A Histórica relação entre os EUA e Israel

Jóe José Dias

Há alguns dias a imprensa nacional destacou mais uma vez uma matéria que no ano passado causou um certo frisson não somente no Brasil, mas em todo o mundo. Trata-se de uma pensão vitalícia que o governo dos Estados Unidos paga a velhos criminosos nazistas. Estas manchetes, que se arrolaram como vírus pela rede, chocaram o mundo por expor o lado corrosivo do sistema jurídico estadunidense.

Trata-se de uma "brecha" na lei que favorece esses criminosos. É que, conforme o próprio Departamento de Justiça dos EUA, a lei autoriza que estes benefícios sejam pagos a indivíduos que renunciam à cidadania americana e deixam o país voluntariamente. Obviamente, que a lei não se aplica aos latinos e negros na mesma situação, mas "encaixa-se como uma luva" para beneficar assassinos criminosos que lutaram ao lado de Hitler.

Parece ironia que a maior economia do mundo, a democracia mais bem constituída dentro do capitalismo, retire parte de seu orçamento para pagar a aposentadoria dos verdurgos de milhões de judeus, povo do qual afirma defender e admirar. É de fato uma notícia de fazer virar os olhos e torcer o nariz daqueles mais conservadores; daqueles que defendem a democracia burguesa como o mais bem-acabado sistema social que podemos criar. Perfeita para estes(as) senhores(as), que se consideram arautos da consciência política, defensores e pregadores de uma moral reconhecida por eles como íntegra e/ou divina. Destes(as) que não passam de meros filisteus, incapazes de compreender um palmo de realidade, que subjugam e deturpam a mais rasteira lógica formal. Por isso, não é de se espantar que a costumeira inversão de valores que proclamam estes batráquios hora ou outra cuspa em suas ventas os impropérios que lançam indiscriminadamente contra todos os que se prostram em seus caminhos.

Estas já seriam manchetes interessantes por isso, mas não… Elas têm muito mais a dizer… muito mais a esclarecer… muito mais a desvendar… Primeiramente, por demonstrar de maneira clara o caráter do imperialismo e dos EUA em particular. Há muitos por aí defendendo que os Estados Unidos são a pátria da justiça, da idoneidade, da honestidade, onde há liberdade e oportunidade para todos. No entanto, a despeito do que divulgam seus propaladores, as relações entre os EUA e os oprimidos pelo regime nazista na Europa em guerra nunca foi das mais harmônicas.

Isso porque à época as diretrizes políticas do Departamento de Estado norte-americano dificultavam bastante a emissão de vistos de entrada para os refugiados. Apesar da perseguição constante aos judeus na Alemanha, a atitude do Departamento de Estado era influenciada pelas privações econômicas da época da Depressão (OBS: 1930 até meados de 40), que haviam intensificado o antissemitismo, o isolacionismo e a xenofobia da sociedade civil. O número de vistos de entrada foi ainda mais limitado pelo Departamento, devido à aplicação inflexível de uma lei de imigração restritiva, aprovada pelo Congresso dos EUA em 1924. A partir de 1940, os Estados Unidos limitaram ainda mais a imigração, ordenando aos cônsules estadunidenses no exterior que atrasassem as aprovações dos vistos sob a justificativa de questões de segurança nacional.

Como é sabido, o estado sionista de Israel instaura-se no Oriente médio no final da década de quarenta, logo que finda a segunda guerra mundial. Esta "base" do imperialismo na região, a despeito do que afirmam seus defensores, não foi criada para abrigar os perseguidos pelo regime nazista de Hitler (ou não somente), mas principalmente para facilitar a exploração das riquezas na região, em especial o petróleo. Daí a necessidade premente da construção de uma "base", de um estado autoritário, repressor e controlador no seio do Oriente Médio. Assim nasce o estado sionista de Israel.

Para este intento, não é pouco lembrar a forte influência que os sionistas têm na terra do Tio Sam. Diria até que o lobby sionista é o mais forte por lá, sendo financiado por grandes empresários e empresas multinacionais com interesses político-econômicos na região. Isso favorece o financiamento de uma gigantesca e eficientíssima máquina propagandística sionista que visa única e exclusivamente a reprimir os povos árabes na região, com o intuito claro de favorecer os interesses do imperialismo internacional.

Bem da verdade, o lobby sionista reúne grupos, empresas, políticos e indivíduos que influenciam os governos de países ocidentais, no sentido de apoiar os objetivos do sionismo em todo o mundo, mas especialmente na sustentação do estado de Israel. O lobby é particularmente poderoso nos EUA e na Grã-Bretanha, como aponta o livro "O lobby pró-Israel e a política externa dos EUA", escrito pelos professores John Mearsheimer (Universidade de Chicago) e Stephen Walt (Harvard). Nos EUA, a principal organização do lobby sionista é o AIPAC - American Israel Public Affairs Commitee (Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel), fundada na década de 1950 e com mais de cem mil membros ativos. É reconhecida como um dos mais poderosos grupos de pressão estadunidenses, comportando não somente representantes da elite sionista, mas também outros setores da burguesia imperialista.

