Reflexões (necessárias) sobre o sistema educacional brasileiro
Jóe
José Dias
Segundo Pierre Bordieu e Passeron,
na obra A Reprodução1,
a cultura escolar é a cultura da classe dominante. Em outros termos,
o que pretende salientar o autor é que a escola legitima a cultura
da classe burguesa como única e incontestável, relegando, ou
melhor, desprezando as outras formas culturais e de experiências que
não se encaixam nesse modelo burguês. Em suma, ao invés de
transformar a sociedade e permitir a ascensão social, a escola
ratifica e reproduz as desigualdades. E isso se revela a partir da
escolha das disciplinas, passando pela própria linguagem simbólica
(regras, comportamentos, ambientes) adotada na escola, que é produto
da relação de forças entre grupos sociais2.
Toda essa concepção, vislumbrada à
luz dos escritos de Marx – mas não somente –, de onde extraíram
parte de suas perspectivas teóricas, é formulada com base ao que os
autores denominam de “violência simbólica”, que nada mais é
que a imposição arbitrária de uma cultura dominante como única
cultura válida, e, portanto, vista como cultura geral. Visão
baseada a partir de uma sociedade dividida em classes sociais.
De fato, já para os jovens Engels e
Marx3,
em seus primeiros escritos, a história de todas as sociedades até o
presente era história das lutas de classes. Mas não somente! Ambos
os autores, naquele que é considerado o documento político mais
importante da classe trabalhadora, por fundamentar – mesmo que de
maneira ainda crua e incompleta – um programa cuja função
principal foi a de formular em bases científicas uma “plataforma
política” que atendesse às necessidades da classe trabalhadora,
elencam:
A
moderna sociedade burguesa, emergente do naufrágio da sociedade
feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Ela apenas colocou
novas classes, novas condições de opressão, novas estruturas de
luta no lugar das antigas.
A
nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se, contudo, pelo
fato de ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade toda
cinde-se, mais e mais, em dois grandes campos inimigos, em duas
grandes classes diretamente confrontadas: burguesia e proletariado.4
Assim, a partir de seus estudos,
Bourdieu salienta haver diferenças culturais no interior de uma
sociedade de classes, possuindo, a burguesia, um determinado
patrimônio cultural constituído de normas de falar, forma de
conduta, de valores, etc. Já as classes trabalhadoras possuem outras
características culturais que lhes têm permitido sua manutenção
enquanto classes. Ao ignorar, contudo, estas diferenças
socioculturais, a escola acaba por privilegiar em sua teoria e
prática as manifestações e os valores culturais das classes
dominantes. Com essa atitude, a escola favorece aquelas crianças e
jovens que já dominam este aparato cultural. E para este sujeito a
instituição escolar atua como uma extensão da sua prática social
e até mesmo de sua família, enquanto os filhos das classes
trabalhadoras precisam assimilar a concepção de mundo dominante5.
Afinal, em um mundo controlado pela burguesia, imprime-se um mundo a
sua imagem e semelhança, em todos os sentidos e em todas as esferas
da sociedade, incluindo as universidades.
Para aqueles das classes
trabalhadoras, para seus filhos, a escola acaba por representar uma
ruptura aos seus valores, que são escoimados, desprezados6.
Em outras palavras, cabe a estes sujeitos a dura tarefa de novos
padrões ou modelos de cultura. Sob essa ótica, não é difícil de
apreender que é muito mais fácil para os alunos filhos das classes
dominantes alcançar o sucesso escolar que para aqueles que não só
precisam aprender um novo jeito de pensar e agir, como a desaprender
aquilo de que já sabiam. Ou seja, precisam se negar enquanto sujeito
social – inclusive no que concerne a relegar seus hábitos e
substituí-los por hábitos estranhos: começam a reproduzir todos os
vícios e preconceitos das classes dominantes7
(muitas vezes preconceitos de classe, de gênero e de raça, que
atuam como segregador social praticamente impossíveis de serem
destruídos) – se quiserem se tornar um sujeito ativo nessa
sociedade.
Como os filhos das classes
superiores dispõem de um capital cultural herdado de suas famílias,
é mais fácil para eles lograrem êxito no que diz respeito à
assimilação e adaptação às exigências estipuladas pelo sistema
escolar. Este capital cultural adquirido logo cedo por essas crianças
“compõem um ambiente propício às aprendizagens e explicam o
sucesso escolar dos filhos destas classes. Estas aquisições,
constitutivas do habitus,
produzirão seus efeitos ao longo do percurso escolar. Assim, não é
surpreendente que os ‘herdeiros’, estudantes oriundos da
burguesia, sejam super-representados nas universidades, em relação
aos ‘bolsistas’, de origem social modesta”8.
