Relato de um novo camarada

Vitor Rodrigues, um jovem estudante de Florianópolis (SC), escreveu “um pequeno texto criado por mim; que serve de homenagem – sem certeza alguma –, para todos os camaradas do Mundo, não sei se acrescenta em algo. É só o que um aspirante a militância sentiu ao estar ao lado de seus camaradas – feito nas jornadas de junho em Florianópolis, Santa Catarina”. Assim como ele, muitos jovens puderam experimentar, a partir das Jornadas de Junho, a possibilidade de mudar a realidade por suas próprias mãos. Com a sua permissão, publicamos seu franco relato e lhe damos as boas-vindas!


PRIMEIRO ATO É a primeira vez, não? Você durante um tempo se enche de expectativas, dúvidas, ânsias e fica extasiado de coisas na cabeça, é até divertido o estado do ser quanto à expectativa criada em função de alguma coisa. Conhecendo as pessoas que iriam fazer parte daquilo tudo, conversando aos poucos, uma ou duas reuniões feitas pré-ato – fora do contexto do ato -, conversas via Facebook e SMS, assim, adentrei em um lugar que talvez possa a ser costumeiro para mim. Poderei ter alguns entraves, caso de alguns conceitos que eles seguem, mas não é o caso do meu texto que agora escrevo; este é feito para descrever como foi minha primeira vez.

Foi numa quinta-feira brasileira, foi numa quinta-feira internacional, sim, numa quinta-feira; saí de casa sabendo o que poderia encontrar ou nem tanto, mas com alguma ideia do que iria fazer; a princípio, a família pensava que eu estava indo para ver um cômodo para minha estadia enquanto universitário – mas não, já pensava em entrar de cabeça, no que seria meu primeiro ato, a participação de uma manifestação com o movimento da universidade e o partido que penso militar em prol do proletariado – o PSTU. Foi assim que fui; sem saber e sabendo quem e o que iria encontrar, caminhando diversos minutos pensando no que fazer e no que falar, cada passo um pensamento que vinha à cabeça de forma fugaz, entrava nos ônibus – estes que lutei por passagem livre, e imaginava no que estava me metendo. Cheguei ao local de encontro, o local que findava minha chegada em algo maior; sim, maior, pois a luta é por uma causa maior, sempre.

Não faltou receptividade da parte dos que ali estavam mesmo desconhecendo com quem falavam me trataram da melhor forma possível, sem preconceitos, sem olhares estranhos – só de desconhecimento -, mesmo nas conversas em que eu não deveria fazer parte, chamavam e argumentavam de forma liberta, sim, a liberdade que tanto prego, eu encontrei no local onde se reuniam os chamados “extremos”, tão ironia do destino foi estar presente. A pessoa que me chamou pra isso tudo, não estava presente, mas conheci algumas pessoas especiais, sim, mal os conheço todos eles e já são especiais, isso porque a paixão que demonstraram na luta, me cativou de forma certa. Ficamos durante uma hora parados na universidade, fotos foram tiradas, conversas foram jogadas fora e um ciclo vermelho foi se formando, uma ligação entre o eu e o eles, não tirei dúvidas naquela hora, a única coisa que perguntei foi: “Onde posso ajudar?”, a resposta foi direta e me deram algo para fazer. Não foi o sentimento de ser útil e sim, o de fazer parte de algo, talvez algo que sempre defendi.

Então saímos da universidade em direção ao ônibus, o lema era pula catraca, mas nem foi preciso, afinal, é difícil trinta pessoas entrarem num ônibus pela catraca, foi mais fácil entrar pelas portas dianteiras mesmo. A muvuca era grande, porém organizada, contraditório e outra ironia; cantavam como loucos, mal notaram que ficaram roucos antes do ato, pouco importava isso, a revolução estava sendo feita desde já. As pessoas aglomeradas dentro do ônibus estavam tensas e excitadas, iam fazer a diferença, podiam fazer a diferença; pouco mais de dez minutos, chegamos ao local onde descemos e formamos o bloco vermelho, pouco antes do local de partida, gritos chamando a população, ali eu consegui conversar com poucos sobre o partido, sobre a manifestação, “Organizados” dizia um, ainda que pouco fosse verdade.

