Por que o PSTU não participará da "Frente das Esquerdas" e lançará candidaturas próprias?

Foto: Júlio Cavalheiro/Secom

Por: PSTU Florianópolis

Apesar das eleições deste ano só se realizarem em novembro, a movimentação dos partidos visando suas participações nestas já estão se desenrolando há um bom tempo. Em virtude da proibição de coligações nas candidaturas proporcionais (vereadores), espera-se um grande número de candidaturas também para prefeitos e, em especial, nas cidades em que as eleições são em dois turnos, como é o caso de Florianópolis. Neste cenário, chamou a atenção a aparição de uma grande frente dos partidos da chamada esquerda PT, PCdoB, PSOL, PCB, UP e que, inclui, inclusive, de direita como o PDT, PSB e Rede.

Os motivos alegados para essa Frente seriam o de construir um polo viável eleitoralmente para enfrentar o “bolsonarismo” uma vez que, aqui, ele seria muito forte e demandaria que todas as forças progressivas se unissem para enfrentá-lo. Outros vão ainda mais longe nessa defesa ao dizerem que devemos nos unir nas eleições com todos para enfrentar o fascismo que, de acordo com eles, estaria hoje no governo federal. Isso justificaria incluir partidos de direita como o PSB, PDT e Rede.

A alegação de que essa Frente seria uma necessidade para a nossa região já é desmentida, inclusive, pelas declarações dos próprios dirigentes dessa Frente quando eles a apresentam como um modelo ideal que deveria ser estendido inclusive a nível nacional para as eleições presidenciais de 2022. Mesmo assim, é importante vermos se é real essa alegação de que a extrema direita é muito forte eleitoralmente em nossa cidade e no estado.

O mito do conservadorismo catarinense

Essa alegação, de que, aqui, o eleitorado é conservador, ou mesmo bolsonarista, se apoia na avassaladora votação obtida por Bolsonaro nas eleições passadas. Ora, sabemos muito bem que isso foi um fenômeno nacional que, não só, atingiu todo o Sul, como, também, o Sudeste e o Centro-Oeste. Um fenômeno que se deu, inclusive, em regiões que eram base tradicional do PT, como o emblemático ABC paulista. Tamanha era a decepção com o governo do PT que, até a classe operária votou massivamente em Bolsonaro. Foi o voto castigo contra o PT. Isso é o que explica situações como o fato, por exemplo, de em Criciúma, Bolsonaro tenha tido uma votação superior inclusive às outras grandes cidades do estado, e que no primeiro turno, em Florianópolis, Ciro Gomes (PDT) e não Fernando Haddad (PT) tenha ficado em segundo lugar na votação do primeiro turno.

A questão de a região Sul ser ainda mais “antipetista” do que no resto do país deve ser buscada não em um suposto e inexplicável conservadorismo do eleitorado, mas sim em algo bem mais profundo e concreto. Ou seja, é na historia recente que vamos encontrar a explicação para isso e não em uma suposta característica inerente à população local. Se assim fosse, como explicar, por exemplo, a grande votação que Lula teve em Florianópolis no segundo turno da eleição de 1989 contra Collor? Isso em uma campanha bem mais radicalizada que as posteriores.

O fato é que o PT já ganhou em todas as mais importantes cidades do estado e em Florianópolis foi eleito como Vice (Afrânio) de Sérgio Grando (PPS). Governo este que em nada se diferenciava do “jeito petista de governar” e inclusive era visto pelo grosso da população como um governo do PT. A questão é: por que essas prefeituras não consolidaram o PT como uma potência eleitoral? Ao contrário, afundaram o PT no estado. E isso tudo se deu ainda antes do governo federal do PT se desgastar. Essa é a questão central que temos que responder.

Em todas essas prefeituras a insatisfação com os governos petistas foi profunda, a ponto de não conseguirem se manter no governo em nenhuma das cidades, e isso bem antes da guinada eleitoral em direção a Bolsonaro. É verdade que, em alguns casos, foram impedidos pela justiça de concorrerem à reeleição, mas também aí se demonstrou o desgaste desses governos, pois não houve a menor vontade dos trabalhadores em defender esses governos. Foram prefeitos eleitos com enorme expectativa por parte dos trabalhadores e da juventude que, inclusive, já haviam aderido massiva e entusiasticamente às suas campanhas eleitorais. Portanto, é necessário responder a isto: por que se desgastaram tanto esses governos, a ponto de queimarem o PT no estado?

