Temporada de verão: turismo para quem?
Todos os anos, a história se
repete: quando vai esquentando a temperatura, os moradores de Florianópolis
sentem um misto de alegria e preocupação. É normal que com a chegada do verão,
principalmente no período de festas e férias escolares, muitos de nossos
familiares e amigos marquem uma visita, um passeio, uma temporada aqui em
Florianópolis. As famílias preparam as suas casas, se organizam para acomodar
bem suas visitas, várias compram ventiladores extras, e... torcem. Torcem para
que neste ano, não falte água na virada. Torcem para que o trânsito não
inviabilize os passeios. Torcem para que os preços da comida, da bebida, do
lazer enfim, não aumentem muito. E continuam se decepcionando.
Esta situação hipotética, muito
comum, é apenas ilustrativa de como a população de Florianópolis sente-se com a
chegada da temporada. Nossa cidade, tão linda, com tantas praias, é um destino
de sonhos para tantas pessoas que esperam o ano inteiro pela chance de ir à
praia. No entanto, a cada ano que passa, os problemas que enfrentamos o ano
inteiro ficam mais latentes na temporada de verão, quando a superlotação
acontece. Não estamos com isso dizendo que não queremos turistas em
Florianópolis, ou mesmo que não é possível, mas sim que a estrutura oferecida é
escassa, insuficiente e prioriza o turismo de elite.
No dia 15 de dezembro de 2013, o
jornal Diário Catarinense divulgou uma pesquisa em que Florianópolis é
classificado como o quarto melhor destino do Brasil para turistas[1].
Os motivos mencionados para esta classificação são principalmente as belezas
naturais e a característica tranqüila da cidade, sem as desvantagens comuns a
cidades maiores. No entanto, o que se vê cada vez mais é estas desvantagens
fazendo parte de nossa rotina (como o caos no trânsito, a dificuldade de deslocar
– seja por transporte individual ou coletivo, mas principalmente por transporte
coletivo, a destruição da Natureza a favor de grandes empreendimentos
imobiliários, etc), que, gradativamente, tornam Florianópolis uma cidade
inviável. Concretamente: inviável a quem não pode pagar mais caro.
A notícia de que os hangares de
Santa Catarina estão lotados por falta de vagas para aviões privados no
Aeroporto Hercílio Luz é um exemplo caricatural desta mudança que se vem
operando no público-alvo da cidade[2].
Pagando preços exorbitantes, nos bairros e praias mais caros e famosos, pouco
se sente efeitos como falta d’água, caos no trânsito ou a lotação nas praias e
demais espaços públicos. A avaliação que temos é a de que esta alta nos preços,
a falta de investimento em serviços públicos de lazer e infraestrutura de
qualidade são apenas parte de um caminho rumo à segregação social em curso em
nossa cidade.
Enquanto os turistas hospedados
nas praias ‘badaladas’ do norte da ilha contam com uma estrutura de banheiros,
espreguiçadeiras, piscinas com vista para o mar, dentre outras facilidades, a
população que acessa estas praias de ônibus enfrenta a falta de horários, a
superlotação, a ausência de chuveiros e banheiros e os preços exorbitantes dos
bares e restaurantes localizados nas praias. Em dias de chuva, vira notícia a
superlotação de shopping centers[3],
evidenciando também a falta de atividades culturais e de entretenimento, como
alternativa à praia que, - por enquanto – é pública.
Nós defendemos uma cidade acessível
a toda a população, com serviços que funcionem durante todo o ano,
intensificadas na temporada de verão. Praias realmente limpas e livres de
poluição causada por empreendimentos aprovados sem qualquer critério ambiental
e social sério, com uma estrutura sanitária mínima de banheiros e chuveiros
para os banhistas que necessitam se deslocar até suas moradias ao final do dia.
Um deslocamento digno, feito por um transporte público com oferta de horários e
veículos condizente com as necessidades do período. Em suma: um turismo menos
predatório, menos elitizado. Queremos uma Florianópolis realmente turística e
acolhedora para toda a população, principalmente os trabalhadores!
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