Todos estavam atentos, cada um ajudava da forma que pudera, a organização do nosso bloco estava boa diferente da geral, sim, a geral estava desorganizada, isso se explica, pois era a primeira vez que se uniram, à esquerda. Fomos intimidados logo de inicio, poucos fascistas ultradireitistas gritavam tentando intimidar-nos desde antes do ato; os vermelhos iam se juntando e conforme chegavam, confrontamos aqueles poucos que com a desinformação da população que estava presente, viravam muitos, esse é o poder do fascismo, isso é fascismo. O ato ainda não começava quando alguém vem ao meu lado e grita “Abaixa essa merda”, uma jornalista que nunca tinha visto na vida logo entra em discussão com o homem, que depois de dialogar, saiu revoltado com a moça – devo agradecê-la em algum momento. O tempo ia passando, o atrito ia aumentando, mas peitamos todos, todos com gritos e pacifismo, que graças à segurança improvisada foi possível, afinal, todos estavam exaltados, inclusive os vermelhos.

Antes de escrever sobre o ato, acho que tenho que escrever o que senti enquanto não começava, é maçante, mas um pequeno poema vai demonstrar melhor aqueles momentos que vivi pré-ato;

Sentimento Vermelho Emana do coração uma chama vermelha, Eu, que aqui estou, me rendo à causa gritada, Juntos contra estes fascistas – eu sou a suprema, O barulho que fizemos, eclode o sentimento de cada pessoa exaltada. Sou o desconhecido junto dos guerreiros conhecidos, Sou o nômade que encontrou um valor pelo qual lutar, Sou a pessoa, que agora tenta socializar com esses destemidos, Sou eu aqui, que tento de alguma maneira ajudar. Não sinto medo em gritar, Não tenho receio em sofrer, Assim como amo estar, Posso junto deles, correr. Se forem dez ou um milhão, Estou disposto a enfrentar.

Demoramos algumas horas até o início do ato, chegamos horas antes para organização de todos os presentes; isso é natural dentro de algo grande, uns precisam organizar, apesar de tudo ter sido feito meio que na hora, mas o motivo já foi explicado. Eu estava afoito, meu coração disparava, minha posição era foi fixa durante boa parte do ato, eu segurava a bandeira como se fosse a última coisa a fazer, mesmo que estivesse pesada. O ato começou. Um bloco foi formado com centenas de vermelhos, poucos, mas que com todo fervor e coração faziam da manifestação, a coisa mais bonita já vista na cidade, isto porque juntos, gritavam como milhares. É tão complicado descrever todo o momento que se passou, o início do ato foi conturbado por um pequeno grupo, mas seguimos em frente, juntos; nos dispersamos diversas vezes, o que foi solucionado por um grupo que chamaram de “segurança” e feito na hora do ato.

Eu poderia descrever toda a manifestação, tudo que senti nas seguintes palavras, mas não consigo achar um final de texto à altura do que passei ou senti junto dos camaradas vermelhos, eu que imprimi minha alma junto deles na manifestação, sim, pois gritei como nunca tinha gritado; esse era o início da luta, o início duma revolução, isso era a revolução; mas ainda não basta, nunca bastará até o império que se formou no decorrer dos anos cair e ser erradicado; utopia é não acreditar nas mínimas possibilidades, afinal, são possibilidades, se existem, vamos lutar por elas; eu vou junto desses destemidos guerreiros, estudantes, trabalhadores, toda essa gente que vive uma rotina desigual baseada na luta pelo capital, que agora se reúne contra esse mal criado pela burguesia que tanto se aproveita de todos, agora todos vão às ruas nesses tempos primaveris – como diz uma amiga. Essa é a chance, esse é o início de algo.

E é assim que termino o texto que marca meu início em algo, pode não ter sido um grande texto, com um grande final, mas foi tudo escrito com coração impresso em cada letra e palavra; espero passar por mais dias como aquela quinta, é tempo de mudança, é tempo de tentar mudar e lutar por isso, é tempo de sair do gabinete e viver o que pensei, é hora de viver o amor e a paixão de lutar pela mudança de nós, por nós e do Mundo. Esse é o fim do meu início.

Comentários

  1. Belíssimo depoimento. Deveras lindo, sensível, sincero e emocionante. Meus sinceros parabéns a este "novo-lutador" de nome Vítor que, assim como tantos outros, acreditam e lutam por um mundo melhor. E parabéns também pela equipe de comunicação do PSTU pela excelente publicação. Meu sincero abraço!

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