E ai não há nenhum mistério, nessas prefeituras os governos petistas aplicaram a fundo planos neoliberais. Isto é, utilizaram descaradamente a fórmula clássica da burguesia de sanear as finanças dos governos através de arrocho ao funcionalismo público e corte de despesas nos serviços públicos. Foram prefeituras voltadas para manter o atual status quo e, em nome de uma política que chamavam de “governar para todos”, mantiveram essas prefeituras a serviço da burguesia com sempre foram. Assim, sequer alteraram a lógica de funcionamento dos transportes públicos que continuaram exatamente como sempre foram, isto é, monopólio de empresas privadas voltadas exclusivamente para darem lucros enormes aos patrões, oferecendo serviços caríssimos e de péssima qualidade para os trabalhadores e trabalhadoras.

A política da Frente Popular – ou seja, de governos com uma fachada popular, mas que estão a serviço da burguesia – de governar mantendo intocados os privilégios dos grandes empresários, teve contornos particularmente dramáticos aqui em Florianópolis, onde a prefeitura se recusou durante todo o seu mandato a cobrar publicamente as grandes empresas que tinham enormes dívidas com a prefeitura ao passo em que atrasou o pagamento dos salários do funcionalismo por falta de dinheiro em caixa.

Quando esses governos já estavam desgastados por aplicarem essas políticas de austeridade, a burguesia, que apesar de ter ganhado e muito com esses governos, ficou de mãos livres para retomar nas urnas, ou na justiça, o controle direto dessas prefeituras. Não precisavam mais do PT como intermediário. Foi como se o PT tivesse feito o “serviço sujo” para eles retornarem, tranquilamente, ao poder em prefeituras que estavam em melhores condições financeiras, dando um “chute na bunda” do PT.

E se houve alguma particularidade em Santa Catarina foi que, aqui, esse processo se deu mais rapidamente, mas também nisso a explicação não está em alguma tendência abstrata do eleitorado mas sim em fatos concretos. Em primeiro lugar, se deu pelo fato de as cidades do estado - pequenas se comparadas com as grandes cidades de outros estados - não estavam em crises tão profundas, como em outras regiões do país e por isso foi possível saneá-las financeiramente mais rapidamente. Mas o motivo principal, é que a burguesia local é mais presente. Isto é, a burguesia aqui é mais espalhada por todo o estado e, proporcionalmente, mais forte do que em outros estados. Por isso, ela precisou menos do PT como seu administrador de crises do que em estados mais pobres ou com uma burguesia local mais fraca como ocorre onde as empresas são quase todas multinacionais ou mesmo de outras regiões país.

Mas o desastre desta política do PT, de se aliar aos empresários e seus partidos, governando para eles e quando possível, dando algumas migalhas para os trabalhadores, não foi exclusividade das prefeituras aqui de Santa Catarina. Em nível nacional, a tragédia foi ainda maior, como sabemos. Afinal, é inegável que Bolsonaro só conseguiu se eleger devido a essa enorme desilusão e bronca dos trabalhadores com o PT e não por seu próprio eleitorado ideologicamente de extrema-direita que as pesquisas apontam que mal atinge 15% do eleitorado nacional.

Apesar disso, o PT e PCdoB não só continuaram com sua política de alianças com o grande empresariado e seus partidos, como ainda foram alargando o leque de suas coligações, incluindo cada vez partidos mais a direita, incluindo até vários partidos que até há muito pouco tempo chamava de golpistas por terem ajudado a derrubar Dilma (PT). A lógica deles é serem cada vez mais dóceis com a burguesia para ver se, assim, ela os aceita como administradores de seus governos, novamente. E a burguesia, que não é boba, cada vez exige que o PT e seus satélites sejam mais e mais submissos a ela.

Mas, para viabilizar essa já desgastada política de alianças para as próximas eleições eles querem apresentá-la como algo novo. É assim que a justa luta contra o bolsonarismo, se tornou para eles apenas um novo pretexto para essa velha política. Uma cobertura para a velha política de sujeição à burguesia. Mas há sim uma novidade nessa frente anunciada para as eleições de Florianópolis. A novidade é que agora eles estão conseguindo se aliar também com partidos que antes mantiveram críticas aos governos do PT, como foi o caso do PSOL e do PCB. Lamentamos profundamente que esses partidos passem a engrossar essas frentes enveredando para o beco sem saída dos governos de conciliação de classes.

É verdade que isso não é um raio em céu azul. O PSOL já vinha cada vez mais apontando para esse caminho, ou melhor, para esse beco sem saída. Já antes das eleições passadas abriu seu partido para vários políticos oportunistas como foi o caso do “Renato da Farmácia” que logo depois de se eleger traiu escandalosamente não só ao próprio PSOL como a luta dos trabalhadores da Comcap contra as investidas privatistas do Prefeito. O PSOL também se destacou durante os últimos anos como o mais ardoroso aliado do PT na luta contra o impeachment da então presidenta Dilma. O PCB também tem seguido nos últimos anos um perigoso curso de aproximação ao PT.

