Coluna CULTURAL nº10 - 29/01 a 05/02
Espetáculo Evocações estreia no Teatro da Ubro
De volta aos palcos em Florianópolis, o monólogo teatral ‘Evocações’ – Sobre a Obra de Cruz e Sousa, da Cia Aérea de Teatro, integra a programação de verão organizada pela Secretaria Municipal de Cultura. A peça será apresentada esta semana, de quarta a sexta-feira (28 a 30), no Teatro da Ubro, às 20 horas, com ingressos a R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia-entrada).
Pontuado com trechos da biografia de Cruz e Sousa (1861-1898), o espetáculo ‘Evocações’ revive dilemas abordados pelo escritor. Em cena, a atriz Luiza Lorenz dá corpo e voz a temas que estão muito presentes na obra do poeta simbolista, como o louco, o emparedado, o artista e o excluído.
Dirigido por Andrea Ojeda, da Cia Périplo de Teatro, de Buenos Aires (AR), o espetáculo estreou no teatro El Astrolábio, de Buenos Aires em 2011 e foi apresentado no ano seguinte em mais de 20 cidades, marcando as comemorações aos 150 anos de nascimento de Cruz e Sousa – celebrado em novembro de 2011.
Nascido em Desterro, atual Florianópolis, João da Cruz e Sousa teve uma vida marcada por dificuldades financeiras, sofrimentos familiares e discriminação racial. Engajado nas lutas de seu tempo, o artista militou contra a escravidão e sofreu incompreensões pela poética que o revelou mais tarde como o maior nome do simbolismo brasileiro. Morreu pobre, aos 36 anos, vítima de tuberculose.
Entre as obras do escritor destacam-se Missal (1893, prosa poética) e Broquéis (1893, poesia). Após sua morte foram publicados ainda os livros Evocações (1898, prosa), Faróis (1900, poesia) e Últimos Sonetos (1905, poesia), confirmando o poeta negro entre os grandes nomes da literatura mundial. Para maiores informações: (48) 3222-0529.
Programação de verão
Moradores de Florianópolis e turistas que visitam a
cidade vão poder conhecer um pouco da produção artística local e
aproveitar uma agenda cultural variada no período de verão. Nos meses de
janeiro e fevereiro, a Secretaria Municipal de Cultura oferece 26
atividades gratuitas, ou com ingressos a preços populares, abrangendo
música, teatro, contação de histórias e exposições de arte.
A programação é variada e visa não somente agradar aos adultos, mas também às crianças. Contando com espetáculos de música, teatro, contação de histórias e exposições, estende-se de 28 de janeiro até 28 de fevereiro.
Para maiores informações, inclusive para consultar a programação, acesse a página da Fundação Franklin Cascaes.
Eli Heil no MASC
Eli Heil, pode-se dizer, é uma artista sui generis
e, para muitos, completamente marginal, pois não se insere em nenhum
movimento artístico-cultural nacional. No entanto, essas qualidades,
longe de depreciar o valor artístico de sua obra, conferem à artista de
85 anos uma linguagem sempre nova e revolucionária, fazendo dela uma
figura importantíssima não somente na cena cultural nacional como
internacionalmente.
Eis
o que é Eli: um caleidoscópio criativo e colorido, do qual vomita sua
arte em golfadas vibrantes e inteligentes. Um belo exemplo desta sua
criatividade pode ser conferida no Museu O Mundo Ovo, localizado
na SC 401, em Florianópolis. Não é incomum, por exemplo, vê-la narrar em
pormenores seu estado emocional e físico no momento da produção das
obras (seus filhos!), os denominados "vômitos criativos" e a expulsão de seres amorfos de dentro de si numa espécie de "parto colorido". Relembra com honesta tristeza a derrubada de Adão e Eva,
esculturas edificadas em cimento na entrada do Museu que foram
derrubadas para a construção de uma estrada e hoje jazem no cemitério
metafórico.
A mostra é a maior retrospectiva pictórica de seus 52 anos de carreira e é compreendida por obras do acervo pessoal da artista, bem como por obras do acervo do MASC. Da produção mais recente está nas paredes o conjunto de 50 desenhos coloridos feitos entre 2012 e 2013, além das experimentações em preto e branco, de telas imensas, enormes, e de um desenho feito em novembro passado.
A mostra é a maior retrospectiva pictórica de seus 52 anos de carreira e é compreendida por obras do acervo pessoal da artista, bem como por obras do acervo do MASC. Da produção mais recente está nas paredes o conjunto de 50 desenhos coloridos feitos entre 2012 e 2013, além das experimentações em preto e branco, de telas imensas, enormes, e de um desenho feito em novembro passado.
O quê: Exposição Eli Heil — 85 anos
Quando: De 10 de Dezembro a 22 de Março de 2015, de terça a
sábado, das 10h às 20h30min. Domingos e feriados, das 10h às 19h30min
Onde: Museu de Arte de Santa Catarina (Av. Irineu Bornhausen, 5.600, Agronômica, Florianópolis) - CIC.
Quanto: gratuito
Informações: (48) 3664-2630 e (48) 3664-2631
Corpo e mutilação
Linhas e formas compõem as pinturas de Adriana Maria dos Santos na exposição Disability, que abre em 05 de fevereiro, quinta-feira, às 19h, no Espaço 2 da Fundação Cultural Badesc.
