Por que SC tem quatro equipes na série A? - RESPOSTA de um companheiro.
Richard José do Nascimento.
Com o intuito de incentivar o debate, o companheiro escreveu uma resposta com sua visão sobre o tema, explanando os pontos favoráveis e suas divergências com o artigo anterior, "Por que Santa Catarina tem quatro times na série A", referendado no final do texto.
Amigos Tarcício e Ricardo.
Concordo com o argumento de que a luta dos trabalhadores influencia no futebol localmente e mundial. E também concordo que em momentos mais acirrados a burguesia traz mecanismos variados para “apaziguar” os ânimos. E um desses mecanismos é o futebol. Mas penso que essa ascensão maior do futebol catarinense a Série A não seja definido por isso. Na minha opinião a questão preponderante é a crise no futebol brasileiro. Essa não é pelos 7 a 1 (Brasil x Alemanha, Copa do Mundo 2014), mas pela não renovação do futebol brasileiro. Não falo pela seleção brasileira frente a outras como Alemanha, Espanha, Holanda, França..., mas o futebol no Brasil.
Nos anos de 1980 começou no país um processo que marcaria o início de uma decadência: a “exportação” (coloco entre aspas propositalmente para fazer uma reflexão de jogador/ser humano com jogador/mercadoria) de fato de jogadores para o exterior. Lembrem-se de Falcão, Sócrates, Junior, Casagrande...? Dos anos de 1980 até hoje não foram só grandes craques a irem para o exterior. Esse movimento começou a ser de jovens talentos, talentos precoces, precoces promessas. Todos indo para a Europa, principalmente, vislumbrado pelos pais e crianças como a garantia de sucesso financeiro. A exceção seria Neymar, que se criou no Santos e ficou até aos últimos suspiros de possibilidades do futebol brasileiro para ele.
Agora leitor e leitora você pode perguntar: qual a importância fundamental de jogadores não serem formados e jogarem aqui para o nosso futebol? A resposta pode parecer simples: É que o futebol é feito por seres humanos! A mão de obra do futebol são pessoas, os jogadores, e por mais que a tecnologia se desenvolva nos mais variados aspectos, são eles que constituirão o futebol. Posso fazer uma primeira analogia: numa fábrica a mão de obra essencial é o ser humano, mas a tecnologia em vários processos da produção substitui pessoas, compare o processo de produção das montadoras de automóveis na metade do século XX com o final. Se o elemento principal, em sua maioria de qualidade, não mais é constituído no seu local de gênese, não mais é formado no seu local de gênese, a tendência é que o local de gênese entre em decadência. Ou seja, se a essência do futebol, o jogador, não está mais aqui (digo em relação ao jogador de qualidade) o nosso futebol perde em qualidade. Antes os grandes clubes por seu poder financeiro tinham capacidade de suprir essa necessidade trazendo para eles jovens jogadores dos mais diversos lugares. Agora não conseguem mais, assim ficou tudo mais nivelado. E esse é um dos fatores para a crise no futebol brasileiro.
Outro elemento que se soma a isso é a grande arquitetura de corrupção e falcatruas que perdura aqui, pelo menos, desde a década de 1970. O “sistema” de cartolagem no Brasil é um câncer que está matando o nosso futebol, e seus sintomas mais graves aparecem agora. Não digo que isso não exista no futebol mundial; a Rússia é um dos grandes exemplos, aqui nos toca mais que os europeus porque aqui não há resistência. Sim, a corrupção no futebol é mundial e atinge o excelentíssimo futebol europeu, a diferença que lá há resistência, mesmo que seja uma resistência institucional pelo poder. É correto quando Beckenbauer disse que “o problema não é Blatter, mas o sistema”. Só que quando Platini e Figo se mostram como opositores a Blatter, é uma resistência ao comando, e sendo assim o comando tem que ser mais prudencioso em suas ações e fazer concessões. Algo que não acontece no Brasil. Se aqui o Sócrates, ou o Raí, ou outros ex-jogadores, ou o Bom Senso de fato fizessem uma oposição, concreta e consistente aos mandatários da CBF, estaríamos em outra situação.