Não à toa países como EUA, Inglaterra e França gastam milhões de dólares por ano em “investimentos” paramilitares em Israel*. Financiam, à custa do trabalhador e com dinheiro público, um dos maiores exércitos do mundo, esta máquina de destruição e genocídio usada não somente para reprimir e matar sistematicamente palestinos como se fossem ratos e pragas, mas para atacar também outros países da região, como Síria, Líbano ou Egito, por exemplo. Não, o nazifascismo não acabou; somente mudou de lugar: da Alemanha capitalista de Hitler, "migrou", assim que findou a guerra, para o coração do Oriente Médio, sob a batuta gerencial da elite sionista, que também financiou com armas e dinheiro o nazismo na Alemanha. Para eles, o fim justifica qualquer meio.

Este é um ponto, mas não o único. Todavia, para explorar outras questões, vamos nos aproximar da linha de pensamento destes(as) senhores(as). Em sua torpe relação com a história por meio de suas “teorias” e conforme sua forma privilegiada e clarividente de enxergar a realidade, o regime nazista se assemelha em tudo ao que chamam de comunismo. Isso porque, segundo eles, o regime soviético à época de Stalin e a posteriori (ao qual associam ao comunismo) é igual ao nazismo de Hitler.

Há certa razão nesta analogia, haja vista ambos serem criações, personificações, ramificações políticas reacionárias de sistemas sociais completamente opostos: a primeira oriunda de uma burocracia reacionária que se apoderou politicamente de um estado operário recém-criado e a segunda fruto de uma contrarrevolução em um país capitalista central na Europa, a Alemanha. Sob esta ótica, o paralelo é válido, mas somente sob esta ótica. Do mais, não passam de gagueiras esfarrapadas proferidas por um Iago grosseiro e vil, que não sabe nem a arte de seu ofício.

De maneira tal que, mesmo do ponto de vista filosófico-político mais simples, comparam duas coisas distintas e incomparáveis: para eles, comunismo (um sistema social) = nazismo (um regime de governo). Sem nunca se aprofundarem nos clássicos, desconhecendo completamente conceitos que um símio dominaria com algumas horas de estudo, estes(as) senhores(as) julgam-se capazes de explanar toda a riqueza e profundidade histórica por trás do stalinismo (que é a negação não somente da revolução russa e do socialismo vindouro após a revolução, mas também do marxismo) e do nazismo, pondo-os num mesmo patamar e no mesmo lado da balança.

Para eles, religiosamente e hipocritamente, o stalinismo é o arquétipo do comunismo, quando na verdade é sua negação; sua aniquilação. E creem nisso tão piamente que citam esta ou aquela nação imperialista como contraponto à barbárie comunista, listando exemplos do que este sistema é capaz, da riqueza que o capitalismo é capaz de proporcionar aos afortunados que trabalham (como se o trabalhador não produzisse, não trabalhasse) e desconsiderando as misérias que o imperialismo impõe a 95% de outros países. Comparam Suécia com Coreia do Norte, ou com Cuba, quando deveriam comparar Cuba com Haiti, duas nações periféricas do capitalismo, por exemplo; ou Suécia com Polônia, ou mesmo Cuba com algumas cidades e estados do sul dos Estados Unidos, onde negros e latinos são jogados na miséria mais brutal e absoluta. Os mais honestos, certamente notariam que a revolução cubana, longe (bem distante mesmo) de se aproximar do socialismo, trouxe centenas de conquistas ao povo cubano à época, até hoje não conquistadas em países como o Brasil, por exemplo.

Arrogar-se de conhecimento político é uma prática comum neste meio. Inclusive entre os tabloides que se intitulam especializados, arautos da informação e da consciência, como muitos conservadores e até reacionários por aí. Pois bem, vou seguir a mesma fórmula destes(as) senhores(as) de espírito vulgar e estreito para chegar a uma conclusão insofismável: se nazismo é sinônimo de comunismo e os Estados Unidos financiaram os nazistas e ainda financiam Israel, podemos afirmar que os Estados Unidos, esta nação justa e vindoura, é também comunista.

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* Segundo a embaixada dos EUA em Israel, os contribuintes norte-americanos financiam anualmente entre 20% a 25% do orçamento israelense de defesa. FONTE: The Big Lie: That Israel Is a Strategic Asset For the United States. Por Chas W. Freeman, Jr. The Washington Report on Middle East Affairs, set.-out de 2010, p. 14-15.

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