Muitos companheiros e companheiras que, com toda razão, não suportam mais o Governo Bolsonaro e a situação atual de ataque constante aos direitos, podem achar que essa é a saída possível para o momento, ou então, acharem que embora isso não seja o ideal é a única coisa a se fazer nessas eleições. É com esses companheiros e companheiras que queremos dialogar. Afinal, nós estamos totalmente a favor de nos aliarmos com todos os que estão dispostos a lutar contra esse governo e, principalmente, a favor de derrubá-lo. Devemos nos aliar sim, para lutar, pois é a luta que realmente derrubará esse governo e não uma eleição, especialmente essa que é municipal.

Mas quando se trata de levar adiante as lutas aí encontramos todo tipo de dificuldades criadas por esses partidos. Vale lembrar que o PT, o PCdoB e seus satélites se recusaram a construir greves gerais e a luta direta nas ruas para derrubar Michel Temer (MDB) que, assim, pôde se manter até o fim de seu mandato, mesmo com apenas 3% de apoio popular. A estratégia petista era desgastar Temer, sem derrubá-lo nas ruas, para vencê-lo nas urnas com Lula. O fim desta história todos nós sabemos.

Hoje, querem reeditar essa estratégia traidora e fracassada com Bolsonaro, um governo genocida! Por isso, não podemos esperar as eleições de 2022 e nem devemos suportar esse governo até lá. Pois, além de todos os ataques que esse governo continuará a fazer, Bolsonaro é um político autoritário, apoiado nas Forças Armadas e pode tentar, em algum momento, uma saída golpista para se manter no poder. Por isso chamamos esses partidos a se unirem sim na luta efetiva para por para fora Bolsonaro e Mourão e não fiquem apostando na perigosa e equivocada politica de tirá-lo do governo só em 2022 através das eleições.

Essa Frente eleitoral que PT, PCdoB, PSOL, PCB e cia estão construindo, nem sequer deverá usar a campanha eleitoral para divulgar o Fora Bolsonaro e Mourão, porque há partidos que a compõem que não são a favor disso. Isso sem falar de qual relação que essa frente vai ter diante do governo Moisés (PSL), que novamente está se apresentando como o defensor de Bolsonaro no estado. Isso é uma grande interrogação, afinal, um dos partidos que compõem essa Frente eleitoral é líder do governo Moisés na Assembleia Legislativa (Deputada Paulinha do PDT).

Se aliar a partidos como o PDT, PSB e Rede, com a desculpa de se combater a direita, acabará é por fortalecer a direita. Em primeiro lugar, porque sequer garante que vencerão as eleições com esse tipo de composição, pois nada garante que vão conseguir aparecer para os trabalhadores - cansados de tanta politicagem - como alternativa de mudança a tudo que está aí. Mas se ocorrer dessa frente ganhar as eleições por ter conseguido criar a ilusão nos trabalhadores e na juventude pobre de que com eles no governo haverá mudanças para melhorar suas vidas, o que ocorrerá com toda certeza é outra enorme decepção.

Basta ver o que vem ocorrendo hoje com os governos estaduais dos PT e o do PCdoB que, ao contrário de serem baluartes na luta contra a direita, vivem mais é se aliando a esta e inclusive sendo grandes apoiadores das medidas econômicas do governo Bolsonaro. Sem falar que, nos seus estados, implementam planos que em nada se diferem dos de Paulo Guedes. Esses governos não são um "mal menor", mas sim um beco sem saída que prepara novas derrotas e pavimenta o caminho para uma extrema direita cada vez mais truculenta.

É possível que essa Frente acabe nem ocorrendo, que PDT, PSB e Rede acabem "pulando fora" devido aos compromissos desses partidos com os outros partidos e governos da direita clássica e que, no final só saiam os partidos da chamada “esquerda”. Nem mesmo podemos descartar que até estes ainda acabem saindo divididos em mais candidaturas devido às disputas eleitoreiras de quem vai encabeçar essa frente, mas o fato de eles terem composto essa Frente e a terem apresentado como um modelo, como uma vitória política, já demonstra o tipo de governo que farão, se eleitos. Serão governos que, novamente, governarão para os ricos e poderosos, pois não estarão nem um pouco dispostos a enfrentar os interesses econômicos desses grupos. E sem romper com a burguesia é impossível governar para os trabalhadores e o povo pobre.

