Na guerra entre o tráfico e a polícia quem perde são os trabalhadores e a juventude

Depois dos ataques promovidos por marginais no ano passado, o governo catarinense e a cúpula da polícia garantiram que episódios como aquele não voltariam a ocorrer. Afirmaram que a cúpula que orquestrava esses ataques estava finalmente isolada num presídio federal de segurança máxima, no Rio Grande do Norte. Contudo, hoje o governo é obrigado a admitir que é exatamente essa cúpula que ordena os chamados “salve gerais” que resultam nesses atentados1. Diante disso, qual a saída que o governo propõe para resolver a crise? Mandar mais algumas dezenas de presos para presídios federais.
O descaso dos governantes com a população chegou a tal ponto que nos primeiros dias desses novos ataques sequer se informou o motivo pelo qual eles estariam sendo realizados. Assim, a vida da população trabalhadora e estudantil vira uma confusão sem fim, um verdadeiro drama diário para saber o que vai fazer para manter suas atividades cotidianas. Não tem garantida sequer um mínimo de segurança para se deslocar na cidade. Depois, quando não havia mais como esconder, “deixou escapar” para a imprensa que o motivo seria a reivindicação dos presos por condições mínimas de existência, que lhes é negada no sistema prisional. As cadeias, como é sabido, não só não socializam os presos, como os transformam em perigosos criminosos. Isso porque os presídios são, hoje, verdadeiras escolas para o crime.
É preciso parar de hipocrisia e enfrentar o problema de frente. A primeira coisa a admitir é que esse sistema de segurança atual faliu. Que de nada vai resolver aumentar a violência contra os presidiários. Medidas de aumento indiscriminado da violência acabam aparecendo para boa parte da população como a única saída contra a insegurança em que vive. Isso é abertamente defendido pala grande imprensa. No entanto, é preciso ter coragem de enfrentar o problema pela raiz e isso implica em mudanças reais, não em discursos falsos, nem aumentando a violência contra os presidiários.
Se hoje os chefes do crime têm esse poder todo é devido a verdadeiros exércitos de presidiários e ex-presidiários que comandam. O aumento gigantesco da população carcerária fornece o numero suficiente de mão-de-obra para esse tipo de aliciamento. A isso se juntam as horríveis condições dos presídios que levam os presidiários a se tornarem presas fáceis dos bandos que controlam as prisões. Não bastasse, temos ainda uma polícia totalmente brutalizada e corrompida pelo próprio crime organizado, que acaba muitas vezes concorrendo com esse bandos, pois ela própria (a polícia) já marginalizou os policiais.
Para atacar de frente esse problema e poder realmente ter avanços, é preciso acabar com a política de criminalização das drogas. É necessário ter claro que o tráfico de drogas provoca mais malefícios do que as próprias drogas. Que ser contra o uso de drogas deve ser uma politica de estado baseada na educação preventiva e no tratamento dos viciados. Deixar a juventude pobre, principalmente a da periferia, nas mãos do crime organizado, além de ser uma perversidade, é o que vai fornecer mão-de-obra farta para esse mesmo crime.

A descriminalização do uso de drogas, com sua produção e distribuição controladas pelo estado, é o caminho. Isto já é feito pelo nosso vizinho Uruguai. Essa política permitiria o esvaziamento dos presídios, o que possibilitaria ao estado criar um sistema não só mais justo como mais eficiente. Além disso, possibilitaria o cadastramento dos viciados e o tratamento justo e digno em clínicas especializadas, com profissionais competentes. Viciado não é criminoso, é doente.
Por fim, é vital uma mudança também na polícia. As últimas pesquisas demonstraram que a desmilitarização da PM tem amplo apoio inclusive entre os próprios policiais. Desmilitarizar as PMs, unificando a polícia, é o primeiro passo. Junto a isso, é preciso avançar no controle da população sobre ela, permitindo eleições diretas de seus delegados e chefes policiais.
Eis as condições mínimas para que possamos resolver esse problema. As mentiras e campanhas opressoras dos governantes e da grande imprensa já provaram que só agravam o problema. A forte repressão desencadeia mais reação e mesmo aumenta o consumo de drogas. Deixa a população trabalhadora totalmente à mercê dos ataques e torna nosso dia a dia em um verdadeiro inferno.
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1 Nº DE ATAQUES: Aranranguá: 1; Balneário Camboriú: 1; Balenário Piçarras: 1; Balenário Rincão: 1; Biguaçu: 1; Blumenau: 1; Camboriú: 2; Campos Novos: 2; Chapecó: 2; Criciúma: 2; Florianópolis: 11; Gaspar: 2; Governador Celso Ramos: 1; Guaramirim: 1; Itajaí: 3; Itapema: 2; Ituporanga: 1; Joinville: 6; Lages: 1; Navegantes: 1; Palhoça: 7; São Bento do Sul: 1; São Francisco do Sul: 2; São José: 6; Tijucas: 2; Tubarão: 1. TOTAL: 60
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Mais sobre o assunto, leia também:  Legalizar as drogas para combater o tráfico

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