Essa crise amigo leitor e leitora, não é pequena. Veja a tabela do campeonato brasileiro desse ano (em 06/06/2015): 1º Atlético MG (13 pontos), 2º Atlético PR (12 pontos), 3º Ponte Preta (12 pontos), 4º Sport (11 pontos), mas sabendo que Atlético PR e Sport têm um jogo a menos que os demais. Seguindo a lógica do argumento principal do artigo do blog, vem a pergunta: Será que em Curitiba, Campinas e Recife estão em processos de lutas marcantes dos trabalhadores? E observando os argumentos do blog: é necessário analisar melhor os seus dados da década de 1970 e o futebol catarinense. Afirmam os amigos que no final de 70 os times catarinenses também tiveram essa ascensão pelo acirramento da luta de classes. Novamente eu não tirarei esse elemento do processo histórico, mas alguns dados não podem passar em branco: no campeonato brasileiro da série A de 1976 a 78 tinham 60 times, em 1979 eram 80 times e de 1980 a 1983 foram 40 times (fonte: http://futpedia.globo.com/). Ou seja, muito mais dos que os 20 atuais. No período em questão participaram da Série A times como: Anapolina (GO), Flamengo do Piauí (PI), Nacional (AM), Flu de Feira (BA), Operário (MS), Fast (AM), Mixto (MT). Dessa forma só a luta dos trabalhadores catarinenses nesse período não justifica o argumento apontado. E outro fator apontado pelo blog é mais passível de questionamento. Os companheiros apontam que nas cidades dos times que estão na Série A, são cidades em que os trabalhadores estão em grandes lutas contra sua burguesia industrial local, mas esquecem de dizer que são as cidades de Chapecó e Joinville, que possuem uma grande concentração de indústrias. O que não ocorre com a cidade sede de Avaí e Figueirense, ambos na Série A. Os seus patrocinadores diretos não têm trabalhadores daqui e a cidade não vive essa luta acirrada de classe apontada pelos autores. Florianópolis é uma cidade turística (trabalhadores comerciários, e de servidores públicos), a elite local não tem necessidade direta de apaziguar a luta de classes através do futebol, pois aqui, os trabalhadores são avaianos e figueirenses, mas também, muitos colorados, gremistas, vascaínos, flamenguistas, corinthianos, palmeirenses ...
O que vivemos hoje é fruto da crise brasileira do seu futebol, não separada do capitalismo que manda e desmanda com seus milhares de euros e dólares em jogadores, dirigentes e clubes.
Concordo com o argumento de que a luta dos trabalhadores influencia no futebol localmente e mundial. E também concordo que em momentos mais acirrados a burguesia traz mecanismos variados para “apaziguar” os ânimos. E um desses mecanismos é o futebol. Mas penso que essa ascensão maior do futebol catarinense a Série A não seja definido por isso. Na minha opinião a questão preponderante é a crise no futebol brasileiro. Essa não é pelos 7 a 1 (Brasil x Alemanha, Copa do Mundo 2014), mas pela não renovação do futebol brasileiro. Não falo pela seleção brasileira frente a outras como Alemanha, Espanha, Holanda, França..., mas o futebol no Brasil.
Nos anos de 1980 começou no país um processo que marcaria o início de uma decadência: a “exportação” (coloco entre aspas propositalmente para fazer uma reflexão de jogador/ser humano com jogador/mercadoria) de fato de jogadores para o exterior. Lembrem-se de Falcão, Sócrates, Junior, Casagrande...? Dos anos de 1980 até hoje não foram só grandes craques a irem para o exterior. Esse movimento começou a ser de jovens talentos, talentos precoces, precoces promessas. Todos indo para a Europa, principalmente, vislumbrado pelos pais e crianças como a garantia de sucesso financeiro. A exceção seria Neymar, que se criou no Santos e ficou até aos últimos suspiros de possibilidades do futebol brasileiro para ele.
Agora leitor e leitora você pode perguntar: qual a importância fundamental de jogadores não serem formados e jogarem aqui para o nosso futebol? A resposta pode parecer simples: É que o futebol é feito por seres humanos! A mão de obra do futebol são pessoas, os jogadores, e por mais que a tecnologia se desenvolva nos mais variados aspectos, são eles que constituirão o futebol. Posso fazer uma primeira analogia: numa fábrica a mão de obra essencial é o ser humano, mas a tecnologia em vários processos da produção substitui pessoas, compare o processo de produção das montadoras de automóveis na metade do século XX com o final. Se o elemento principal, em sua maioria de qualidade, não mais é constituído no seu local de gênese, não mais é formado no seu local de gênese, a tendência é que o local de gênese entre em decadência. Ou seja, se a essência do futebol, o jogador, não está mais aqui (digo em relação ao jogador de qualidade) o nosso futebol perde em qualidade. Antes os grandes clubes por seu poder financeiro tinham capacidade de suprir essa necessidade trazendo para eles jovens jogadores dos mais diversos lugares. Agora não conseguem mais, assim ficou tudo mais nivelado. E esse é um dos fatores para a crise no futebol brasileiro.
