Economia catarinense desacelera e marca entrada da crise no Estado

Atualmente a economia no estado passa por um cenário de desaceleração econômica (cresce, mas cada vez menos), influenciada pela realidade econômica nacional e internacional. Dados disponíveis no Boletim de Indicadores Econômicos-Fiscais, de fevereiro de 2015, da Secretaria da Fazenda do Governo Estadual, indica que a “previsão de crescimento do PIB estadual de 2014 desacelerou gradativamente ao longo do ano, situando-se atualmente em 2,4%. Em junho, a mesma previsão era de 3,3%”.

O indicador que serve tradicionalmente como uma aproximação do PIB é o IBCR-SC, medido pelo Banco Central. O índice estadual variou no estado positivamente 4,3% em 2013 e 2,8% em 2014. No país, onde o índice se chama IBC-Br, houve variação de 2,5% em 2013 e de -0,2% em 2014. O que confirma a tendência do quadro atual onde a economia local consegue manter seu crescimento superior à economia brasileira, mas desacelerando.

Também no varejo os indicadores não são bons e mostram a desaceleração econômica no estado. Segundo o relatório do governo estadual, “o volume de vendas do comércio varejista ampliado desacelerou ao longo do ano passado, encerrando o ano com alta de 1,4%, o segundo pior resultado anual desde o início da série em 2005 (1,3%). Ainda assim, na mesma comparação, o indicador em nível nacional, caiu 1,7%”.

É importante ponderar que dentro desse cenário estadual existem ainda muitas desigualdades entre os diferentes setores econômicos, com uns já em queda, outros desacelerando e outros ainda crescendo bem. Os setores que tiveram bons resultados no estado ano passado foram os setores de serviços e da agropecuária, segundo dados disponíveis no Boletim do Governo Estadual mencionado acima. O setor de serviços, embora também esteja desacelerando, foi o de melhor desempenho, crescendo a receita em 9% em 2014. A agricultura cresceu a produção em 5,2% e a pecuária cresceu a produção em 7,6%.


Os principais pontos de fragilidade da economia catarinense

Os principais pontos de fragilidade da economia catarinense localizam-se na indústria e nas exportações. Principalmente por essas vias, que a crise econômica internacional e que a crise do modelo econômico nacional baseado na exportação das commodities e em incentivos financeiros e fiscais às grandes empresas, vai impondo cada vez mais seu ritmo à economia estadual.

Segundo dados da FIESC a indústria catarinense registrou queda na produção física de -2,2% ano passado, quando comparado ao acumulado do ano de 2013, com queda detectada em 8 dos 12 setores industriais pesquisados. Os que mais caíram foram a metalurgia com queda de -11,8%, a produção de metal (exceto máquinas e equipamentos) com queda de -8,1% e as máquinas, aparelhos e materiais elétricos com queda de -7,4% em 2014. As vendas da indústria caíram -1,2% ano passado quando comparada ao ano anterior.

Em janeiro deste ano já temos o dado disponível da produção industrial. Na comparação entre janeiro de 2015 com janeiro de 2014 tivemos queda de -8%. Nos acumulado de 12 meses de fevereiro de 2014 a janeiro de 2015 a produção retraiu -2,7%, aumentando a queda nessa base de comparação em relação a dezembro, que foi de -2,2%.

No entanto, a geração de empregos industriais ainda vem se mantendo. No bimestre jan-fev de 2015, quando comparado a jan-fev de 2014, tivemos um aumento de 1,3% no estoque de empregos na indústria em geral. Porém, o saldo líquido de emprego apresentado na indústria em janeiro de 2015 foi menor do que o apresentado em janeiro de 2014 e de 2013 e o saldo líquido de emprego apresentado em fevereiro de 2015 foi menor do que o apresentado em fevereiro de 2014, de 2013 e de 2012, registrando a desaceleração na geração de empregos.