Mas não somente. Em países
subdesenvolvidos como o Brasil, elementos estruturais e
socioculturais oriundos de países onde as relações capitalistas se
dão sobre bases mais sólidas, mesclam-se com elementos primitivos
de nossa sociedade, acentuando e amplificando assim as contradições
inerentes ao próprio capitalismo. Essas características são também
elas fomentadas pelo sistema escolar9.
Dessa forma, a escola – assim como
as universidades – age coercitivamente como impositora cultural —
guinada sempre pelo grupo dominante —, cujo principal objetivo é
impor a visão burguesa de mundo, e não outra. Daí o fracasso
escolar da maioria das crianças filhas de operários e de membros de
classes menos abastadas. Voltando a Bonnewitz:
Para
que a escola possa realizar a produção social, isto é, garantir a
dominação dos dominantes, ela deve ser dotada de um sistema de
representação fundado na negação dessa função. Tal é o papel
da ideologia, definida numa acepção marxista como um conjunto de
representações deformadas das relações sociais produzido um grupo
ou uma classe e realizando uma legitimação de suas práticas. A
ideologia apoia os sujeitos e tende a erigir suas práticas sociais
em práticas legítimas, diante dos outros grupos e/ou classes.10
À
luz dessa perspectiva, não é sofisma alguma afirmar que a escola,
longe de ser libertadora, é sim conservadora, pois atua em função
da manutenção da ordem vigente e mantém a dominação dos
dominantes sobre as classes populares.
Essa dominação, por outro lado,
não é feita apenas pela escolha do currículo escolar — que
requer dos alunos afastados do sistema um verdadeiro processo de
desculturação, de negação do seu próprio modelo de enxergar o
mundo11
—, mas também pelo sucateamento, no Brasil, do ensino público. Ou
seja, não bastasse o fato de a escola se mostrar indiferente às
diferenças de habitus,
implementando uma “pedagogia da ausência de pedagogia”, como
diria Paulo Freire, os alunos do ensino público brasileiro ainda
sofrem com o descaso do Estado brasileiro para com a educação
pública. Assim, alunos do ensino público, no Brasil, sofrem,
concomitantemente, duas exclusões: a de ter um programa curricular
extremamente alheio ao seu modo de ver e pensar o mundo e a pouca
estrutura que a escola pública brasileira oferece.
Ademais, há o fator crucial da
“diferença da língua”, já que há enormes diferenças entre o
falar burguês e a linguagem popular. Enquanto aquele conserva uma
certa tendência à abstração e ao intelectualismo, esta é mais
dinâmica e versátil, manifestando-se de maneira inversa à variante
conhecida como culta e por uma tendência a majorar o caso
particular. O que acaba por acarretar no desenvolvimento de
argumentações mais simples, menos estruturadas, contrariando as
exigências escolares. Citando Bonnewitz12:
“A criação da cultura escolar aparece assim como um exemplo de
violência simbólica”.
Todas essas questões se tornam
evidentes e incontestáveis quando transplantadas para uma análise
mais estrutural da educação brasileira, em especial a educação
pública, ainda mais agravada pelo descaso do Estado13.
Não que a educação brasileira não seja toda ela excludente
impondo uma linguagem e um modo de ver o mundo eminentemente burguês.
Pelo contrário! Acontece que nesse processo os alunos da educação
pública sofrem ainda mais em decorrência do descaso do Estado para
com a educação brasileira. Esta ao invés de estratificar a
sociedade, ou melhor, de reforçar a estratificação social vigente,
deveria atuar como agente libertador e igualitário entre os
diferentes membros sociais, não excluindo a matéria oficial, desde
que importante para o crescimento intelectual do aluno, porém não
relegando as outras formas culturais de ver e pensar o mundo, de
forma a buscar equalizar o erudito e o popular. Eis a meta da
educação: tornar o erudito popular e o popular erudito, à medida
como o fez Vinícius de Moraes, usando elementos populares e eruditos
em sua poesia musicada, muito ouvida e reconhecida.
Tratando-se no ensino da língua
portuguesa em estritu
sensu essa também é a
meta. Contudo, ao se afirmar isso é claro que não está se
excluindo o ensino da gramática normativa nas salas de aula; o que
se pretende é passar esses conhecimentos de outra maneira.