Outro elemento que se soma a isso é a grande arquitetura de corrupção e falcatruas que perdura aqui, pelo menos, desde a década de 1970. O “sistema” de cartolagem no Brasil é um câncer que está matando o nosso futebol, e seus sintomas mais graves aparecem agora. Não digo que isso não exista no futebol mundial; a Rússia é um dos grandes exemplos, aqui nos toca mais que os europeus porque aqui não há resistência. Sim, a corrupção no futebol é mundial e atinge o excelentíssimo futebol europeu, a diferença que lá há resistência, mesmo que seja uma resistência institucional pelo poder. É correto quando Beckenbauer disse que “o problema não é Blatter, mas o sistema”. Só que quando Platini e Figo se mostram como opositores a Blatter, é uma resistência ao comando, e sendo assim o comando tem que ser mais prudencioso em suas ações e fazer concessões. Algo que não acontece no Brasil. Se aqui o Sócrates, ou o Raí, ou outros ex-jogadores, ou o Bom Senso de fato fizessem uma oposição, concreta e consistente aos mandatários da CBF, estaríamos em outra situação.
Essa crise amigo leitor e leitora, não é pequena. Veja a tabela do campeonato brasileiro desse ano (em 06/06/2015): 1º Atlético MG (13 pontos), 2º Atlético PR (12 pontos), 3º Ponte Preta (12 pontos), 4º Sport (11 pontos), mas sabendo que Atlético PR e Sport têm um jogo a menos que os demais. Seguindo a lógica do argumento principal do artigo do blog, vem a pergunta: Será que em Curitiba, Campinas e Recife estão em processos de lutas marcantes dos trabalhadores? E observando os argumentos do blog: é necessário analisar melhor os seus dados da década de 1970 e o futebol catarinense. Afirmam os amigos que no final de 70 os times catarinenses também tiveram essa ascensão pelo acirramento da luta de classes. Novamente eu não tirarei esse elemento do processo histórico, mas alguns dados não podem passar em branco: no campeonato brasileiro da série A de 1976 a 78 tinham 60 times, em 1979 eram 80 times e de 1980 a 1983 foram 40 times (fonte: http://futpedia.globo.com/). Ou seja, muito mais dos que os 20 atuais. No período em questão participaram da Série A times como: Anapolina (GO), Flamengo do Piauí (PI), Nacional (AM), Flu de Feira (BA), Operário (MS), Fast (AM), Mixto (MT). Dessa forma só a luta dos trabalhadores catarinenses nesse período não justifica o argumento apontado. E outro fator apontado pelo blog é mais passível de questionamento. Os companheiros apontam que nas cidades dos times que estão na Série A, são cidades em que os trabalhadores estão em grandes lutas contra sua burguesia industrial local, mas esquecem de dizer que são as cidades de Chapecó e Joinville, que possuem uma grande concentração de indústrias. O que não ocorre com a cidade sede de Avaí e Figueirense, ambos na Série A. Os seus patrocinadores diretos não têm trabalhadores daqui e a cidade não vive essa luta acirrada de classe apontada pelos autores. Florianópolis é uma cidade turística (trabalhadores comerciários, e de servidores públicos), a elite local não tem necessidade direta de apaziguar a luta de classes através do futebol, pois aqui, os trabalhadores são avaianos e figueirenses, mas também, muitos colorados, gremistas, vascaínos, flamenguistas, corinthianos, palmeirenses ...
O que vivemos hoje é fruto da crise brasileira do seu futebol, não separada do capitalismo que manda e desmanda com seus milhares de euros e dólares em jogadores, dirigentes e clubes.
Por último, deixo como questionamento aberto (aberto porque eu mesmo não fui buscar a resposta) como incentivo ao nosso debate amigo Tarcísio e amigo Ricardo: Porque o Criciúma foi campeão da Copa do Brasil em de 1991 e se manteve na série A do brasileirão pela década de 1990? Porque o Figueirense foi vice-campeão da Copa do Brasil em 2007? Porque o São Caetano foi vice-campeâo brasileiro em 2000 e também vice na libertadores de 2002?
Abraços, Tarcísio e Ricardo.
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