Nota de repúdio às agressões machistas de um estudante de contra duas companheiras militantes do PSTU

No último sábado (17) aconteceu a festa de integração das estudantes de Serviço Social, chamada CervejaSSO. No meio da confraternização, um caso lamentável ocorreu envolvendo uma pessoa trans, que agrediu verbalmente e intimidou de forma agressiva, com dedos na cara, gritos e jogando cerveja, duas companheiras do PSTU. Uma das companheiras, na ocasião, estava identificada como militante através de um adesivo, quando o estudante se dirigiu a ela gritando coisas como “você e sua organização estão por aí defendendo macho” (referindo-se às mulheres trans). Quando a outra menina interveio para defender sua companheira - que nesta altura estava chorando -,  ele então disse que ela deveria calar a boca e não se meter porque ela “chupa pau”. Depois que ela se defendeu ele jogou um copo de cerveja em seu rosto.

Recentemente, o estudante publicou uma nota de retratação pedindo desculpas pela agressão e reprodução do machismo contra duas mulheres. Entretanto, acreditamos que essa retratação foi parcial. O motivo da agressão foi que nossas duas militantes defendem mulheres trans na luta contra a transfobia e o machismo. Em nenhum momento da nota ele se retratou por ter usado, de forma pejorativa, o termo "macho" para referir-se às mulheres trans.

As opressões dividem o movimento. Isso fica evidente na postura do estudante, que tentou se utilizar da reprodução do machismo e da transfobia para fazer com que as nossas militantes deixem de lutar a favor dos direitos das mulheres trans. Infelizmente, essa é a mesma postura que o feminismo radical tem tomado em diversos lugares, defendendo que há um antagonismo entre a luta contra o machismo e a luta contra a transfobia, e que as mulheres trans devem lutar contra a própria opressão de forma isolada. O machismo faz das mulheres, cis e trans, suas vítimas todos os dias. Não podemos aceitar que sob a bandeira do feminismo “radical” se façam novas vítimas.

O caso não é um fato isolado. Há muito na UFSC a discussão sobre a identidade de gênero tem transposto a discussão teórica e acadêmica e se tornado violenta; em muitas ocasiões intimidando mulheres cis ou transgêneras. O capitalismo é um modelo econômico degradante, que atinge toda a sociedade. E sabemos que, em qualquer construção de uma identidade de gênero, sofremos inúmeras pressões. Para as mulheres isso significa a exigência da feminilidade, da submissão e de uma série de ideologias. Já para serem compreendidos como tal, muitos homens trans reproduzem vergonhosamente atitudes consideradas masculinas, como a agressividade, por exemplo. Portanto, o machismo, quando direcionado às mulheres, torna-se mais grave. E isto não pode ser aceito! Os homens em geral, cis ou trans, tem o dever de rever os privilégios que possuem na sociedade capitalista (no caso dos homens trans, privilégios esses que só acontecem quando há a passabilidade cis, ou seja, quando uma pessoa trans passa sem ser identificada como tal perante a sociedade).

Numa sociedade em que não se é garantido o direito à identidade de gênero, nós marxistas revolucionárias, combatemos toda forma de opressão como um princípio.

Nós do PSTU entendemos que não é possível lutar pelo socialismo enquanto um setor da população continua oprimido e marginalizado. Nossa tarefa é denunciar cada injustiça, cada desigualdade que existe em nossa sociedade! E neste cenário somos duramente contra qualquer forma de transfobia e machismo. Atitudes como esta ajudam na divisão do movimento de combate às opressões e não podem ser aceitas, pois só fortalecem o capitalismo e sua dura exploração e opressão sobre nós mulheres. A fórmula é simples: defendemos todas as identidades de gênero e achamos que todas as pessoas devem ser respeitadas por aquilo que se identificam e por qual seja sua orientação sexual, mas sem nunca usar como ferramenta a agressão e a reprodução do machismo.

Por meio dessa carta queremos nos direcionar às companheiras estudantes do curso de Serviço Social e a todas as mulheres trans ou cis da universidade e dizer que, no que depender de nós, o machismo e a transfobia não passarão. A festa era composta e organizada por um curso majoritariamente feminino e esta agressão deve ser duramente repudiada porque agride a todas nós mulheres. Entendemos que é urgente nos colocarmos ao lado das mulheres e homens trans da classe trabalhadora, já que só assim será possível a construção de um mundo livre de opressão e exploração.


Juventude do PSTU Florianópolis

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