Primeiramente, no que tange ao professor, este, a meu ver, tem de
servir como uma espécie de elo entre o aluno e a matéria abordada
em sala de aula, dando voz ao aluno e respeitando seu tempo e seu
modo de ver e perceber o mundo a sua volta. Por outro lado, o assunto
abordado não pode ser o mesmo que se dá hoje no ensino
convencional, principalmente no ensino do português. Isso porque a
gramática é uma espécie de convenção linguística, um acordo
estipulado entre intelectuais e estudiosos, que decidiram
convencionar o estudo da língua dessa maneira e não daquela outra.
Ou seja, quando se convencionou a estrutura básica da gramática
normativa do português, o fez se baseando em escritores já
canonizados, como Luiz de Camões, Machado de Assis, Eça de Queiroz,
dentre outros, excluindo-se completamente o português das ruas e
desrespeitando, inclusive, as diferenças regionais.14
Todavia, como nosso local de
inserção social é também ele determinante para a as escolhas de
nossos discursos – discursos estes que muitas vezes se inscrevem em
uma determinada época –, e embora fatores de ordem inconsciente
determinem as singularidades de todo o sujeito e de todo o discurso,
é impossível falar de uma pretensa autonomia tanto do autor, quanto
do discurso. Como afirma Coracini15,
“Não é possível, a rigor, falar de autonomia se considerarmos
que ‘toda e qualquer relação consigo ou com os outros será
inevitavelmente uma relação construída e regulada’ (CORACINI,
2001, p. 181), uma relação de poder que inclui certos pensamentos,
ações e sentidos e exclui outros”. Em suma, toda forma de
representação cultural tem ela cumplicidade com o poder e a
dominação.
Nesse
sentido, a reflexão crítica que pressupõe a autonomia e a
emancipação e, com elas, toda uma galáxia de conceitos –
liberdade, independência, integridade, verdade, sinceridade, escolha
racional, dentre outros – constitui apenas mais uma ideologia que
escamoteia relações de poder, sob o disfarce te(le)ológico da
construção de uma sociedade democrática – e da construção de
uma escola ideologicamente neutra, que defende o conhecimento
objetivo, autêntico, desinteressado, verdadeiro. Finalmente a
promessa da torre de marfim que se gostaria de ver concretizada, mas
que permanece como uma ilusão que revela na forma de desejo
recalcado e, como tal, sempre perseguido!16
Perpetuam-se,
dessa forma, relações de poder pela exclusão, sob o manto de uma
aparente inclusão de todos.
Não obstante, como se viu, a
gramática foi elaborada à luz de escritores de diferentes épocas,
o que quer dizer que o português ali contido nunca existiu enquanto
língua viva e orgânica de fato, ainda mais que entre Brasil e
Portugal, por exemplo, existem significativas diferenças de
elaboração linguística nem sempre respeitadas pela gramática
tradicional (normativa). Assim, como o português padronizado como
língua oficial foi calcado tendo como base escritores canonizados,
somente uma parcela pequena da população, já afeita às leituras
de muitos deles, conseguem pleno êxito nas salas de aula, em se
tratando de língua portuguesa. Os demais claudicam e se sentem
desestimulados em aprenderem algo que não condiz com sua realidade,
com o seu modo de ver o mundo, e acabam se sentindo incapazes de
dominar aqueles códigos, achando que não dominam a própria língua
da qual são falantes nativos.17
Não conseguem perceber, graças à
escola, que a gramática tradicional praticamente despreza a língua
falada. Fazendo uma simples metáfora – extraída de Bagno, em seu
clássico Preconceito
Linguístico – é como
se a língua fosse um rio corrente, que tivesse em constante mudança,
em constante movimento, e a gramática uma poça de água, estagnada
e velha. Quando o rio enche demais e transborda, renova parcialmente
a água daquela poça, trazendo novas águas e elementos. Assim é a
linguagem, e por isso que uma vez ou outra a gramática sofre algumas
pequenas alterações. Porém, estas só vêm a acontecer quando as
alterações linguísticas extravasam os meios populares e chegam aos
membros da classe dominante.
Cabe, dessa maneira, ao professor de
língua portuguesa, assim que ciente dessas questões, buscar
alternativas do ensino da língua que fujam dessas técnicas, sem,
contudo, excluir o ensino do padrão, pois esse se faz importante no
meio social18.