Buscando relacionar os estados do corpo, a artista trabalha com a
deficiência e tensão entre os meios externos e internos, relacionando as
mutilações com os estados da alma e trabalhando com a impotência do
corpo em ser completo, ou seja, aceitar a fragmentação como potência.
A exposição ficará aberta para visitação na própria Fundação, na Rua Visconde de Ouro Preto, centro, de 05/02 a 06/03/2015, de segunda à quinta-feira, das 12hs às 19hs e será gratuita.
Cinema
A Fundação Badesc divulgou nesta quinta-feira, 29/01, a programação de fevereiro do CINECLUBE FUNDAÇÃO BADESC. A proposta é a exibição de bons longas metragens nacionais e internacionais, os chamados "filmes alternativos", não exibidos nas meramente comerciais salas de cinemas dos shoppings centers. Para consultar a programação, clique aqui.
Sugestão de leitura: CULTURA E IMPERIALISMO
Sugestão de leitura: CULTURA E IMPERIALISMO
Edward
Said segue sendo uma inspiração para os apoiadores da causa
Palestina e os críticos do imperialismo passado e presente. Lembrar
a sua inestimável contribuição ao conhecimento do Oriente Médio,
sua crítica ao imperialismo cultural e sua postura de honestidade
intelectual parece-nos o modo adequado de reafirmar seu lugar no
pensamento crítico da atualidade malgrado uma morte prematura.
Em
consonância com essa intenção parece-nos oportuno destacar alguns
aspectos de duas obras que contribuíram para tornar Said
mundialmente conhecido e respeitado. Orientalismo, o livro
escrito em 1978 e traduzido em inúmeras línguas cujo sucesso
abrangente surpreendeu o próprio autor (foi best seller na
Suécia) e abriu novas perspectivas para o estudo do imperialismo e
Cultura e Imperialismo (1993), que trouxe contribuições
decisivas à história das relações diplomáticas entre o Oriente
Médio, por um lado, e a Inglaterra, a França e os Estados Unidos,
por outro.
Antes
de Said, orientalismo era uma disciplina acadêmica que
incluía, entre outros, os estudiosos da língua e da cultura árabe
nas universidades, nos centros de pesquisas e as publicações sobre
o tema. Apesar da chancela acadêmica, estes estudos fizeram muito
pouco para desmontar os preconceitos existentes em relação ao seu
objeto; ao contrário, perpetuaram uma imagem distorcida dos árabes
– como sensuais, corruptos, preguiçosos, atrasados e violentos. Os
métodos institucionais e culturais serviram de veículo através do
qual os europeus construíram uma noção idealizada do Oriente,
designaram fronteiras hierárquicas entre este e o Ocidente,
fabricando-se a si mesmo através dessa separação arbitrária e
útil, construindo a identidade cultural européia por sobre e contra
o Oriente. Esta constatação serviu de ponto de partida para que
Said tecesse os fios ligando a construção e o desenvolvimento da
disciplina à aquisição de vastas possessões coloniais no Oriente
pela Inglaterra e França, países que sediavam os centros
orientalistas. Chama a atenção a coincidência entre o conteúdo do
trabalho dos acadêmicos e a prática política dos governos da
França e Inglaterra nas terras estudadas. Constata-se o modo nada
inocente como o orientalista percebia e classificava seu objeto. O
orientalismo, como o define Said, é um “estilo de pensamento”,
um modo de pensar o Oriente que ajudou a subordiná-lo através do
conhecimento enviesado produzido sobre ele e que deu ao Ocidente o
poder de ditar o que era significativo sobre “o outro”,
classificá-lo junto com outros de sua espécie e colocá-lo “no
seu lugar”.
Ao
desvendar a construção do Oriente como uma entidade abstrata, Said
destaca o caráter totalitário e essencialista desta construção. E
de modo algum pretende construir um outro conceito de Oriente (nem
muito menos um outro Ocidente), em substituição. Sua intenção é
se insurgir contra esta forma de pensamento totalitário, que toma
conjuntos humanos distintos, complexos, heterogêneos, formados por
países, povos, e nações históricas individualizadas e procura
lidar com eles na forma de uma totalidade homogênea. Para Said, não
existe uma essência do Oriente assim como, também, não existe uma
essência do Ocidente. Estas construções serviram para mascarar uma
relação desigual que marcou historicamente o relacionamento entre
alguns países da Europa “adiantada” com países da periferia do
capitalismo.
A
atualidade da análise de Said confirma a idéia de que o
imperialismo não acabou, não se tornou “passado” com os
processos de descolonização e a desmontagem dos impérios
clássicos. Os vínculos entre antigas colônias e antigas metrópoles
continuam a demandar atenção especial e o papel de superpotência
desempenhado pelos Estados Unidos, hoje, mostra que, apesar do novo
arranjo nas linhas de força, o imperialismo continua a ser o traço
marcante das relações Norte-Sul. E essa situação mantém a
necessidade ideológica de consolidar e justificar a dominação em
termos culturais, como tem sido o caso desde pelo menos o século
XIX. Segue-se que o papel primordial dos intelectuais dentro e fora
das universidades, tanto do Norte quanto do Sul, é resistir a essa
ideologia que disfarçada de “conhecimento” objetiva deturpar
para mais facilmente subordinar os povos que, nas palavras de Conrad
retomadas por Said, “possuem uma compleição diferente ou um nariz
um pouco mais achatado”.
Texto de Ligia Osório Silva.
Comentários
Postar um comentário
Gostou dessa matéria? Deixe seu comentario.