Já as exportações estão estagnadas desde 2011. Desde então as exportações catarinenses não conseguiram superar o valor alcançado em 2011, apesar do pequeno crescimento de 3,44% obtido em 2014, quando comparado com 2013. As importações subiram mais que as exportações, ampliando o déficit comercial para US$ 7 bi. A taxa de crescimento das importações foram de 8,39% ano passado.

No dado que mede as exportações no bimestre jan-fev/2015, em relação ao mesmo bimestre do ano passado, tivemos queda de -2,63% das compras dos EUA, de -14,51% da Argentina, de -27,19% da China, de -27,26% da Holanda e de -31,84% do Japão. Apenas do México as compras subiram nesse último período entre os 10 principais países compradores, com um pequeno acréscimo de 1,27%.


O impacto do cenário nacional e internacional na economia catarinense

A tendência mais geral negativa da indústria local reflete bastante o desempenho da economia brasileira e internacional. Houve forte queda nos investimentos na economia nacional no ano passado. O PIB brasileiro de 2014 que registrou apenas 0,1% de crescimento veio acompanhando de uma queda de 4,4% na formação bruta de capital fixo (aquele investimento em máquinas, equipamentos e construção civil). Há seis trimestres consecutivos que temos quedas no investimento. Enquanto isso, o consumo das famílias brasileiras desacelerou muito. Em 2014 o crescimento do consumo das famílias foi de apenas 0,9%, sendo que cresceu em média 4,3% de 2003 a 2013.

O aprofundamento da crise na Argentina, a desaceleração na China, a moderada recuperação na economia norte-americana e a incerteza ou crise que permeia as demais economias imperialistas vem impondo uma dinâmica negativa no comércio exterior local, que conta com grande peso de produtos industrializados. Isso tudo influencia diretamente também na produção e nas vendas da indústria catarinense e impõe o atual cenário já com indicadores depressivos na indústria.

A atual alta do dólar deve ajudar o setor exportador a esboçar alguma reação, tanto a nível nacional como a nível regional. Olhando mais de perto o nosso estado, que é o foco das nossas preocupações, vemos que os números comparativos entre os bimestres de jan-fev de 2015 e de 2014 ainda são fortemente negativos com queda de -11,38% no valor exportado. Mesmo assim a queda não impede que algumas empresas instaladas no estado, que são grandes exportadoras, possam ganhar em rentabilidade devido aos contratos serem normalmente fechados em dólar e elas poderem obter mais reais com a subida do câmbio. O que ainda vemos acontecer no setor agroindustrial, por exemplo, com grandes empresas do setor mantendo grandes investimentos.

Mas é importante assinalar que uma permanência da alta do dólar também traz contradições para as grandes empresas exportadoras dentro de um prazo mais amplo. Ela pressiona o aumento da inflação e as perdas com as importações de algum tipo de insumo ou máquina e equipamento que as empresas precisem, tendendo a apagar ou diminuir mais a frente os ganhos obtidos da mera depreciação cambial do real. A grande burguesia, desse modo, deve continuar a atacar muito o padrão de vida da classe trabalhadora para poder garantir suas margens de lucro e deve continuar a exigir dos governos muitas regalias para poderem continuar lucrando cada vez mais.


Os trabalhadores e a juventude não podem pagar pela crise

Neste momento grandes ataques se insurgem contra os trabalhadores. A burguesia catarinense e o governo de Raimundo Colombo podem ainda se dar ao luxo de não falar abertamente em crise econômica no estado, pois este não é o quadro da economia local neste momento, caso levemos apenas em conta a frieza dos dados. Mas eles sabem que a dinâmica econômica mais geral do país está se impondo sobre a economia local, e não o contrário, ou que qualquer voo independente é impossível.

Com isso não queremos fazer um discurso catastrofista e mecânico. Devemos é estar atento a todas as desigualdades do processo econômico e as suas especificidades, mas também devemos prestar atenção em sua totalidade mais geral e em seu caráter combinado. O fundamental é o alerta de que as atitudes que vem sendo tomadas até agora indicam um comportamento preventivo por parte da burguesia local e de seus representantes na política.