Porém, no que tange especificamente a esta questão, cabe também ao
professor questionar o conteúdo estipulado, situá-lo e
compreendê-lo dentro de determinadas margens político-ideológicas,
para que não caia na armadilha de reproduzi-las meramente e de
manter assim as relações fixas de poder intactas19.
E isso só é possível rompendo
radicalmente com o modelo de ensino vigente e adotando outra forma,
mais dialética e menos formal. Um modelo capaz de abordar toda a
riqueza e toda cor da realidade, todos os seus elementos vivos e
atuantes. A despeito do pensamento cognitivo, que começa com a
diferenciação, com a fotografia instantânea, com estabelecimento
de “termos-concepções”, nos quais os momentos separados do
processo são estabelecidos, mas dos quais o processo como um todo
escapa. Estes “termos-concepções”, criados pelo pensamento
cognitivo são então transformados em grilhões. A dialética remove
esses grilhões, revelando a relatividade dos conceitos imóveis, a
transição de cada um.
Não afirmo, todavia, que a função
do professor seja nula. Seria desqualificar seu papel de formador de
opinião e a influência que exerce sobre os alunos, bem como
relegá-lo. Não é isso. Todavia, para que ocorram de fato mudanças
reais na educação brasileira, faz-se necessário um rompimento
radical com este falido modelo, que segrega (em diferentes estágios)
professores e alunos. Afinal de contas, como bem definiu Darcy
Ribeiro, “a crise da educação no Brasil não é uma crise; é um
projeto”.
É claro que – mesmo neste modelo
fracassado de educação, e mesmo sob uma perspectiva burguesa de
ensino –, para se trabalhar com esse tipo de material anteriormente
referendado (novas mídias, literatura...) seria necessário que as
escolas públicas tivessem, no mínimo, uma estrutura adequada, com
salas de informática, com bibliotecas razoavelmente estruturadas,
etc.20,
do mesmo jeito que profissionais bem preparados e remunerados, com
tempo destinado de sua carga horária para se dedicarem à pesquisa e
à elaboração de novas estratégias de ensino, por exemplo. O que,
de fato, não faz parte da realidade brasileira. A burguesia nacional
é intencionalmente incapaz de preparar a sociedade como um todo para
atender a seus próprios interesses, as suas próprias necessidades.
Como não é “dona de seu próprio nariz” e como não tem um
projeto próprio de nação, marginaliza as classes populares,
marginalizando inclusive – mesmo que parcialmente – a si própria.
Cabe-nos
refletir como a educação pública se efetiva hoje, principalmente,
nas escolas dos países “periféricos”, os quais têm como único
instrumento em meio das relações mundializadas do capital, a força
de trabalho da população. Houve sim a expansão da educação, do
direito à educação, entretanto, o ensino ofertado às crianças
oriundas das classes dominantes mantém-se ainda diferente ao
ofertado para as crianças das classes subjugadas, mesmo sendo ambos
os modelos burgueses. Manacorda, em sua obra Marx e a pedagogia
moderna, nos brinda com uma leitura da escola contemporânea, na qual
demonstra os “avanços” conquistados e a manutenção das
“diferenças”, conforme segue abaixo:
A escola, daquela estrutura reservada aos jovens das classes privilegiadas, converteu-se, cada vez mais, numa escola aberta também aos jovens das classes subalternas. A velha aprendizagem artesanal desapareceu e o vazio por ela deixado foi ocupado pelo ensino elementar e técnico-profissional e pelo novo aprendizado do trabalho representado pelas escolas de fábrica. Mas a antiga discriminação de classe continua a manifestar-se, mais ou menos acentuada nos vários países, com duas linhas de fratura: uma, “horizontal”, entre os que deixam precocemente as estruturas escolares para ingressar nas estruturas do trabalho, e os que naquelas permanecem ulteriormente para adquirir a ciência; a outra, “vertical”, entre os que estudam na escola desinteressada da cultura, e os que estudam na escola profissional da técnica. A tendência atual é do deslocamento para cima da divisão “horizontal”: dos três anos de escolaridade obrigatória de um século atrás passou-se aos oito anos de hoje.21
Em suma, percebemos, dentro do
processo histórico de institucionalização da escola pública, que
esta sempre foi vista como instrumento para manutenção da
dominação. É verdade que,
mesmo antes do capitalismo, a pedagogia educacional, quando – em
raros momentos – atingia parcelas insignificante das classes
populares, mantinha-as afastadas da
ciência. Atualmente, com a
completa hegemonia capitalista, a educação é utilizada para a
obtenção de pseudos
investimentos, os quais
podem ser considerados puramente como empréstimos que mantém a
subordinação.
