As lições e a atualidade da Teoria da REVOLUÇÃO PERMANENTE, de Leon Trotsky


Jóe José Dias

Assassinado há quase 80 anos, com uma picaretada na cabeça, em seu último exílio, no México, o revolucionário Russo Liev Davidovich Bronstein, o Leon Trotsky, deixou um legado teórico inestimável junto a um exemplo de luta revolucionária contra as opressões e pela construção da Revolução socialista Internacional.

A este ataque sucedeu uma série de outros crimes cometidos pelo stalinismo contra ele e sua família, que culminou, por fim, em seu assassinato, por Ramón Mercader. É que Trotsky representava o fio de continuidade com a Revolução de Outubro, com o programa e a tradição leninistas, e representava um enorme perigo para a burocracia que tomou conta do poder na ex União Soviética.

A ideia de Stalin e sua burocracia contrarrevolucionária era destruir o fio condutor dessa tradição de uma vez por todas, no intuito de tornarem-se eles, os burocratas parasitários de um estado operário recém constituído, os porta-vozes do marxismo, um marxismo desfigurado e negado pela súcia stalinista. E quase conseguiram. É verdade que assassinaram o velho bolchevique e que, antes dele, toda uma geração de militantes e dirigentes socialistas que se opuseram às atrocidades do regime soviético.

Todavia, apesar de todos os crimes cometidos contra os operários e contra a humanidade, o triunfo foi relativo, pois seu legado não foi destruído, graças principalmente à construção daquilo que ele denominou sua "maior obra": a construção da quarta internacional. Mas o intuito deste pequeno artigo é o de relembrar, de maneira sucinta, a contribuição teórico-programática da Teoria da Revolução Permanente, a teoria da Revolução Socialista mundial.

Mas de que fala tal teoria? Simples! Afirma que na era imperialista do capitalismo é impossível de se resolver completamente qualquer tarefa democrática dentro do sistema econômico capitalista. Ou seja, afirma que a única maneira de se completar estas tarefas (reforma agrária, as independências nacionais, destruir as ideologias machista, racista, etc.) é com a classe operária tomando controle do Estado, apossando-se dos poderes político e econômico e instaurando o que Marx chamaria de "ditadura do proletariado", iniciando o caminho até o comunismo. No caso russo, primeiramente até o socialismo, pois tratava-se de uma nação atrasada.

A Teoria da Revolução Permanente, elaborada após sua experiência na Revolução de 1905, se calça sobre dois argumentos centrais, que são: 1– o socialismo não se pode consumar na esfera nacional, mas somente derrotando-se todo o imperialismo, por meio de uma "grande revolução mundial"; 2 – a única classe social capaz de garantir esse processo é a classe operária, dirigida por um partido revolucionário marxista.

Sob esta ótica, porque diabos não seria possível a burguesia resolver essas contradições, ou então porque não se conseguiria realizar essas tarefas sem se romper com a burguesia, ou mesmo por meio "da revolução por etapas", como defendia o partido menchevique e, à posteriori, os PCs stalinistas mundo afora?

No que concerne às independências nacionais, na época imperialista, as burguesias nacionais (principalmente aquelas dos países subdesenvolvidos) acabam-se por tornarem-se sócias menores do imperialismo internacional. Dessa forma, mesmo que tenham alguma resistência política a um determinado projeto imperialista, não a levam às últimas consequências, pois, ao fazerem, estarão negando a si mesmas, estarão expropriando-se, já que não passam de sócias administradoras menores de grandes conglomerados internacionais. E algo parecido acontece com o problema da terra, já que os mesmos burgueses que são donos das fábricas e dos bancos são também os proprietários dos grandes latifúndios.

Já no que diz respeito ao combate às opressões e às ideologias (machismo, xenofobia, xenofilia, racismo, LGBTfobia, dentre outras) porque a burguesia as utiliza para dividir a classe e aumentar a exploração e, portanto, seus lucros.

É definida como uma "teoria-programa", já que sua função não é somente a de analisar e interpretar a realidade, mas serve principalmente para responder programática e politicamente os processos políticos contemporâneos. É uma ferramente poderosa que nos auxilia na compreensão dos processos revolucionários contemporâneos, como as revoluções nicaraguense, a segunda guerra mundial e as revoluções do norte da África, denominadas de "Primavera Árabe".

Assim, segundo os pressupostos dessa teoria, não poderemos jamais nos identificar como trotskistas se não estivermos à frente das lutas contra o machismo, o racismo e todas as opressões. Igualmente não seremos fiéis à tradição marxista se, ao participar desses processos, como o grande ascenso pelas reivindicações da mulher que está se desenvolvendo hoje em dia, não o fizermos com um corte de classe, chamando as trabalhadoras a organizarem-se junto à sua classe e a não confiar nas propostas burguesas, como algumas correntes do feminismo contemporâneo.

Não à toa a luta implacável dos revolucionários no intuito não somente de manter sempre a classe operária (e trabalhadora) – bem como suas organizações – em movimento constante, mas também com o propósito de a incorporar às reivindicações da mulher e a desenvolver um combate implacável contra o machismo, embasada sempre em um programa classista e socialista. Bem da verdade, toda a luta da classe trabalhadora, sob a ótica desta teoria, adquire este caráter.

Portanto, nada tem a ver com o legado de Trotsky (e de todo o marxismo) o recorte de gênero puro e simples (ou mesmo o recorte de raça), assim como a defesa de governos burgueses reformistas amparando-se no argumento de estar-se lutando contra o imperialismo ou mesmo contra o fascismo.

Para Trotsky, o recorte deve ser de classe, pois qualquer reforma dentro do capitalismo está fadada ao fracasso. Tanto que a história confirmou a viabilidade da Teoria da Revolução Permanente. E a prova pela positiva deu-se com as conquistas obtidas pelas mulheres após a Revolução de Outubro de 1917, superiores a tudo que se pode conseguir até o momento nos países capitalistas mais avançados. Já pela negativa, todas as perdas e retrocessos dessas conquistas, oriundos da vitória da contrarrevolução stalinista, confirma igualmente o acerto da teoria. Podendo-se afirmar o mesmo, inclusive, no que diz respeito às nacionalidades.

Em suma, já que a única maneira de superarmos todas essas opressões é assumindo para nós o controle do Estado, ou melhor, com a vitória da revolução operária internacional em seu compto mais geral, o papel de todo o militante trotskista frente às lutas "democráticas" que se desenrolam atualmente (anti-imperialista, pela terra e contra todas as opressões) é o de intervir nelas com força, impulsionando para que a classe operária as encabece e com um programa de independência de classe que as oriente até o poder operário e à construção do socialismo. Concomitante a isso deve, a militância revolucionária, construir o partido internacional da Revolução, assim como suas seções nacionais.

Estaremos assim honrando a memória do velho bolchevique.

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