É verdade que houve alguns governos de frente popular que, mesmo governando para garantir os lucros dos empresários, banqueiros e dos agro empresários deram algumas migalhas para os trabalhadores e para a juventude. Isso se deu durante o governo Lula e o primeiro governo de Dilma e mesmo em algumas prefeituras que, com isso, conseguiram ficar se reelegendo por vários mandatos (como em Porto Alegre e Belo Horizonte). Mas, hoje, com a gigantesca crise econômica que vive o capitalismo, não é possível nem dar migalhas. Isso ficou patente no Brasil em 2013 porque, apesar da crise ter começado em 2008/2009, ela chega no Brasil mais tarde, porém com força redobrada.

A partir desta crise, a burguesia e o imperialismo - para manterem seus lucros exorbitantes - exigem que esses governos ataquem de forma cada vez mais impiedosa os direitos dos trabalhadores e os serviços públicos. E, para impedir que os trabalhadores e a juventude reajam lutando contra isso, recorrem cada vez mais à repressão e ataques às liberdades democráticas duramente conquistadas. Isso não é exclusividade dos governos de “direita”, basta lembrar o que fez o governo Dilma durante a Copa do Mundo e para garantir a realização das Olimpíadas. E depois, ao ser reeleita graças a uma campanha em que jurava não tirar direitos dos trabalhadores, Dilma meteu a mão neles sem a menor cerimônia.

E também é isso que hoje fazem os governadores do PT e do PCdoB nos estados que governam, como Rio Grande do Norte, Ceará e Maranhão. E é o que o fará qualquer governo que não governe apoiado na organização dos trabalhadores em luta contra a opressão e exploração.

Qual é a saída que o PSTU propõe?

É necessário que os trabalhadores e a juventude lutadora saibam que só há uma saída: que é preciso enfrentar e derrotar esse sistema capitalista de miséria, fome, preconceitos, violência e morte para a ampla maioria, e que gera riquezas exorbitantes para uma pequeníssima minoria que a tudo domina. Que mesmo com a crise e agora com a pandemia ainda assim aumentam suas riquezas faraônicas.

É preciso dizer, com todas as letras, que os trabalhadores precisam fazer uma revolução nesse país, pois esta é a única saída contra a miséria, o desemprego e as consequências da pandemia da COVID-19. A quarentena – ainda que parcial – mostrou a todos o pavor que a burguesia tem de que os trabalhadores parem a produção, porque se isso ocorrer acabam seus lucros. Isto mostra de forma clara que somos nós, trabalhadores e trabalhadoras, operárias e operários do campo e da cidade, que criamos as riquezas e não os grandes empresários.

Essa riqueza produzida tem de estar a serviço do bem estar dos trabalhadores que as produzem, criando uma sociedade realmente justa. Uma sociedade socialista onde todos tenham direito ao trabalho, aos serviços públicos essenciais, à liberdade e à vida. Mas, para isso, é preciso dizer a verdade e não cair no jogo sujo eleitoral da burguesia, que promete tudo nas eleições mas que governa para os mesmos privilegiados de sempre.

Nós do PSTU não entramos nesse jogo de cartas marcadas. Apesar de todas as dificuldades que temos de enfrentar para ter uma candidatura própria para a prefeitura de Florianópolis o faremos para que os trabalhadores tenham uma candidatura a serviço da luta para derrubar esse governo genocida de Bolsonaro e Mourão pois isso é a necessidade mais imperiosa do momento que vivemos. Uma candidatura a serviço das lutas contra a retirada dos direitos que os governos, não só o de Bolsonaro, mas também os governos municipais como o de Gean Loureiro, estão promovendo.

Nossa candidatura também estará incondicionalmente na luta contra o racismo, o machismo e a LGBTfobia, tomando a Rebelião Negra que eclodiu nos Estados Unidos, após a morte de George Floyd, como exemplo.

Por fim, mas o mais importante: apresentaremos uma candidatura que aponte claramente que a transformação socialista é a única saída possível na atualidade para melhorar efetivamente a situação dos explorados e oprimidos por esse sistema atual.

Por isso apresentaremos para essas eleições municipais em Florianópolis uma chapa de lutadores e lutadoras socialistas que terá como candidata à Prefeitura a companheira Gabriela Santetti, mulher, professora e reconhecida lutadora da cidade e da região.

Chamamos todos aqueles e aquelas que estão engajados na luta contra as mazelas deste sistema podre que reflitam sobre o significado que pode ter a participação nessas eleições e que se tiverem interesse em conhecer melhor nossas propostas que entrem em contato conosco. Pois, apesar de todas as restrições que a legislação impõem ao PSTU, queremos fazer uma campanha socialista em nossa cidade e esperamos contar com o apoio dos lutadores e lutadoras.

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