A dominação perpassa o domínio
microssocial e direciona-se para o macro, pois, através da
reprodução da ideologia dominante, o despertar de consciência dos
trabalhadores é dificultado. Para a manutenção da acumulação de
capital, não é interessante que o trabalhador se perceba como
“classe” capaz de fazer história. Daí o duplo fracasso das
instituições educacionais brasileiras (partindo-se do nosso ponto
de vista, é claro): se por um lado se mostra incapaz – do ponto de
vista do trabalhador – de se tornar uma ferramenta de libertação,
à exemplo dos outros modelos de outras nações capitalistas, do
outro, o fracasso também decorre por ser parte do projeto burguês
brasileiro excluir as parcelas populares da própria educação
burguesa. Mas os motivos desse segundo projeto, suas causas mais
globais, seriam tema para outro ensaio. Do momento, fica-se a
conclusão: não basta reformar o ensino; é preciso revolucioná-lo
por inteiro, assim como toda a sociedade, pois somente
revolucionando-a é que poderemos criar um ensino realmente pleno e
libertador. Somente o socialismo pode libertar o trabalhador de seus
grilhões e somente uma sociedade socialista, governada pelos
trabalhadores, pode fazer acontecer um modelo educacional
verdadeiramente livre, dialético e libertador.
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De Lobato e Mazzaropi...
todo caipira tem um pouco.
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-----------------------
Notas:
1
BOURDIEU, P; PASSERON, J. C. A
reprodução: elementos para uma teoria do sistema de ensino.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1975.
2
Dessa forma, segundo Bourdieu, não existe justificativa alguma em
se estudar a literatura canonizada e não se estudar as outras
formas de linguagem e representação artísticas mais
características das classes populares, ou menos consumidas pelos
representantes da classe dominante, como a história em quadrinhos,
os grafites, o hip-hop, etc. Ver: DIAS,
Jóe José. Entre o
popular e o erudito: o papel do professor de língua portuguesa nos
ensinos fundamental e médio.
Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/759350.
Acesso em: 25/11/2016.
3
Ver: MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. O
Manifesto do Partido Comunista.
1848.
4
Idem.
5
Ver: FORTUNATO, Sarita Aparecida de Oliveira; STIVAL, Maria Cristina
Elias Esper. Dominação
e reprodução na escola: visão de Pierre Bordieu.
Disponível em:
http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/676_924.pdf.
Acesso em 25/11/2016.
6
Ver: DIAS, Jóe José. Op.cit.
7
Ao negar a si mesmo, nega sua origem, seus costumes e raízes,
passando a vislumbrar ao mundo e a si próprio com o olhar do outro,
sob a perspectiva do opressor. E agindo como tal, reproduz
preconceitos de classe, de raça e de gênero que visam a destruir
os laços de comunhão com os seus, que além de desagregá-lo, de
separá-lo dos indivíduos de sua classe, faz com que reproduza em
seu contexto social estes mesmos vícios que o atacam. Um bom
exemplo é a dupla jornada imposta às mulheres trabalhadoras que,
depois de uma longa jornada de trabalho – onde por sinal são
menos remuneradas que seus colegas homens –, se veem socialmente
obrigadas a assumirem para si as tarefas domésticas. E isso só é
possível porque existe em nossa sociedade a ideologia machista,
fomentada que é pelas instituições do estado burguês e pelos
aparatos midiáticos majoritários, por ele financiados.
8
BONNEWITZ, Patrice. Primeiras
lições sobre a sociologia de Pierre Bourdieu.
Petrópolis: Vozes, 2003, p. 80.
9Esse
parágrafo é importante, na medida em que busca situar o texto na
realidade brasileira. É que tanto Bordieu, quanto Bonnewitz
discutem o sistema educacional francês. Assim, além de discutirmos
o papel que a classe dominante (a burguesia) tem ao criar
ideologicamente os sistemas educacionais pelo mundo, discutiremos
algumas especificidades da educação brasileira, que acumula outros
problemas e contradições àqueles já inerentes na educação
burguesa. Cada classe cria sua cultura e, por conseguinte, sua arte.