Ataca-se a classe trabalhadora preventivamente e agem em sintonia com o governo de Dilma e do PT, com o Congresso Nacional e com a oposição de direita liderada pelo PSDB. Trabalham juntos pela aprovação no Congresso Nacional do PL 4330, a nova contrarreforma trabalhista, assim como festejaram as medidas provisórias 664 e 665 da presidente Dilma Rousseff que atacaram o seguro-desemprego e outros direitos sociais. Medidas que vão rebaixar salários e direitos. Agora, sob o manto do ajuste fiscal e da Lei de Responsabilidade Fiscal, atacam os serviços públicos.

Nesse sentido, é que Raimundo Colombo tenta atacar o magistério estadual neste momento e prepara novos ataques como a Reforma Administrativa, a Reforma Previdenciária e a privatização da Casan. Mas o desfecho dessa história não está pré-determinada. Ela será definida na arena da luta de classes. Os governos, seja a nível municipal, estadual ou federal, realizarão duros ataques e tentarão criminalizar duramente as lutas quando tiverem a oportunidade. Não podemos ter qualquer ilusão quanto a isso.

A atual greve do magistério fez Colombo recuar na MP 198 contra os professores temporários, sendo um exemplo de que a nossa classe pode se levantar e combater os efeitos da crise mais geral, que vai se impondo na economia brasileira e os primeiros sinais dela que vão surgindo na economia catarinense. Precisamos unificar as lutas dos trabalhadores que acontecem hoje, como a dos trabalhadores do judiciário estadual, dos agentes prisionais, dos servidores públicos federais, da classe operária e do conjunto dos movimentos da classe trabalhadora na perspectiva da construção de uma grande greve geral para derrotar o plano econômico dos governos e patrões!

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Referências

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Balança Comercial de Santa Catarina - Dezembro de 2014. Disponível em: http://fiesc.com.br/sites/default/files/medias/balanca_dezembro_2014.pdf. Acessado em: 10/04/2015.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Balança Comercial de Santa Catarina - Fevereiro de 2015. Disponível em:http://fiesc.com.br/sites/default/files/medias/balanca_fevereiro_-_2015_3.pdf. Acessado em: 10/04/2015.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Produção industrial - Dezembro de 2014. Disponível em: http://fiesc.com.br/sites/default/files/medias/producao_industrial_dezembro_2014.pdf. Acessado em: 10/04/2015.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Produção industrial - Janeiro de 2015. Disponível em: http://fiesc.com.br/sites/default/files/medias/producao_industrial_janeiro_2015_0.pdf.  Acessado em: 10/04/2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Contas Nacionais Trimestrais - Outubro/Dezembro de 2014. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Fasciculo_Indicadores_IBGE/pib-vol-val_201404caderno.pdf. Acessado em: 15/04/2015.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores IBGE - Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (PIMES) - Dezembro de 2014. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Industrias_Extrativas_e_de_Transformacao/Pesquisa_Industrial_Mensal_de_Emprego_e_Salario/Fasciculo_Indicadores_IBGE/pimes_201412caderno.pdf. Acessado em: 10/04/2014.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Indicadores IBGE - Pesquisa Industrial Mensal Produção Física Brasil - Dezembro de 2014. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/Industrias_Extrativas_e_de_Transformacao/Pesquisa_Industrial_Mensal_Producao_Fisica/Fasciculos/Fasciculo_Indicadores_IBGE_Brasil/pim-pf-br_201412caderno.zip. Acessado em: 10/04/2015.

INVESTIMENTO mostra queda inédita de seis trimestres. COPPEAD UFRJ. Disponível em: http://www.coppead.ufrj.br/pt-br/coppead/na-midia/1270/. Acessado em: 10/04/2014.

SETORES que 'seguraram' PIB de 2014 têm perspectivas de queda. BBC BRASIL. Disponível em: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150327_analise_pib_rm_jc.  Acessado em: 10/04/2014.

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