena de Moisés não parava as indústrias, a crise econômica que a acompanhava parou boa parte, porque simplesmente não havia para quem vender a produção, já que a economia estava semi-paralisada. Muitas empresas aproveitaram para dar férias coletivas, jogando para os trabalhadores o custo da paralisação.
 
  Já na agroindústria a realidade foi bem diferente. Essas não pararam um dia sequer, pois a produção estava bombando, e o resultado é conhecido por todos. Hoje temos cidades no Oeste em que o nível de contaminação da população (por milhar de habitantes) chega a quase dez vezes o de Florianópolis. 
 
 Na capital, a ausência de fábricas (ou agroindústrias) fez com que a quarentena fosse, portanto, bem mais efetiva, com paralisação do comércio e do transporte público, o que resultou numa paralisação bem superior das atividades. Isso sem falar de que, por ser a capital do estado, o setor de serviço público e da máquina administrativa é muito maior, e a paralisação desse setor fez com que boa parte dos trabalhadores permanecesse de quarentena.
 
  Mas a ausência de indústria também tem um outro desdobramento que é fundamental. O setor mais dinâmico da economia de Florianópolis é o do turismo. A quarentena começou quando a temporada de turismo já havia se encerrado, e com isso a grande movimentação que ocorre durante a temporada também já havia passado, o que facilitou em muito a quarentena. E por aí também podemos entender a segunda questão que levantamos, do porquê de o prefeito Gean haver tomado medidas um pouco mais restritivas do que outros prefeitos.
  
  Muitos companheiros e companheiras, que sabem muito bem que essa prefeitura não está nem aí para a saúde pública, tanto que vinha desferindo grandes ataques a ela na cidade desde o início de seu mandato, veem agora o discurso mais forte de Gean sobre as medidas restritivas como se fosse apenas uma jogada eleitoral para garantir sua reeleição. É verdade que para esses políticos de carreira interessa e muito a sua popularidade, mas não é esse o fator determinante quando os interesses econômicos das empresas estão em jogo. Para eles o determinante é o apoio dos setores empresarias. São esses inclusive que irão garantir a sua reeleição, dando rios de dinheiro para suas fabulosas campanhas eleitorais.
 
  Então as medidas mais restritivas em Florianópolis não só contam com o apoio da maioria da população, como também não sofreram uma campanha contra tão unânime dos empresários, como ocorreu no resto do estado. Aos empresários do turismo interessa que Florianópolis apareça como uma cidade em que a pandemia foi controlada. Assim vale mais a pena apertar um pouco agora, para estar livre de qualquer possível restrição na próxima temporada. Isso possibilitará que os turistas possam se dirigir para Florianópolis em grande número e sem restrições. 
 
  Por outro lado, a gritaria do comércio é grande, basta ver a campanha da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) contra as medidas de isolamento. Isso acabou fazendo com que nessa semana o prefeito Gean recuasse vergonhosamente nas medidas tomadas há apenas seis dias. Assim fica claramente demonstrado que pouco importa a saúde da população, que o decisivo para os governos são os interesses econômicos dos grandes empresários. A pandemia segue avançando, e novas e criminosas idas e vindas vão continuar ocorrendo, a depender dessas pressões.
 
  Portanto nós, trabalhadores, e em especial os companheiros e companheiras do serviço público de Florianópolis, não podemos esquecer nem por um minuto que essa prefeitura, comandada por Gean Loureiro, vai tentar jogar o custo da crise causada pela pandemia totalmente nas costas dos trabalhadores e da juventude estudantil. Ataques à educação, à saúde pública e aos servidores devem se multiplicar no próximo período. O único caminho para enfrentar isso é aquele que nos mostraram recentemente os valorosos companheiros e companheiras da COMCAP, com sua greve vitoriosa.

- QUARENTENA GERAL DE 1 MÊS EM FLORIANÓPOLIS E EM TODA SC, JÁ!


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