A história conheceu as culturas escravistas da Antiguidade clássica
e do Oriente, a cultura feudal da Europa medieval e a cultura
burguesa que hoje domina o mundo.
10
Idem, p. 116.
11
Ver: DIAS, Jóe José. Entre
o popular e o erudito: o papel do professor de língua portuguesa
nos ensinos fundamental e médio.
Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/artigos/759350.
Acesso em: 25/11/2016.
12
BONEWITZ, Patrice. Op.cit., p. 120.
13
Ver: DIAS, Jóe José. Op.cit.
14
Idem.
15
CORACINI, Maria José Rodrigues Faria. A abordagem reflexiva na
formação do professor de língua. In: MOITA LOPES, Luiz Paulo da
(Org.) Por uma
linguística aplicada indisciplinar.
São Paulo: Parábola Editorial, 2006, p. 312.
16
Idem, p. 313.
17
Idem. Ibidem.
18
Uma técnica interessante, e que vem dando certa em algumas
escolas, é trabalhar com produção textual em sala de aula,
estimulando a criatividade e a leitura. Um dos caminhos hoje
interessantes é buscar trabalhar com textos acessíveis não
somente no meio impresso, mas também em outras fontes, como mídias
(literatura falada), por exemplo.
19
Não sejamos, contudo, inocentes em pensar que o professor tem
autonomia completa de expor o conteúdo da maneira que achar mais
conveniente. Mesmo aqueles mais conscientes de seu papel são
forçados a seguir um cronograma (que extravasa questões meramente
conteudísticas) que não foi pensado e elaborado para democratizar
um ensino isonômico. Pelo contrário! Como foi visto, o papel da
escola é o de segregar os alunos filhos das classes populares,
incutindo-lhe uma educação alienígena ao seu modus
vivendis, por fazê-los
vislumbrar o mundo e a si mesmos com o olhar do opressor, sem
direito a questionamentos. Sutilmente ou não (vejamos o caso
recente da chamada “Lei da Mordaça”, no caso brasileiro), o
papel da escola em um estado capitalista – como parte das
instituições do estado burguês – é o de agente coercitivo e
segregador, agindo não somente sobre os docentes, mas
principalmente sobre os discentes. O ensino não precisa de uma
reforma; precisa sim ser reformulado, reestruturado sobre outras
bases. E isso é impossível na sociedade capitalista em que
vivemos. Desprezar este fato seria responsabilizar os professores
pela reprodução consciente da ideologia burguesa de maneira geral,
bem como pelo fracasso do sistema de ensino brasileiro em
particular.
20
No que se condiz à técnica não parece difícil, podendo ser uma
alternativa interessante para se passar o conhecimento formal, sem
excluir, ou sem desprezar as experiências dos alunos. Cada um leria
um livro a seu gosto, elaborando em seguida um pequeno resumo
escrito do livro e trocando-o com outros colegas, assim como também
os livros. Como forma de estímulo à leitura, poder-se-ia tentar as
mídias, que instigariam os alunos a buscar, quem sabe, outras
fontes. Com a leitura continuada, os alunos, intrinsecamente,
apreenderiam com mais facilidade as regras gramaticais, cabendo ao
professor, apenas, a tarefa de indicá-los as diferenças entre a
linguagem coloquial — viva, criativa e orgânica — e gramática
tradicional.
Todavia,
a técnica a ser usada é um mero detalhe nessa discussão, na
medida em que o escopo deve recair na forma em como é explorado o
conteúdo do ensino de língua portuguesa nas escolas brasileiras.
Tratando-se a gramática como linguagem formal padrão, acessível
aos poucos que têm acesso à cultura denominada erudita, cria-se
uma espécie de guerra onde os que dominam o código linguístico se
enquadram mais facilmente nos mecanismos classistas sociais. Quem
não domina esse sistema de códigos tem uma oportunidade menor de
sucesso, na medida em que não dialoga diretamente com a classe
dominante.
21 MANACORDA,
M.A. Marx e a pedagogia Moderna. Tradução: Newton Ramos de
Oliveira, p. 51. São Paulo: Cortez, 1996. APUD CATINI, Carolina de
Roig. A crítica à educação em Marx: discussões sobre a educação
e trabalho na teoria marxiana. São Paulo: UNICAMP, sd. Disponível
em:
http://www.unicamp.br/cemarx/ANAIS%20IV%20COLOQUIO/comunica%E7%F5es/GT5/gt5m1c2.pdf.
Acesso em: 25/11/2016.



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